
O
Garibaldi chegou ao
Bar do Henriq cantarolando "você sabe o que é ter um amor, meu senhor?" e, sem dar tempo para o próximo verso, emendou outra: "Você não sabe amar, meu bem, nem sabe o que é o amor...nunca sofreu". Antes que iniciasse a terceira, eu interrompi a cantoria: que é isso, camarada? Não sabia de seu interesse pela mpb... Bobagem, esses são nossos
standards, disse ele semi-grave.
Se eu tocasse, gravaria esses temas. E prosseguiu variando o assunto: Você já reparou como os poetas têm a desfaçatez de dizer que sabem o que é o amor? Corja de mentirosos. Desde que o mundo é mundo tem chovido um festival de conversas fiadas sobre o dito cujo. Até nosso presidente
Reinaldo, vez e outra, se presta ao papel de mistificar a relação amorosa. Mas, dentre os mentirosos, eu prefiro o maior de todos:
Ovídio. Tenho tudo (em latim, inclusive), e sacou da bolsa o livro
Poemas da carne e do exílio e presenteou-me. Isso é puro jazz, disse-me. Pergunte ao
Lester a origem da palavra
jazz. É pura sacanagem. Amor leve e solto, como aquele apregoado por
Eros. Olha só:
At nuper bis flaua Chlide, ter candida Pitho / Ter Libas officio continuata meo est; (E há não muito, sem interrupção, dei duas na loura Clide, três na branca Pito e três em Libas). Pode? Haja fôlego! Variando novamente o tema,
Garibaldi diz: encontrei uma velha paixão:
Gene Ammons. Estava lá, abandonada na estante: a gravação de uma sessão de
1958 com os bam-bam-bans da época (ele fazia isso para a
Prestige de vez em quando).

Sabe quem está lá tocando
sax alto? Antes que eu dissesse que não sabia ele disse:
John Coltrane. É curioso ouvi-lo quando ainda não estava completamente insano (
Garibaldi não gosta de
Coltrane). Quem também estava na sessão era o baritonista
Pepper Adams, além do tenorista
Paul Quinichette e do flautista
Jerome Richardson. A cozinha estava aos cuidados dos chefes
Mal Waldron (piano),
George Joyner (baixo) e
Art Taylor (bateria). Mais do que rápido ele tirou uma cópia do cd de um envelope pardo e disse: ouve e põe uma faixa no seu
gramophone. Do jeito que chegou, saiu: cantando (com um risinho no canto da boca
): looove for sale...
7 comentários:
Pra mim Cândida era um bichinho que dá uma coceira desgraçada no Pito...
Vai saber!
nâo tinha ouvido nem ovídio. Muito bom, ambos.
Nada como acordar e ouvir o Jazzseen...
O Garibaldi não gosta da fase "astral" (é assim que ele fala dos últimos discos de Coltrane).
Coltrane é tão poderoso que até mesmo aqueles que não gostam de sua música sentem-se na obrigação de explicar o porque. Constrangimento? Talvez.
Esse disco é arretado de bom. Vale uma constelação.
A seleção do Lester no Gramophone está simplesmente maravilhosa. Músicas suaves, que agradam até mesmo aos ouvidos menos entendidos de jazz.
O Blog está ótimo,
Um grande beijo,
Postar um comentário