
Diverti-me duplamente: li uma pequena coletânea de contos
Chesterton, com o seu fantástico personagem detetive e padre
Brown, e ouvi
J. T. Meirelles e Copa Cinco. O escritor inglês conseguiu construir um personagem que a cada passagem destila uma dose de sutil ironia (com aquele gostinho do humor negro britânico) sobre o homem e sua civilização. Este foi-me apresentado pela nossa biblioteca ambulante e presidente do clube das terças, o digníssimo e de barba feita
Reinaldo. Já os três discos do
Meirelles (O som, Novo som e
Samba jazz)
, eu os ganhei de
Acir Vidal (editor do blog
contraovento).
J. T. Meirelles é um dos heróicos personagens da música instrumental brasileira. Repito aqui o que ouvi de testemunhas sobre a sua postura séria em relação à música e à vida pública (e, como fontes respeitáveis que são, eu não negarei suas palavras): é heróico por conseguir manter alguns princípios básicos e fundamentais em ambas as esferas. Pois bem, quando a “redentora” ditadura militar instalou-se no nosso Brasil varonil,
Meirelles deveria (isso é uma suposição) estar no
Beco das garrafas, bucólico sítio boêmio do
Rio de Janeiro, erguendo barricadas com a sua música. Talvez até estivesse tocando alguns dos temas que ele gravou, à época, no disco
O som, um marco na música instrumental brasileira. O samba-jazz executado por
Meirelles e Copa Cinco é um totem e um farol: merece reverência e é um guia para as gerações que surgiram depois do seu lançamento (especialmente para aqueles que tiveram contato com essa obra, pois, como sempre, ficou restrito às mãos de uns poucos felizardos que compraram ainda em vinil. É nesse momento que a gente tem que tirar o chapéu para figuras como o jornalista
José Domingos Raffaelli, que, de certo modo, ensejou Meirelles a retomar a sua música ao convidá-lo para tocar nuns lances jazzísticos, em
2000, no Rio, fato que propiciou aos filhos da ditadura, eu entre eles, a conhecer a sua musicalidade exemplar). Parênteses fechados, retornemos ao
Copa Cinco: o piano de
Luis Carlos Vinhas, a bateria do consagrado
Dom Um Romão e o baixo de
Manuel Gusmão associados aos
sopros de
Meirelles produziram uma estrutura musical sólida como poucas vezes nós temos oportunidade de encontrar nesse mundinho cão. Deixarei a faixa
Blue Bottle’s no
Gramophone by Salsa para o seu deleite.
11 comentários:
E os outros dois?
São bons, também.
Curioso que na época saiu junto o Você Ainda Não Ouviu Nada, com Sergio Mendes e o Bossa Rio, arranjos de Eumir, com Costita, Maciel, Raulzinho, Tião e Edson Machado, outra obra prima. A turma então adolescente discutia qual seria o melhor. A Down Beat comentou os 2 na mesma edição(Pete Weddind, ou semelhante)O Som ganhou 1 estrela e meia e o Bossa Rio três e meia estrelas. Hoje, são ambos 5 estrelas, pelo que representaram.
Meirelles merecia ter gravado mais e melhor. Mas, tá valendo. O blog tem se mostrado esforçado: por isso sua nota passa a ser 6,5.
Esse povo toca com meirelles no O novo som
Olá! Adorei seu blog Salsa. Ótima oportunidade para conhecer mais de jazz. Abraço!
Valeu a visita. Depois eu apareço lá no seu sítio.
Prezadoi Rogério,não sei se as estrelas são só pelo que representaram. Ouça o disco. à época, talvez fosse complicado avaliar o trabalho do grupo. Hoje, distanciados, podemos perceber a força do trabalho do grupo. Os ianques talvez quisessem preservar o território da inevitável invasão. Tanto que, hoje, chegam a afirmar que o jazz mudou para a europa.
Bons tempos do Beco das Garrafas, muita gente boa começou ali...Saudade!
Salsa, na época a torcida era pelo O Som, por isso a então decepção.Ouvimos ininterruptamente por 40 anos esses sons e, hoje, vc pode perceber que, então, o Bossa Rio era realmente mais maduro e o Copa 5 mais emoção, mais engatinhando. Pôxa, que discussão boba. Ouça Salvador enquanto isso.Ou Zé Bodega. Ou Cipó.Ouça Luiz Americano.
Foi com esses discos que praticamente eu "nasci" para a música; despertaram em mim a vocação e o gosto musical por esse estilo que até hoje venero.
Postar um comentário