Tem uma palavrinha em inglês que eu considero a mais apropriada para ser usada no contexto jazzístico: play. Quando alguém toca jazz, creio eu, conjuga em seu ato, além do tocar, o brincar e o jogar. A brincadeira jazzística, seja solo, seja grupal, permite ao músico a possibilidade de realizar aquele velho sonho infantil de brincar até não agüentar mais. As notas, as sonoridades, os timbres, os silêncios são as partes de um brinquedo que se arranjam/são arranjadas de acordo com as regras que emergem do próprio brincar. A maioria dos professores de música costuma dizer que depois de conhecermos as escalas, devemos esquecê-las. Regrinha básica para não afundar nas convenções da relação harmonia/escala. Esquecer as convenções para recriá-las no calor da brincadeira. Obviamente, as crianças vão crescendo e tornando a brincadeira um jogo mais intrincado que, se se mantém como brincadeira, acaba sepultando aquele espírito prazeroso lúdico infantil. A lápide do brincar, às vezes, é uma bela lápide. Faz-nos até esquecer o defunto. Recentemente (ano passado), por exemplo, foi lançado um disco que foi bastante festejado e que eu também gostei: I have the room above her, de Lovano, Frisell e Motian. A sonoridade é acolhedora como um quarto quente numa noite fria, mas há algo nele que nos faz esquecer a vontade de brincar para, contemplativos, lembrarmo-nos de lugares ermos da alma. O aspecto musical denota a capacidade dos meninos brincarem com as regras do jogo A supressão do baixo deixa ao baterista o encargo de segurar todo o ritmo (Frisell e Lovano passeiam pelas trilhas calçadas com algumas pedras raras lapidadas por Motian).
Esse não é um disco que eu ouço em qualquer momento (ouço muito pouco, aliás). Alguns temas lembram-me aquelas tristes toadas sertanejas (Odd man out, p.e., e, lá no final, a guitarra de Frisell soa perfeitamente como uma viola sertaneja), outros são delicadas canções de ninar (se bobear, você é nocauteado). O clima introspectivo inicial (bem ao gosto da ECM) pode afugentar alguns ouvintes, mas se você resistir os primeiros vinte e tantos minutos até que rola uma quebradeira (mas aí pode ser tarde e a menina que have the room under their pode ter decidido mudar para outro prédio). Sacanagens a parte, é um disco que merece ser ouvido, mas eu não vou colocar nenhuma faixa no meu Gramophone. Como a rapaziada diz por aí: "é para consumo próprio, sêo guarda".
Esse não é um disco que eu ouço em qualquer momento (ouço muito pouco, aliás). Alguns temas lembram-me aquelas tristes toadas sertanejas (Odd man out, p.e., e, lá no final, a guitarra de Frisell soa perfeitamente como uma viola sertaneja), outros são delicadas canções de ninar (se bobear, você é nocauteado). O clima introspectivo inicial (bem ao gosto da ECM) pode afugentar alguns ouvintes, mas se você resistir os primeiros vinte e tantos minutos até que rola uma quebradeira (mas aí pode ser tarde e a menina que have the room under their pode ter decidido mudar para outro prédio). Sacanagens a parte, é um disco que merece ser ouvido, mas eu não vou colocar nenhuma faixa no meu Gramophone. Como a rapaziada diz por aí: "é para consumo próprio, sêo guarda".
Ok, Ok, o problema foi resolvido e a faixa já está no Gramophone by Salsa
9 comentários:
Tortura nunca mais!
Coloque já alguma fixa aí Mr. Salsa. Ou você pretende transgredir o Regulamento Jazzseen?
Nada como acordar as 4 da madrugada e ouvir Jazzseen...
Delícia.
Joe Lovano já partcicipou de coisas menos "reformistas". procure e charás.
Consumo próprio é o escambau!!!
Passa a bagana aí maluco!!!
Pôxa, Salsa, depois desse texto tão legal, vc. vai deixar todo mundo na mão? Nananinanão! Também quero!
Que sacanagem!
Pô, gente, é que eu ganhei uma cópia em cdi: as faixas não estão separadas e eu não sei como separá-las. O Lester me passou umas coordenadas para resolver o problema. veremos como fica.
lESTER , a salvação da lavoura!
O Salsa com seus cd's é igual criança com seus brinquedos...
Afff!
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