03/06/2010

Jazz Movies - Parte 3

Antes de prosseguirmos em nossa aventura audiovisual, seremos obrigados a efetuar pequenas retificações em nossa resenha anterior, Jazz Movies – Parte 2. Na oportunidade, havíamos olvidado de incluir três filmes na ordem alfabética correta: 033) Dynasty: The Jackie McLean Quintet - 1989 - Triloka - Memorável sessão gravada ao vivo e lançada também em CD, apresentando excelente desempenho desse vigoroso mestre do sax alto. Com Jackie estão seu filho Rene (f, ts), Hotep Idris Galeta (p), Nat Reeves (b) e Carl Allen (d). 034) Eastwood After Hours - 2001 - Warner Home Entertainment - Tributo ao ator e diretor Clint Eastwood, amante confesso do jazz. Gravado ao vivo no Carnegie Hall em 17 de outubro de 1996, sob a direção de Jon Faddis, a exclente banda conta com a presença de músicos consagrados, entre eles Roy Hargrove, Charles McPherson, Flip Phillips, James Carter e Joshua Redman. No repertório, clássicos do swing e do bebop, muitos deles utilizados em filmes de Clint, como Misty, Satin Doll, Take Five, 'Round Midnight e Cherokee. Não bastasse sua competência como ator e diretor, Clint ainda atua ao piano em dois temas, Parker's Mood e CE Blues. 035) Eddie Jefferson: Live from the Jazz Showcase - 1990 - Rhapsody - Em 7 de maio de 1979, dois dias antes de ser morto a tiros, Jefferson preservou em filme boa quantidade de temas que lhe trouxeram a fama. Considerado o fundador do vocalise no jazz, Jefferson não possuía grande voz, o que não o impediu de tornar-se um dos mais importantes cantores do jazz. Entre os músicos que o acompanharam no Jazz Showcase de Chicago, vale destacar a presença do saxofonista Richie Cole.


Pois bem, citadas retificações já foram devidamente alocadas na resenha Jazz Movies – Parte 2, permitindo-nos, assim, prosseguir em nossa belíssima jornada pela arte dos irmãos Lumière. Conforme confessáramos anteriormente, estamos tratando inicialmente de curtas, vídeos, documentários e shows, deixando os filmes propriamente ditos, daquele tipo que assistimos no cinema comendo pipoca, para uma etapa final.

É isso: 044) A Great Day in Harlem & The Spitball Story – 1997 – Image Entertainment – Não serão muitos os amantes de jazz que desconhecem a clássica fotografia (clique sobre a foto para ampliá-la) que Art Kane tirou em 1958 para a revista Esquire, reunindo 57 músicos de jazz diante de um prédio de apartamentos no Harlem. Certas vezes chego a supor que mais incrível que a fotografia propriamente dita foi o terrível esforço de manter unida e imóvel aquela considerável quantidade de músicos absolutamente rebeldes e inquietos. Mas isso foi no tempo em que o cigarro não era politicamente incorreto. É justamente essa a estória contada por Jean Bach neste excelente documentário, para isso contando com a ajuda de músicos que fizeram parte dessa memorável fotografia. Já o divertido curta Spitball Story procura esclarecer o pitoresco episódio em que Dizzy Gillespie é demitido da banda de Cab Calloway por ter atirado bolinhas de papel no líder. Pura diversão. 045) GRP All-Star Big Band – 1992 – GRP Video – Curiosamente bem sucedida reunião de astros do selo GRP, sob o comando do pianista Dave Grusin, à época um dos proprietários do selo. Embora a maioria dos músicos represente estilos como o Crossover e o Latin Jazz, os resultados são excelentes números próximos ao Hard Bop dos anos 1960, com a presença de instrumentistas de primeira linha, como Randy Brecker, Arturo Sandoval, Nelson Rangell, Eddie Daniels e Kenny Kirkland. 046) Gypsy Guitar: The Legacy of Django Reinhardt – 1992 – Shanachie – Excelente tributo ao genial Django, com entrevistas, performances e participações de músicos como Bireli Lagrene, Jimmy Rosenberg e Serge Krief interpretando alguns dos grandes sucessos do mestre. 047) Harlem Roots Vol. 1: The Big Bands – 1988 – Storyville – A Storyville reuniu em sua série Harlem Roots alguns dos melhores Soundies, curtas musicais produzidos na década de 1940 pela PBS para serem veiculados através de vídeo jukeboxes denominados Panoram. Neste volume 1 temos excelentes momentos das bandas de Duke Ellington, Cab Calloway e Count Basie, onde podemos verificar as performances de músicos consagrados, como Ivie Anderson, Ben Webster, Rex Stewart, Barney Bigard, Jonah Jones, Ike Quebec, Tyree Glenn, Jimmy Rushing, Buck Clayton, Don Byas e muitos outros. 048) Harlem Roots Vol. 2: The Headliners – 1988 – Storyville – Mais uma excelente coletânea de Soundies, dessa vez com performances de Fats Waller, Louis Armstrong e Louis Jordan, todos contando com o auxílio de mestres como Al Casey, Sid Catlett ou Eddie Roane.

