22/07/2006

Não há caos sem disciplina

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A característica mais marcante do free jazz é não possuir nenhuma característica marcante. Pegue todos os músicos que criaram e produziram música nesse estilo e tente enumerar ao menos uma. Podemos tentar dizer que quase todos os músicos desse estilo pregavam a liberdade musical absoluta: na verdade isso nunca ocorreu. Toda obra do free jazz possuía e ainda possui uma cota mínima de ordem e disciplina. Somente muitos anos mais tarde, com o que veio a se denominar free improvisation, é que algo dessa natureza foi tentado. Ainda assim, alguns limites mínimos à liberdade persistem, ditando a elaboração daquilo que se costuma chamar de game rules. Ou seja, John Zorn e alguns outros concluíram que, para se atingir o caos, precisamos de severa disciplina. Apesar da aparente liberdade que a música de Julius Hemphill possa nos transmitir, há nela uma lógica rígida e bastante coerente: esse compositor e mestre do sopro conseguiu evoluir dentro do intrigante mundo da liberdade vigiada, associando ao passado recente um conjunto de propostas novas, onde as regras do jogo poderiam, elas mesmas, ser alteradas durante o desenrolar do jogo. Coisa de gênio? Sim, acredito que Julius representa uma parcela considerável daquilo que melhor se produziu na esteira do free jazz. 

Infelizmente nos deixou muito novo, com tanto fôlego para criar e tantas idéias por conceber. Numa singela homenagem, deixamos ali no Jazzseen Salad – acima, à direita – uma pequena mostra do trabalho original desse gigante do free. A faixa The Hard Blues, composta por Julius, foi retirada do álbum The Hard Blues: Live In Lisbon, gravado em agosto de 2003, com Marty Ehrlich (ss, as), Sam Furnace (ss, as), Andy Laster (as), Aaron Stewart (ts), Alex Harding (bs). Boa audição!

5 comentários:

Anônimo disse...

Não troco dez Julius por um Getz.

Salsa disse...

Pô, Lester, que dureza, hein? Mas esse grupo pelo menos tem alguma coisa de apreciável. Pouco, mas tem.

Salsa disse...

O pop do sexmob me atraiu mais.

Salsa disse...

...Apesar de não ter conseguido divisar a House of the rising sun. Tem o mesmo título da canção dos Animals...

John Lester disse...

Esse tema é do grande Laedbelly, um bluseiro da antiga que, por ficar em cana 30 anos, praticamente manteve imutável seu blues cantado ao violão. Gente boa o cara.