29/12/2006

Steve Lacy plays Thelonious Monk

O sax soprano é um instrumento que requer cuidados especiais quando usado. O som metálico e agudo pode facilmente se tornar ríspido. Eu já tive dois (não eram nenhuma brastemp); e eu pude sentir a aura indômita e, em alguns momentos, a doçura que esse instrumento pode propiciar. Steve Lacy, que agora ouço, é um músico que sabe usar tanto o lado selvagem quanto o suave do soprano. Lacy, pelo que parece, é um admirador confesso da obra de Monk (há pouco tempo comentei sobre outro disco do qual ele participou - Regeneration - que também conta com alguns temas do genial pianista). O disco Reflections (de 1958) pode soar estranho para aqueles que estão acostumados a ouvir os tenores de House, Rollins e Coltrane como os sopros dos grupos de Monk, mas é uma impressão que se supera após algumas audições. Gostaria de destacar o bom trabalho do pianista Mal Waldron, que consegue manter vivo o espírito monkiano em suas harmonizações e solos. O baixista Buell Neidlinger faz um trabalho também bastante consistente, aliado à performance ainda contida de Elvin Jones (que na maior parte do disco se mostra um excelente condutor para os temas). Recomendo sem titubeios. Para não perder o hábito, deixarei duas faixas no Gramophone by Salsa.

5 comentários:

John Lester disse...

Grande álbum!

Anônimo disse...

A "cozinha" é muito boa, mas o som do sr. Steve Lacy é "chocho", não se arrisca a uma nota mais ousada, a um improviso sequer, seguindo sempre o fio da linha melódica. Horrível. Voce toca melhor que ele, Mr.Salsa, podes crer.

Anônimo disse...

Concordo com Mr. Mazzi. Eu tive esse cd, encomendado ao Valcir Vieira ali da velha e saudosa Digital Discos quando ainda ficava no Centro, ao lado da Dadalto, que ainda nem Dadalto era, mas Mesbla.

Quando ouvi, fiquei tão decepcionado com a sem-gracice que devolvi pro Valcir e não sei quem foi o aventureiro que ficou com ele.

Acho que ninguém pode, impunemente, ter o soprano como único instrumento, num casamento monogâmico. O fish-horn serve mesmo é pro músico de vez em quando dar uma namoradinha com ele, dando descanso ao instrumento principal. É o caso de grandes saxofonistas como Lucky Thompson, John Coltrane, Zoot Sims, Budd Johnson, Luiz Salsa Romero, etc. Sidney Bechet parece que só tocava soprano, mas isso foi nos albores do jazz, não conta.
Fui.

Anônimo disse...

Ainda por cima isso: o sax soprano, pelo que parece, nasceu para ser o biscate, a outra, a filial, a amázia, a relação extra-muros, o picirico, a rapidinha pra fugir da rotina. Como toda boa amante, se se torna a principal se torna a principal e, portanto, deprimida, será uma coisa triste e rancorosa no papel de primeira-dama. Creio eu que a culpa não é do instrumento: se ele tem a verve putanesca, deve ser tratado como tal, aí ele será feliz. Não acho, porém, que Lacy é tão sem-graça assim, a ponto de deixar o soprano deprimido.

John Lester disse...

Que bom que alguém fuma maconha por aqui. Primeiro, e, talvez, por último, porque Bechet tocava era clarinete e, com ele, se tornou um mestre do jazz. Somente mais tarde e mais velho e precisando ser ouvido foi para o soprano, abandonando seu delicado instrumento principal. Por último, e, certamente, sem dúvida, esse é um dos melhores álbuns para quem pretende compreender a linha de continuidade do jazz. Uma linha que acompanha a invenção da máquina a vapor (clarinete), da luz elétrica (trompete) e da bomba atômica (saxofone). Repito: grande álbum, mas somente para orelhas generosas. E que saibam a que vieram.