Sem dúvida, o melhor guia que já coloquei em minha estante é The New Grove Dictionary Of Jazz, editado por Barry Kernfeld e publicado pela St. Martin’s Press, de New York (1ª edição, reimpressão de 1996). Além de ser o melhor, é o mais pesado: são mais de 1300 páginas grandes (21cm por 27,5cm), em papel de boa qualidade, trazendo mais de 4.500 verbetes, onde constam músicos, termos do jazz, instrumentos, estilos, clubes e festivais, selos e gravadoras. Apresenta ainda cerca de 1.000 referências cruzadas, o que dá estrutura racional ao dicionário, facilitando a conexão dos verbetes. Para completar, temos mais de 200 excelentes fotografias, coisa rara num guia, além de mais de 100 exemplos musicais sobre conceitos chave do jazz. É o guia que traz mais verbetes sobre músicos brasileiros de jazz. Como afirmou Dizzy Gillespie acerca do livro: “A must for every serious jazz lover”.
Outro excelente guia, embora menos sofisticado, é o All Music Guide To Jazz, editado por Bogdanov, Erlewine e Woodstra e publicado pela Backbeat Books, de San Francisco (4ª edição, 2002). São mais de 1.400 páginas de bom tamanho (18,5cm por 23cm), em papel bastante razoável, com mais de 1.700 verbetes sobre músicos. Sua principal qualidade é a apresentação de mais de 20.000 gravações (muitas delas comentadas) avaliadas em graus que vão de uma a cinco estrelas, orientando o ouvinte interessado em adquirir determinada obra. Destaque para as avaliações do crítico e escritor Scott Yanov, grande estudioso do Jazz. Além disso, o guia apresenta excelentes mapas sobre estilos e instrumentos, onde são relacionados os músicos mais importantes e significativos de cada um deles. Aviso importante: de edição para edição, tem acontecido de um mesmo álbum receber notas (avaliações) extremamente distintas. Assim, pode ocorrer de um álbum ser julgado com quatro estrelas numa edição e apenas uma estrela noutra, como ocorre, por exemplo, com o álbum Romantic Defiance, de Terence Blanchard. Lastimável.
O The Penguin Guide To Jazz Recordings, editado por Richard Cook e Brian Morton (estamos falando da oitava edição, publicada em 2006) é outro pesado guia, com mais de 14.000 álbuns resenhados. O petulante texto da contracapa informa que o Penguin já está firmemente estabelecido como o melhor guia de álbuns de jazz do mundo. Puro exagero. Há pelo menos duas falhas imperdoáveis em minha opinião: o Penguin simplesmente não cita nenhum álbum que esteja fora de catálogo, deixando, assim, de comentar álbuns importantes, o que leva o leitor de boa fé a manter-se desinformado. Outra deficiência são as ridículas biografias dos músicos. Exemplo: a biografia de Lisa Linn é "Fine Swedish singer." Contudo, como guia auxiliar, pode ser bastante útil, principalmente para os interessados nos músicos europeus, bastante mais citados aqui do que nos guias norte-americanos.
Deve ser lembrada a boa Virgin Encyclopedia Of Jazz, editada por Colin Larkin e publicada pela Muze, de Essex (1ª edição, revista e ampliada, 2004). São mais de 3.500 verbetes sobre músicos, conjuntos e gravações fundamentais. Traz também uma avaliação das gravações de cada artista, atribuindo-lhes notas de uma a cinco estrelas (embora não os comente, como o All Music Guide). São mais de 1.000 páginas de bom tamanho (18cm por 26cm), em papel bastante razoável. É um dos raros guias que trazem verbetes sobre os filmes mais importantes do jazz.
Outro guia clássico é a The Biographical Encyclopedia Of Jazz, de Leonard Feather e Ira Gliter, publicada pela Oxford University Press, de New York (1ª edição, 1999). Trata-se da conjugação atualizada das obras Encyclopedia Of Jazz, The New Encyclopedia Of Jazz e The Encyclopedia Of Jazz In The Sixties, todas de Leonard Feather, e The Encyclopedia Of Jazz In The Seventies, de Leonard Feather e Ira Gliter. Com mais de 3.300 verbetes, trata apenas de músicos, conjuntos e instituições, fazendo breves referências apenas às gravações mais significativas de cada músico. Com um estilo estranhíssimo (ela é toda escrita com abreviaturas), apresenta um rico arquivo esquematizado de informações sobre cada músico.
Na faixa de 800 páginas, temos dois bons guias: The Rough Guide To Jazz, editado por Ian Carr, Digby Fairweather e Brian Priestley, três músicos que, sem qualquer cerimônia, se auto incluíram no guia (estamos falando da primeira edição, de 1995). São mais de 1600 músicos, onde há uma indicação muito útil do que já está em cd e o que ainda está em lp. O outro é o Gramophone Jazz Good CD Guide, editado por Keith Shadwick para a revista Gramophone e para a famosa fabricante de caixas acústicas B&W. Apesar de modesto e objetivo, traz muita informação precisa e boa, além de fornecer uma indicação da qualidade de gravação de cada álbum.
