29/08/2006

The oracle

Estou ouvindo mais um membro da família Jones: o Hank. Ali está ele: um monolito. Um monolito versátil pra caramba (no caso, isso é possível). O disco The oracle une, através da elegância arrojada do nosso pianista, a batida de Billy Higgins e a pulsação do baixo de Dave Holland num trajeto que pode surpreender ao mais exigente jazzófilo. É impressionante a capacidade de alguns músicos manterem-se sempre up to date - e Hank Jones é um deles. Do alto dos seus setenta anos (quando gravou esse disco - em 1989) parece olhar para o mundo com olhos que capturam aquelas nuances sutis que nós, incautos, nelas costumamos tropeçar e xingá-las sem perceber do que se trata. Hank, não. Ele desafia-nos a percorrer novos caminhos. Às vezes, é aquele mesmo que estamos percorrendo e nem nos damos conta: parece nos dizer "ouça isso com um pouco mais de atenção e você se surpreenderá". O jazz de Hank tem esse lance de conjugar a sutileza com a ousadia e, nesse disco, ele nos oferece um oráculo. Para ele - o oráculo - não existe uma resposta inequívoca, antes, é uma infinidade de possibilidades, e Hank nos convida a percorrê-las. E eu estendo o convite a vocês: tá ali no Gramophone by Salsa: um presente para os navegantes comemorarem comigo os quarenta e sete anos que hoje consolido.

4 comentários:

John Lester disse...

Parabéns, saúde e felicidades ao amigo. A capa do disco já é um presente em si. O som vou ouvir mais tarde.

JL.

Anônimo disse...

Parabéns, Salsa, tudo de bom para vc.

Anônimo disse...

Salsa, você sabe que Garibaldi, João Luiz Mazzi e eu temos a mesma opinião sobre Hank Jones: um grande pianista até os anos 60, com um estilo que chamamos de "picadinho", construído sobre notas homeopáticas de extremos bom gosto e precisão; depois disso, por exigências do mercado ou da "evolução" do jazz, tentou mudar de estilo e perdeu a identidade: tornou-se igual a todo mundo.
A faixa Blues for CM (Charles Mingus?), porém, redime um pouco aos meus ouvidos o velho Hank. Pena que o que começou tão bem tenha acabado tão mal, com um longo solo de bateria de Billy Higgins, naquela detestável linha de "baterismo melódico": os caras têm a pretensão de "contar uma história" na percussão. É tão chato como romance do nouveau roman francês.
De passagem, ouvi Buddy Rich com Harry Edison, que merecem nota 10 pelo forte swing despretensioso, e também curti Thad Jones com o magnífico acompanhamento de Charles Mingus.
Costumo gostar de Duke Jordan, mas o baterista escandinavo, tocando ainda por cima em ritmo de marcha, foi demais pra mim: saí de fininho.

Salsa disse...

Um porém: ele não ficou igual a todo mundo: todo mundo ficou igual a ele (e mais alguns pianistas que são referências).