Acabei de ler outra coletânea de contos. Dessa vez o autor era alemão: E. T. A. Hoffmann, muito criticado por Goethe e Schiller, seus contemporâneos. São apenas três contos reunidos sob o título Contos fantásticos (150 páginas). O primeiro, O vaso de ouro, o mais longo, é uma impressionante malha de imagens que pode ser lida como uma alegoria do ato da escrita. Ao lê-lo, não pude deixar de pensar nas telas de Brueghel e/ou Bosch. Acrescente-se que, já na época (início do século XIX), o autor utilizava recursos literários extremamente valorizados pelos escritores atuais, como aquele em que o próprio escritor torna-se personagem (alterando, inclusive, a dicção da narrativa) num jogo que reduz os limites entre a ficção e a realidade conseguindo, normalmente, confundir o leitor. Os outros dois contos são os clássicos Os autômatos e O homem de areia, usado por Freud para trabalhar o conceito de unheimlich (termo que une o estranho e o familiar) que, grosso modo, pode ser entendido como aquele momento breve em que a realidade parece falsear diante dos seus olhos. A música que eu ouvi, no entanto, não chega a ser tão imagética e fantástica quanto o texto de Hoffmann, mas tem algumas variações dignas de uma boa peça orquestrada. Embora eu não seja um ouvinte contumaz de big bands, cedi à curiosidade e peguei uns discos de Thad Jones e Mel Lewis para conferir. Ouço agora Consummation, considerado um clássico por alguns críticos. Lembro-me de quando eu ouvi A child is born pela primeira vez (interpretada por Rollins e Hall) e fiquei enternecido com a sua suavidade: a impressão não se altera ao ouvi-la arranjada para orquestra. Outro tema bem bom é Tiptoe. Curioso, para mim, foi observar a inserção do baixo e do teclado elétricos acentuando a nota “moderna” nos temas Us e Ahunk Ahunk (aquela pegada soul-funk-jazz balançante). Fingers, logo na seqüência, retoma a linguagem bop numa mandada que, com certeza, deu trabalho aos dedos dos músicos. Sem nenhum grilo: gostei da banda. Deixarei uma faixa no Gramophone by salsa.
4 comentários:
O livro eu dispenso mas a música é das boas.
O livro tem letras grandes.
O livro eu pulo.
Também dispenso o livro diante qualquer trabalho de Thad Jones & Mel Lewis. Sou fã e recomendo qualquer outro fã dividir a consumação com Marco Antônio Grijó, especialista da TJ&ML Big Band.
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