DUKE ELLINGTON (1899-1974) – Sem dúvida o maior líder de banda que o jazz já produziu. Duke era imbatível na arte de reunir músicos talentosos, extraindo de cada um deles suas melhores performances, investigando e revelando a melhor característica de cada instrumentista. Ao mesmo tempo, foi um mestre em recolher milhares de contribuições para suas composições, muitas delas escritas em parceria com seus músicos ou compostas exclusivamente por vários gênios musicais que Duke recolheu ao longo de sua extensa carreira, como é o caso dos trompetistas Bubber Miley e Cootie Williams, dos saxofonistas Johnny Hodgers e Ben Webster, do contrabaixista Jimmy Blanton e, principalmente, do pianista e compositor Billy Strayhorn. O aproveitamento de idéias musicais que Ellington fazia de seus músicos é tão constante e profundo que seria impossível identificar quais de suas composições são, de fato, provenientes exclusivamente de sua imaginação e autoria. A genialidade de Ellington reside, sobretudo, na sua capacidade inigualável de ouvir e agrupar. Partindo de diversos elementos folclóricos afro-americanos, do blues, do ragtime, da música clássica européia e – antecipando a world music em sessenta anos – da tradição musical latina e oriental, foi capaz de reunir com beleza original todos esses variados fragmentos musicais e construir composições e arranjos sob medida para cada um dos músicos de suas várias orquestras.
Poucas bandas, de jazz ou não, possuem um som próprio e imediatamente identificável. E pouquíssimas bandas de jazz possuem um som tão próprio, tão prontamente identificável e tão rico em influências musicais tão diversas quanto as bandas de Duke. Por isso muitos consideram que as bandas de Ellington possuíam um som único e inigualável, muitas vezes extrapolando os limites e padrões mais tradicionais do jazz, ora resvalando para o campo da música folclórica, ora, em algumas obras de maior envergadura, para o campo da música clássica. Incentivado pela família, que possuía dois pianos em casa, Ellington começou a estudar música aos sete anos e, aos dezessete, já tocava piano profissionalmente, muito influenciado pelos pianistas de ragtime. Foi autodidata em harmonia (que aprendeu com seu piano) e orquestração (que aprendeu compondo para suas bandas). Podemos mesmo dizer que seu verdadeiro instrumento era sua banda, que também servia de laboratório para suas pesquisas e experiências musicais, onde sempre era auxiliado pelas sugestões de seus músicos. Desse mosaico de influências variadas, surgem inusitadas sonoridades, timbres e tonalidades que formariam o que Billie Strayhorn chamou de “efeito Ellington”. Em 1923 parte com Elmer Snowden (lid, bj) e seus Washingtonians – Otto Hardwick (cl, as, bs, bbs), Artie Whetsol (t) e Sonny Greer (d) – para New York. Até 1927 esse grupo sofre alterações que resultarão na primeira banda de Ellington, com a troca de Snowden por Fred Guy (bj) e com a chegada de novos músicos, como Bubber Miley (t), Tricky Sam Nanton (tb), Rudy Jackson (cl, ts), Harry Carney (bs) e Wellman Braud (b). Nessa época algumas gravações já anunciavam, ainda que timidamente, a concepção sonora tão original de Ellington, insinuada em peças como East St. Louis Toodle-oo (com um solo espetacular de Bubber Miley) e Black And Tan Fantasy. No período que vai de 1927 a 1931, a banda de Ellington foi escolhida para ocupar o privilegiado e concorrido palco do Cotton Club, onde tocaria para divertir platéias brancas ávidas pela música negra. Foi um período de reestruturação da cultura negra, onde a integração das raças ainda se submetia ao esquema tradicional em que o homem branco entrava pela porta da frente e pagava para o menino negro fazer graça.