049) Harry Connick, Jr.: Swinging Out Live – 1991 – Sony – Embora alguns críticos de jazz o considerem apenas um bom ator, é inegável a competência de Harry como pianista, sobretudo em seus improvisos repletos de blues. Dos seus diversos vídeos disponíveis, esse é sem dúvida o melhor. Com Harry estão 16 músicos, com destaque para o guitarrista Russell Malone. 050) Herbie Hancock: Future2Future – 2002 – Columbia – Show gravado no Knitting Factory de Los Angeles, bastante recomendável para os apreciadores do estilo Fusion elaborado nas décadas de 1970 (ver Headhunters) e 1980 (ver Miles Davis). Embora Herbie toque piano acústico durante a maior parte do show, a música apresentada está repleta de funk, R&B e música eletrônica, contando inclusive com um DJ regendo alguns toca-discos (turntables). Destaque para a participação do trompetista Wallace Roney. 051) Horace Parlan by Horace Parlan – 2000 – Image Entertainment – Embora tenha tido a mão direita sinistrada por uma poliomielite na infância, Parlan tornou-se um dos melhores pianistas do Hard Bop, tocando com músicos como Charles Mingus e gravando para selos como a Blue Note. Radicado na Europa desde a década de 1970, Parlan executa uma série de duos neste interessante documentário, ao lado do contrabaixista Jimmi Pedersen. Um memorável caso de êxito proporcionado por sua generosa mão esquerda. 052) Imagine the Sound – 2000 – Janus Films – Documentário realizado em 1981 por Ron Mann e Bill Smith, a partir de entrevistas e performances de quatro relevantes músicos do estilo denominado Avant-Garde Jazz: Cecil Taylor, Archie Shepp, Bill Dixon e Paul Bley. Imperdível para os amantes do Free Jazz e do jazz de vanguarda. 053) Jaco Pastorius: Modern Electric Bass – 1985 – Embora seja um vídeo didático, qualquer admirador de Jaco poderá apreciá-lo, seja estudante de contrabaixo ou não. Entrevistado pelo contrabaixista Jerry Jemmott, Jaco explica sua forma de tocar, além de realizar algumas performances em duo e em trio, uma delas com 20 minutos de duração. 

054) Jazz – A Film by Ken Burns – 2000 – PBS Home Video – Incluímos este vídeo em nossa lista não porque o consideramos recomendável, mas para alertar o ouvinte iniciante: há uma série de documentários muito mais relevantes, quer em termos históricos, quer em termos musicais, disponíveis no mercado. Em suas 19 horas de duração, permeadas com belas fotografias e filmes, observamos uma série de falhas imperdoáveis num projeto dessa envergadura. A principal delas é que não há nenhuma performance musical completa, seja porque o narrador não para de falar, seja porque Wynton Marsalis faz suas observações sobre o músico ou o estilo, ao longo de toda a longa jornada. Chegamos ao cúmulo de ver e ouvir Wynton imitar ao trompete o estilo do lendário trompetista Buddy Bolden, músico que Wynton nunca ouviu tocar, que nunca gravou e que passou os últimos 24 anos de sua vida internado num hospício. Não bastasse isso, ao longo do documentário Wynton ‘canta’ mais tempo do que Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Dinah Washington reunidas! Outra imperdoável falha do extenso documentário é não fazer nenhuma referência a músicos fundamentais do jazz, tais como Django Reinhardt, Oscar Peterson, Stan Kenton, Wes Montgomery, Albert Ayler, Woody Shaw, Chick Corea, Keith Jarrett e muitos outros. Aliás, ficamos com a impressão de que, para Ken Burns, o jazz foi construído exclusivamente por negros (ele só dá destaque para dois músicos brancos: Bix Beiderbecke e Benny Goodman), que foi feito exclusivamente por norte-americanos e que terminou com o Bebop – estilos como o Soul Jazz, o Latin Jazz, o Free Jazz e a Fusion são solenemente esquecidos por Burns. Além disso, há diversos dados incorretos, como quando Burns afirma que o primeiro encontro entre Gil Evans e Miles Davis foi em 1949, ou quando afirma que foi o sucesso de Count Basie que salvou o jazz da péssima influência de Glenn Miller, quando na verdade Basie já era famoso dois anos antes de Miller atingir o sucesso. Sendo assim, a maior utilidade deste documentário é embelezar a estante, com seu bem acabado box contendo 4 DVD’s.