Para aqueles que não podem ou não querem investir em guias pesados e dispendiosos semelhantes aos acima citados, todos com cara de dicionário, há obras menos amplas e mais baratas, todas muito boas, bem mais leves e de leitura mais linear e agradável, que podem servir de guia aos curiosos de plantão. Seriam elas:
BALEN, Noel. L’odyssé Du Jazz. 1ª ed. rev. e amp. Paris: Liana Levi, 1993. Trata-se de 767 páginas de livro texto que nos levam aos primórdios do jazz, desde o spiritual, o gospel e o blues até o free, a fusion e o que Balen denomina de “jazz universal”. Além de fatos históricos e fotos muito interessantes sobre cada um dos estilos e períodos do jazz, Balen faz várias resenhas sobre os principais músicos de cada estilo e suas gravações, com destaque para um capítulo dedicado aos músicos que ele chama de “les inclassables”. Por fim, há uma boa lista de cd’s organizada por estilo e músico. Excelente livro.
FORDHAM, John. Jazz on cd: the essencial guide. 3rd ed. London : Kyle Cathie Ltd, 1995. Com breves introduções sobre cada estilo do jazz, a maior parte do guia se dedica aos músicos (com resumo biográfico) e suas principais gravações (com interessantes comentários). Fordham dá destaque especial (quase a metade do livro) para o jazz produzido após 1960, que ele vasculha desde a fusion até a worldbeat. Bom livro.
GIOIA, Ted. The history of jazz. New York : Oxford University Press, 1998. Na verdade um minucioso livro texto sobre a história do jazz, tratando desde a sofrida africanização da música norte-americana até os gritos de liberdade proclamados pelo free jazz. Trata-se de um livro engajado e que não consegue entender a evolução do jazz sem perquirir as variáveis políticas e sociais que motivaram seu surgimento e sua evolução. O texto é todo costurado com os principais nomes do jazz e suas principais músicas (sim, Gioia prefere falar sobre faixas específicas e não sobre álbuns inteiros). O leitor precisa, assim, ser paciente para encontrar as referências sobre seu músico ou álbum predileto. Mas o valor do livro compensa essa busca. Por fim o autor estabelece uma longa lista das faixas (não dos álbuns) que considera os mais importantes do jazz, lista organizada por ordem alfabética de músico, com as respectivas datas em que foram gravadas. Excelente livro.
SZWED, John F. Jazz 101: A Complete Guide To Learning And Loving Jazz. New York: Hyperion, 2000. Um dos poucos guias que enfrenta a questão fundamental do jazz: elementos, formas e fontes, dando o devido relevo ao papel do ritmo, do tempo e dos acentos que fazem o jazz ser jazz. A sinceridade de John é colocada logo na primeira página, quando discute se o jazz é ou não a única forma de arte original que o EUA produziu. Recomendo sem ressalvas.
TESSER, Neil. The Playboy Guide To Jazz: a selective guide to the most important CDs and to the history of jazz. New York : Plume, 1998. Leve e muito agradável de ler, o livro vem desde o alegre estilo New Orleans até o “open all sides jazz”. Em cada capítulo o autor investiga a formação de cada um dos estilos do jazz, indicando seus principais músicos e suas mais importantes gravações. De quebra o autor se aventura a elaborar uma “coleção essencial de jazz”: uma relação de 50 cd’s que Tesser considera fundamentais para uma introdução ao jazz. Ótimo livro.
Para quem prefere um guia em português, as opções são consideravelmente reduzidas. Confesso que não conheço bem os guias em vernáculo. Contudo, poderia indicar sem compromisso os seguintes:
Arnaud, Gérald - Os Grandes Criadores De Jazz - Pergaminho, 1991
Bellest, Christian - Jazz - Papirus, 1989
Berendt, Joachin E. O Jazz Do Rag Ao Rock. Perspectiva, 1975
Carneiro, Luiz Orlando. Obras-Primas Do Jazz. 4 ed. Jorge Zahar, 1986
Chase, Gilbert - Do Salmo Ao Jazz - Globo, 1957
David, Ron - Jazz Para Principiantes - Objetiva, 1996
Francis, André - Jazz - Martins Fontes, 1987
Guinle, Jorge. Jazz Panorama. Agir, 1953
Karam, Sérgio. Guia Do Jazz. L&PM, 1993
Muggiati, Roberto - O Que É Jazz - Brasiliense, 1983
Pellegrini, Augusto. Jazz: Das Raízes Ao Post Bop. Códex, 2004
Stroff, Stephen - Descobrindo O Melhor Do Jazz - Ediouro, 1994
Cada um deles tem seus pontos fortes e fracos. O de Berendt, apesar da péssima tradução do título, é um clássico que trata da evolução do jazz desde o estilo New Orleans até o free jazz. Dos demais, enquanto guia, recomendo o de Sérgio Karam.
13 comentários:
Sinto que os bons tempos hão de voltar. Obrigado pela informativa resenha Mr. Lester.
Vou precisar de mais uma estante na biblioteca...
