13/07/2006

O elogio da loucura

Possuídos, emissários dos deuses, visionários ou simples e modernamente insanos "internáveis" (de acordo com a perspectiva médica), as criaturas que se encaixam no perfil da loucura, grosso modo, foram e são causa das transformações que atingiram a face da terra. A Loucura deu as asas a Ícaro, o fogo a Prometeu, a bravura a Aquiles. Naquela época, convencionou-se chamá-la de Hybris ou, como queiram, Desmesura. Aqueles loucos sempre foram motivos para poemas. Nossos loucos, por sua vez (alguns deles, pelo menos), nos deram e ainda nos dão poesia, música, matemas, o riso do gato. Muitos entre os músicos que aqui tiveram alguns dos seus trabalhos comentados carregam essa marca. São homens e mulheres que habitam o limiar e se autorizam a trafegar por campos interditados ao homem comum. Nós, reles mortais, amarrados com os grilhões do mundo ordenado e sagrado, assistimos à cena com um misto de admiração e repulsa. Hoje, para não mudar o assunto, escreverei sobre um disco que conta com a participação de um músico que em 1967 foi diagnosticado esquizofrênico: Tom Harrell. Diagnóstico que pela força da verdade científica se enraizou na sociedade como sinônimo de agressividade, improdutividade e impotência (daí a citada repulsa). O camarada está mais produtivo do que nunca (visitem a sua página na web e constatem). Pois bem, lá está ele ao lado do trio liderado por Jim Hall (Steve LaSpina no baixo e Joey Baron na bateria) no disco These rooms, gravação de 1988, tecendo suas frases como um bordado de desenhos simples e cativantes. Deixarei para os curiosos duas faixas: uma com estrutura mais moderna (Cross court) e outra com linguagem clássica (Where or when) para vocês se deleitarem.

14 comentários:

Anônimo disse...

Ele já gravou com todos os representantes do jazz contemporâneo. O seu trabalho é significativo. Acho que a piração abateu sobre esse músico no disco Wise children. Juntaram uma orquestra, um monte de cantoras, e som ficou pífio. Loucura não é garantia de genialidade. Vide aquele disco de Monk (outro maluco de carteirinha)com orquestra. Não rolou sintonia.

Salsa disse...

Eu tenho o Wise children. É, realmente, ruim. Teve gente que deu três estrelas. Vale, no máximo, duas. Mas eu não conheço nenhum músico que tenha toda a discografia interessante.

Anônimo disse...

Eu acho que o elogio à loucura fica bonitinho em literatura ou filosofia. Mas, convenhamos, maluco é um pé no saco. Esses caras todos, Monk, Parker, Pres apenas se fingiam de malucos para suportarem a realidade. No fundo eles eram mais lúcidos que todos nós reunidos.

Salsa disse...

Prezado sonâmbulo, o elogio de Erasmo não é "bonitinho". Trata-se de um texto que exalta a possibilidade e a necessidade de romper com a ordem estabelecida (não é à-toa que foi dedicado a Morus). Aqueles que ousam nesse caminho pagam um preço tremendo. Ser reconhecido como "pé-no-saco" é uma pequena parcela do seu destino e assinala a possibilidade que Lester disse em comentário anterior: serve como mais uma justificativa para isolá-los em hospícios. Ao destacar, no meu texto, a produtividade de Harrell, sou injusto com a Loucura, pois, para a ordem vigente, você pode até ser louco desde que produza alguma coisa socialmente aceita (fazer o dever de casa e tomar o remedinho - qualquer derrapada o leva de volta à jaula). Nâo acredito também que eles faziam suas obras apenas para "suportar a realidade", antes, creio eu, elas são a expressão de suas realidades. Harrell e os outros por você citados têm a capacidade de transformar a dor em algo esteticamente viável para os nossos ouvidos. Ao fazê-lo, porém, propiciam espaço para comentários sobre o "fingimento" do artista. Mas, parafraseando o poeta, se alguns "loucos" fingem a dor que realmente sentem, isso não torna a dor menos doída.

Anônimo disse...

A voz do Sonâmbulo é parecida com a do Zé da Silva.

Anônimo disse...

O dia amanheceu animado! Mas essa estória de gostar de maluco é como aquela de colocar 20 elefantes dentro de um quarto e sala e, depois de um ano, quando retirados, verificamos que nosso ap é imenso. Experimente conviver com um esquizofrênico um ano. Se você não for esquartejado com uma navalha, poderá ver como a sanidade é uma delícia.

Anônimo disse...

Eu adoro maluco hehehe

Beijo amor.

Anônimo disse...

Ser esquizofrêncico não é pré-requisito para ser assassino. Sacanagem com os malucos.

Anônimo disse...

Claro que não é pré-requisito mas que ajuda, isso ajuda. Já conheci alguns esquizofrênicos e, tenho que confessar, a convivência é extremamente desgastante na maioria das vezes. Prefiro lidar com sãos.

Anônimo disse...

LINEU, VC. ESTÁ SEMPRE SÒZINHO?

Anônimo disse...

Chega de papo-furado e vamos ouvir o cara tocando. Tá ali no gramophone.

Anônimo disse...

Nada como ouvir o jazzseen as 3 da madrugada...

Delícia.

Anônimo disse...

Bom dia! Alguém tem um dizepan aí???

Salsa disse...

Ô, Lester, e a feijoada? Estou de jejum há um mês....