055) Jazz Alley Vol. 1 – 1999 – Storyville – Em 1968 o pianista Art Hodes apresentou em Chicago uma série de programas de rádio, executando uma boa leva de standards do jazz tradicional. Acompanhado por músicos como Jimmy McPartland e Doc Evans, Hodes interpreta números como St. James Infirmary, Once in a While e Wolverine Blues. Essencial para os amantes do Dixieland. O Jazz Alley Vol. 2 é igualmente atraente e conta com a participação de grandes mestres do trad jazz, como George Brunies e Bud Freeman. 056) Jazz at the Smithsonian: Alberta Hunter – 1982 – Kultur Films – A excelente série Jazz at the Smithsonian apresenta algumas performances de importantes músicos do jazz e do blues, sempre precedidas de uma breve entrevista e intercaladas com pertinentes e concisos comentários de Willis Conover. Aos 87 anos, dois anos antes de sua morte, Alberta Hunter nos brinda com um espetacular desempenho, repleto de energia, blues e swing. Outros volumes altamente recomendáveis da série Jazz at the Smithsonian são: Bob Wilber, Joe Williams e Red Norvo. 057) Jazz at the Top: Remebering Bix Beiderbecke – 1995 – Rochester Area – Especial para a televisão produzido pela PBS em 1976. Reunião de músicos que conheceram Bix, entre eles Joe Venuti, executando uma série de números associados ao legendário trompetista. 058) Jazz Band Ball – 1993 – Sanachie – Indispensável DVD, reunindo 16 dos mais importantes clips de jazz produzidos nas décadas de 1920 e 1930. Aqui temos a oportunidade de ouvir músicos e bandas fundamentais, como a Dorsey Brothers, Duke Ellington, Boswell Sisters e Louis Armstrong.

059) Jazz Casual: Dave Brubeck – 2000 – Rhino – Dos inúmeros DVD’s da série Jazz Casual, programa televisivo originalmente apresentado por Ralph Gleason na década de 1960, este é sem dúvida um dos melhores. Com seu quarteto mais famoso, formado por Paul Desmond, Eugene Wright e Joe Morello, Brubeck executa uma boa seleção de seus sucessos, entre eles Take Five. Dos outros 12 DVD’s disponíveis da série Jazz Casual, são também altamente recomendáveis os de John Coltrane e Sonny Rollins. 060) Jazz Festival Vol. 1 – 1999 – Storyville – Em 1962 a companhia de pneus Goodyear mandou produzir uma série de curtas de jazz, para apresentação na televisão e nos cinemas. Neste volume o estilo predominante é o Dixieland, onde excelentes performances incluem músicos como Louis Armstrong, Eddie Condon, Wild Bill Davison e Bobby Hackett. Já o Volume 2 beneficia o Swing, com apresentações de Duke Ellington, incluindo Ray Nance, Paul Gonsalves, Johnny Rodges e Harry Carney, entre outros.


Para os amigos, fica um clip do preguiçoso amigo Count Basie, único músico a aparecer na fotografia de Kane sentado na calçada.

11 comentários:

Érico Cordeiro disse...

Quem, além do excelso capitão John Lester, ousaria dizer que "a maior utilidade deste documentário é embelezar a estante, com seu bem acabado box contendo 4 DVD’s"?
Master Lester, a sua verve está incontrolavelmente afiada. As semanas passadas na Catalunha foram bastante proveitosas!
Abraços discordantes!

PREDADOR.- disse...

Como disse mr.Cordeiro "a maior utilidade deste documentário de 4 Dvd's é embelezar estantes". E só!

John Lester disse...

Prezado amigo Predador, creio que quem fez tal afirmação foi eu mesmo, no item 054. E, até onde compreendi, Mr. Cordeiro discorda de minha opinião.

Grande abraço, JL.

pituco disse...

master lester,

documentários, via de regra, são maçantes...muito depoimento e cenas rápidas do que se está a relatar...por isso são documentários...não é isso?

abraçsons pacíficos desse lado de cá

John Lester disse...

Prezado Mestre Pituco, obrigado pela visita. E bem por isso tenho tentado recomendar documentários que, em sua grande maioria, são repletos de performances completas, com muita música e pouco papo.

Estive em seu blog, mas, como sabe, minha religião veda audição de vocalistas, exceto Billie Holiday. Nem mesmo Elis constitui exceção.

Grande abraço, JL.

Salsa disse...

Devo confessar que muito raramente assistos os filmes. Sou chegado em ouvir a música com os olhos fechados. Reparei que fecho os olhos até quando eu toco.

Internauta Véia disse...

Good job, Mr. Lester!
Gosto muito de documentários (deste naipe, claro!), e o sr. está fazendo um belíssimo trabalho!

Bom seria poder assistir alguns deles, nestes dias de inverno, tomando um vinhosinho, com um queijinho...Aí tb. já é querer demais...!
Parabéns!

Internauta Véia disse...

E o clip é uma beleza...bom demais ver a expressão e o jeito dos músicos tocar, a alegria e a admiração do apresentador...muito, muito bom! Amei!

APÓSTOLO disse...

Prezado JOHN LESTER:

Belíssima resenha, com farto material para desfrute, consulta e incontáveis horas de beleza, qualidade e muito, muito JAZZ !
Melhor impossível.

figbatera disse...

Que beleza...

Anônimo disse...

Porque ñ houve apresentações deste tipo nesta copa????As raizes desta maravilhosa musica ñ são africanas?
Pq os afroamericanos fizeram tanto, impressionando até os melhores musicos europeus e nos deram deixaram tudo isso?
È uma pena que ñ seja valorizada e divulgada.
Parabens pelos presentes tao especiais q o Sr. nos oferece.