Embora deplorável em muitos aspectos, esse foi um período importante para o povo negro estabelecer com firmeza seus novos valores, elaborar seus novos sonhos e conduzir suas novas lutas de forma mais organizada e sólida. Sua banda era agora formada por uma dúzia de músicos selecionados a dedo, passando a contar com novas e fundamentais aquisições, como Barney Bigard (cl), Johnny Hodges (as), Freddie Jenkis (t) e Cootie Williams. São dessa época as mais de duzentas gravações realizadas por Ellington em New York, muitas delas no estilo denominado “jungle style” criado por Ellington e Bubber Miley, bem como a primeira apresentação da banda em filmes de Hollywood (Check And Double Check, de 1930). Com a gravação de Mood Indigo (1930), somente Louis Armstrong fazia sucesso comparável ao de Duke Ellington no mundo do jazz. Ellington alcança fama internacional como músico popular e, paralelamente, realiza suas primeiras incursões em projetos de maior envergadura, como Creole Rhapsody, Reminiscing In Tempo e Diminuendo And Crescendo In Blue. A década de 1932 a 1942 costuma ser considerada como a mais importante e criativa na carreira do maestro. Sua banda toca por todo os EUA e realiza excursões bem sucedidas à Europa. Em 1939 recebe três novos músicos em sua banda, fundamentais para seu sucesso: Jimmy Blanton (b), Bem Webster (ts) e Billie Strayhorn (arr, comp, p). São dessa época os sucessos Concerto For Cootie, Ko Ko e Cotton Tail. Em 1946 a orquestra de Ellington contava com dezoito músicos, entre eles Ray Nance (t, vln), Shorty Baker (t) e Jimmy Hamilton (cl). As diversas alterações de músicos que formavam a banda dificultaram a aplicação da fórmula bem sucedida que Ellington vinha utilizando até então para compor música ligeira, que consistia em compor baseado nas características específicas de cada um de seus solistas. Perdendo um pouco sua famosa sonoridade única, a banda prossegue em suas numerosas apresentações, destacando-se entre elas uma série de concertos anuais no Carnegie Hall (1943-1952). Nesse período, Ellington preocupa-se cada vez mais em ser reconhecido como músico sério, produzindo composições mais ambiciosas, como Liberian Suite, Harlem, Night Creature, Such Sweet Tunder, Suite Thursday e, sobretudo, a monumental obra Black, Brown And Beige, onde conta a saga do povo negro nos EUA através de sua música.
O advento do long playing incentiva Ellington a continuar perseguindo o reconhecimento para suas suítes com estrutura clássica, afastando-se perigosamente do ambiente musical popular que lhe granjeou tanto o sucesso quanto a fortuna obtida no passado. A partir de 1950, até o fim de sua vida, Ellington prossegue apresentando-se com sua banda pelo mundo, indo inclusive à Rússia em 1971. Produz trilhas sonoras (Anatomy Of A Murder, de 1959), grava com jovens músicos, entre eles John Coltrane, Charles Mingus e Max Roach. Ao mesmo tempo passa a compor música sacra, como In The Beginning God. Com seu perigoso sorriso, Ellington – que, como já dissemos, foi autodidata em harmonia e orquestração – recebeu o título de doutor em música pelas universidades de Harvard e Yale, além de ser o primeiro músico de jazz a ser nomeado membro da Royal Academy Of Music da Suécia, em Stockholm. Para os amigos deixo a faixa Ko-Ko, com um solo de Jimmy Blanton, um dos primeiros mestres do contrabaixo no jazz.
Poucas bandas, de jazz ou não, possuem um som próprio e imediatamente identificável. E pouquíssimas bandas de jazz possuem um som tão próprio, tão prontamente identificável e tão rico em influências musicais tão diversas quanto as bandas de Duke. Por isso muitos consideram que as bandas de Ellington possuíam um som único e inigualável, muitas vezes extrapolando os limites e padrões mais tradicionais do jazz, ora resvalando para o campo da música folclórica, ora, em algumas obras de maior envergadura, para o campo da música clássica. Incentivado pela família, que possuía dois pianos em casa, Ellington começou a estudar música aos sete anos e, aos dezessete, já tocava piano profissionalmente, muito influenciado pelos pianistas de ragtime. Foi autodidata em harmonia (que aprendeu com seu piano) e orquestração (que aprendeu compondo para suas bandas). Podemos mesmo dizer que seu verdadeiro instrumento era sua banda, que também servia de laboratório para suas pesquisas e experiências musicais, onde sempre era auxiliado pelas sugestões de seus músicos. Desse mosaico de influências variadas, surgem inusitadas sonoridades, timbres e tonalidades que formariam o que Billie Strayhorn chamou de “efeito Ellington”. Em 1923 parte com Elmer Snowden (lid, bj) e seus Washingtonians – Otto Hardwick (cl, as, bs, bbs), Artie Whetsol (t) e Sonny Greer (d) – para New York. Até 1927 esse grupo sofre alterações que resultarão na primeira banda de Ellington, com a troca de Snowden por Fred Guy (bj) e com a chegada de novos músicos, como Bubber Miley (t), Tricky Sam Nanton (tb), Rudy Jackson (cl, ts), Harry Carney (bs) e Wellman Braud (b). Nessa época algumas gravações já anunciavam, ainda que timidamente, a concepção sonora tão original de Ellington, insinuada em peças como East St. Louis Toodle-oo (com um solo espetacular de Bubber Miley) e Black And Tan Fantasy. No período que vai de 1927 a 1931, a banda de Ellington foi escolhida para ocupar o privilegiado e concorrido palco do Cotton Club, onde tocaria para divertir platéias brancas ávidas pela música negra. Foi um período de reestruturação da cultura negra, onde a integração das raças ainda se submetia ao esquema tradicional em que o homem branco entrava pela porta da frente e pagava para o menino negro fazer graça.
