04/03/2007

A aboborificação de miles Davis

Hoje, atendendo aos apelos de João Luiz, eu publicarei fragmentos do discurso de Garibaldi, o velho fundamentalista do jazz, sobre aquele que, para ele, é puro produto de marketing. Eu não concordo com a totalidade da afirmativa garibaldiana, mas é impossível negar que o camarada soube, como ninguém no mundo do jazz, explorar a sua imagem. Trata-se do aloprado Miles Davis. Para Garibaldi, em seu livro intitulado "A aboborificação de Miles Davis", (que ninguém tem notícia até hoje) é necessário "desmistificar o bruto, desendeusá-lo, trazê-lo de volta ao seu tamanho natural como figura do segundo escalão do jazz, que pra mim ele não passa é disso. Pra mim, ele está abaixo de Louis Armstrong, de Duke Ellington, de Coleman Hawkins, de Lester Young, de Charlie Parker, de Dizzy Gillespie, de Thelonious Monk, de Charlie Mingus. Esses são os gigantes: os inventores, os fundadores, os criadores, os inovadores em sentido amplo. Miles Davis está no mesmo nível de Benny Goodman, de Count Basie, de Lennie Tristano, de Dave Brubeck, de Gerry Mulligan, de John Coltrane e de Ornette Coleman. Está entre os que também contribuíram, mas em escala menor, pra evolução do jazz, ou até pra contravolução do jazz, no caso de alguns deles". E Garibaldi prossegue desancando o velho Miles: "No entanto, quem foi Miles Davis? Tentemos uma síntese: como instrumentista, foi um trompetista que capitalizou suas limitações técnicas; como inovador, um músico que introduziu no jazz o estilo modal, que, como o nome indica, foi mais um modismo que um estilo; como revolucionário, um oportunista que, mais que nenhum outro, despiu o jazz de sua identidade, ao travesti-lo com a roupagem do rock. Apesar dessa trilogia de pesares, é ele quem vai se tornar o mais famoso músico de jazz do século. Como explicar um paradoxo desses?" Bem, quem quiser saber o resto da opinião do mordaz crítico acesse o site http://www.estacaocapixaba.com.br/ e entre no canteiro de obras, que lá está todo o relato devidamente registrado, em estilo bastante literário, pelo patrono Reinaldo Santos Neves.

As pedradas podem ser deixadas, sem piedade, nos comentários.

5 comentários:

Anônimo disse...

Esse camarada é doido! Botar Coltrane no segundo escalão é uma tremenda bobagem, quanto ao Miles, pode levar pra casa.

John Lester disse...

Amigos argonautas, muito cuidado com essas pessoas que escrevem bem. Elas podem fazer com que você corte a própria garganta com muita satisfação.

Reinaldo Santos Neves é um desses perigosos escritores. Ele nos faz compreender porque Umberto Eco afirma, em seu Tratado Geral de Semiótica, que "uma linguagem que não serve para mentir, não serve para dizer a verdade".

JL.

Salsa disse...

A rede é assim: um emaranhado de informações - prontas, às vezes, para te levarem a lugar nenhum.

Anônimo disse...

É verdade, Vinícius, Garibaldi resoveu babar o ovo de um camarada que, efetivamente, apesar do tal retorno às raízes, eu acho bastante chatinho.

John Lester disse...

Bem, eu só posso falar por mim: acho que John Coltrane está entre os maiores músicos do jazz. Jazz naquele sentido carnal, sedutor, original, onde você reconhece o escravo pelo seu canto. Poucos músicos geniais possuem aquele "canto" personalíssimo, inalienável: Louis Armstrong, Lester Young, Charlie Parker, Thelonious Monk, Warne Marsh, John Coltrane e alguns outros. Acredito que ter voz própria no jazz é um elemento muito significativo. Miles, embora tocasse muito mal em andamentos rápidos (ele errava nitidamente e, em algumas passagens mais ligeiras, chegava a assobiar quando o ar escapava da embocadura), tinha seu "canto" e creio que ninguém pode lhe retirar esse mérito. O resto é fofoca de corredor.

JL.