Grande Karam!
Excelente dica bibliográfica, Mr. Lester.Há também dois clássicos indispensáveis: A História do Jazz(The Story Of Jazz), de Marshall Stearns, Martins Ed., SP, 1964, e a bíblia dos anos 60, A História do Jazz (The History Of The Jazz), de Barry Ulanov, Ed. Civilização Brasileira, RJ, 1957. E quando sai a enciclopédia de André Gurgel ?
Prezado Rogério, conheço as duas obras e já iniciei a leitura. Assim que terminar, incluirei na listagem acima, com as devidas observações.
Dear Mr. Lester:
Obrigado pela recomendação do guia que escrevi há já longos 14 anos. Quem sabe um dia sai uma nova edição. E, por falar em guias, devo dizer que sou fã incondicional do Penguin: os caras são os mais divertidos de todos!
Grande abraço na turma aí de Vic Town e arredores.
Karam
Caro Lester
Ampliando a lista, título de colaboração, vão mais alguns títulos:
- A História do Jazz nos Palcos de Nova Iorque: Samuel B. Charters & Leonard Kunstadt - Ed. Lidador - 1964
- Os Mestres do Jazz: Lucien Malson - Ed. Arcádia (Portugal) - 1968
- O Velho Jazz: Günther Schiller - Ed. Cultrix - 1968
- Combo: oito histórias do Jazz - Rudy Blash - Ed. Cultrix - 1971
- Jazz: Das Raízes ao Rock - Lilian Erlich - Ed. Cultrix - 1977
- Gigantes do Jazz (Fascículos e LPs): Ed. Abril - 1980
- Jazz: Uma introdução - Luis orlando Carneiro - Ed. Artenova - 1982
- Elas também tocam Jazz: Luis Orlando Carneiro - Ed. Zahar - 1989
- Jazz ao Vivo: Carlos Calado - Ed. Perspectiva - 1990
- O Jazz Como Espetáculo: Carlos Calado - Ed. Perspectiva - 1990
- No Mundo do Jazz: Das Origens à Década de 50 - François Billard - Ed. Cia. das Letras - 1990
- História Social do Jazz: Eric J. Hobsbawn - Ed. Paz e Terra - 1990
- As Grande Orquestras de Jazz: George T. Simon - Ed. Ícone - 1992
- Jazz: A Autêntica Música Americana - James L. Collier - Ed. Zahar - 1995
- New Jazz: De Volta Para o Futuro - Roberto Muggiatti - Ed. 34 - 1999
- Os Caminhos do Jazz: Guido Boffi - Edições 70 (Portugal) - 1999
- Glossário do Jazz: Mário jorge Jaques - Ed. Papel Virtual - 2005
- Hear Me Talking To Ya (Depoimentos): Dover Publications (USA) - 1966
- Jazz Singing: America's Great Voices From Bessie Smith To Bebop And Beyond - Wil Friedwald - DaCapo Press (USA) - 1996
- Singing Jazz: The Singers nd Their Styles - Bruce Crowther & Mike Pinfold - Miller Freeman Books (USA) - 1997
- Un Siglo de Jazz: Roy Carr - Ed. Blume (Espanha) - 1999
- The Oxford Companion To Jazz: Bill Kirchner (ed.) - Oxford University Press (USA) - 2000
- Jazz On Film: Scott Yanow - Backbeat Books (USA) - 2004
É bom lembrar o seguinte:
1) As edições mais antigas em língua portuguesa estão, geralmente, esgotadas. Então, somnte poderão ser encontradas, com alguma dose de sorte, em sebos bem sortidos.
2) As edições estrangeiras são obtidas, geralmente, mediante encomenda, através de livrarias especializadas.
Saudações jazzísticas.
Olmiro V. Müller
Porto Alegre - RS
Detalhado, preciso , magnifíco, resenha de quem realmente aprecia e ama o jazz, mas não tanto de Bill Evans.Edú
Valeu Olmiro.
JL.
Estamos aí Mr. Karan.
Mr. Edú, quem és tu?
Prezado Olmiro,
tenho a maioria das obras que você relacionou. E pretendo, se o tempo me permitir, produzir uma bibliografia mais detalhada sobre jazz. A idéia da resenha foi apenas citar alguns GUIAS que entendo mais úteis ao ouvinte iniciante.
Obrigado pelas dicas.
JL.
Olá a todos!
O Edoardo Vidossich, pianista da São Paulo Dixieland Band, à época, também é um dos pioneiros na publicação de livros sobre jazz no Brasil, especialmente com:
- História do jazz e sua decadência, de 1957 ["decadência" aí já demonstra a postura do autor com relação às novidades]
- Jazz na garoa, de 1966
***
Para músicos, a obra Jazz Harmonia, do Hans J. Koellreuter, de 1960, também foi um marco no Brasil.
***
Outra obra de referência que sempre consulto é The Illustrated Encyclopedia of Jazz, de Brian Case, Stan Britt e Chrissie Murray, de 1986 (há uma meia dúzia à venda na Estante Virtual, hoje).
FouTourist
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