Embora deplorável em muitos aspectos, esse foi um período importante para o povo negro estabelecer com firmeza seus novos valores, elaborar seus novos sonhos e conduzir suas novas lutas de forma mais organizada e sólida. Sua banda era agora formada por uma dúzia de músicos selecionados a dedo, passando a contar com novas e fundamentais aquisições, como Barney Bigard (cl), Johnny Hodges (as), Freddie Jenkis (t) e Cootie Williams. São dessa época as mais de duzentas gravações realizadas por Ellington em New York, muitas delas no estilo denominado “jungle style” criado por Ellington e Bubber Miley, bem como a primeira apresentação da banda em filmes de Hollywood (Check And Double Check, de 1930). Com a gravação de Mood Indigo (1930), somente Louis Armstrong fazia sucesso comparável ao de Duke Ellington no mundo do jazz. Ellington alcança fama internacional como músico popular e, paralelamente, realiza suas primeiras incursões em projetos de maior envergadura, como Creole Rhapsody, Reminiscing In Tempo e Diminuendo And Crescendo In Blue. A década de 1932 a 1942 costuma ser considerada como a mais importante e criativa na carreira do maestro. Sua banda toca por todo os EUA e realiza excursões bem sucedidas à Europa. Em 1939 recebe três novos músicos em sua banda, fundamentais para seu sucesso: Jimmy Blanton (b), Bem Webster (ts) e Billie Strayhorn (arr, comp, p). São dessa época os sucessos Concerto For Cootie, Ko Ko e Cotton Tail. Em 1946 a orquestra de Ellington contava com dezoito músicos, entre eles Ray Nance (t, vln), Shorty Baker (t) e Jimmy Hamilton (cl). As diversas alterações de músicos que formavam a banda dificultaram a aplicação da fórmula bem sucedida que Ellington vinha utilizando até então para compor música ligeira, que consistia em compor baseado nas características específicas de cada um de seus solistas. Perdendo um pouco sua famosa sonoridade única, a banda prossegue em suas numerosas apresentações, destacando-se entre elas uma série de concertos anuais no Carnegie Hall (1943-1952). Nesse período, Ellington preocupa-se cada vez mais em ser reconhecido como músico sério, produzindo composições mais ambiciosas, como Liberian Suite, Harlem, Night Creature, Such Sweet Tunder, Suite Thursday e, sobretudo, a monumental obra Black, Brown And Beige, onde conta a saga do povo negro nos EUA através de sua música.
O advento do long playing incentiva Ellington a continuar perseguindo o reconhecimento para suas suítes com estrutura clássica, afastando-se perigosamente do ambiente musical popular que lhe granjeou tanto o sucesso quanto a fortuna obtida no passado. A partir de 1950, até o fim de sua vida, Ellington prossegue apresentando-se com sua banda pelo mundo, indo inclusive à Rússia em 1971. Produz trilhas sonoras (Anatomy Of A Murder, de 1959), grava com jovens músicos, entre eles John Coltrane, Charles Mingus e Max Roach. Ao mesmo tempo passa a compor música sacra, como In The Beginning God. Com seu perigoso sorriso, Ellington – que, como já dissemos, foi autodidata em harmonia e orquestração – recebeu o título de doutor em música pelas universidades de Harvard e Yale, além de ser o primeiro músico de jazz a ser nomeado membro da Royal Academy Of Music da Suécia, em Stockholm. Para os amigos deixo a faixa Ko-Ko, com um solo de Jimmy Blanton, um dos primeiros mestres do contrabaixo no jazz.
Ellington - Ko-Ko.... |
8 comentários:
Obrigada pelo seu amável comentário. Também estou a gostar muito do seu blogue: muito bem estruturado, didático e agradável. Como sou fan de Jazz desde, pelo menos, os meus 5 anos de idade, isto para não dizer desde que nasci, vou estar aqui caída com assiduidade, pode crer.
Cumprimentos.
Mais uma breve amostra dos verbetes da enciclopédia de jazz de Mr. Lester.
perverso esse duque
Apesar do longo arrazoado à Duke Ellington apresentado pelo sr.Lester, sou mais Count Basie, que não se apoiava em nenhum seu "alter ego" para fazer sucesso. E o músico Basie (e sua Banda) era muito melhor, tinha mais swing.
Predador, esse nosso mais insaciável visitante.
e vem aí a Duke Ellington Orchestra liderada pelo seu seu filho Paul Ellington
Turnê pelo Brasil e acho que vai passar por aí ...
abraço
Valeu Guzz, nosso 'antena' no Rio.
Lester,
Paul Ellington é neto de Duke.
Seu filho Mercer, que liderou a banda após a morte do pai também já faleceu e Paul, o neto, assumiu a banda
Desculpe o erro !
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