08/09/2007

In the Still of The Noesis

Em nossa última reunião do Clube das Terças - sempre por volta das 19h, no Centro da Praia, em Vitória – eu e Chico Brahma conversávamos animadamente sobre Calígula, Lee Wiley e a dianóia, essa maneira de pensar tão ocidental e tão desaforadamente comportada. Retirando de uma sacola plástica do Carone alguns volumes do Dicionário de Filosofia, de Ferrater Mora, Chico mostrava que essa estranha palavra é utilizada para designar o pensamento discursivo, ou seja, o modo de pensar que procede por raciocínio. E concluiu: a dianóia é o oposto da boa e velha noesis, a maneira de pensar intuitiva. À certa altura, já bastante aflito e agora folheando sua primeira edição de A Filosofia na Idade Média, de Gilson, Chico perguntara: John Lester, o que seria do jazz sem a noesis e sem a navalha de Ockham? Claro que ninguém ao redor deu ouvido à pergunta e muito menos à resposta. Retruquei que, muito provavelmente, o jazz nem teria nascido sem o pensamento intuitivo e sem a simplicidade afiada dos primeiros mestres. Lembramos de Epicuro, Crisipo e, principalmente, de Plotino e Buddy Bolden, que sempre destacou que a dianóia isola o que está unido, com aquela sua mania de ser racional, de pensar por partes, de isolar a sensação do todo. A noesis está para um solo de Armstrong assim como a dianóia está para um solo de Marsalis. E, quando não podemos discernir racionalmente o que nos aflige a alma quando ouvimos o jazz atual, nada melhor que passarmos a navalha nesse desassossego ouvindo Wardell Gray. Foi daí que percebemos o quanto o jazz de hoje está carregado de dianóia, de improvisos escritos, de universidades editando livros e manuais que se propõem a ensinar ao aluno a não se ater a livros e manuais. Em breve, caso o jazz não faça barba, cabelo e bigode, teremos o período barroco no jazz, e um barroco daquele bem rococó. Já estávamos quase tristes com essa sombria perspectiva do jazz rocambole, quando se aproxima Fernando Achiamé, o diretor financeiro do Clube. Ele desembrulhou e nos mostrou o álbum In the Still of The Night, do saxofonista Grant Stewart. Mais tarde, após ouvir o álbum e olhando para o teto, compreendi o motivo daquele sorriso sereno no rosto de Fernando. Ainda existe alguma esperança para o jazz, ao menos enquanto jovens músicos realizarem trabalhos dessa natureza, repleto de sentimento, de visão do todo, de erradicação da exatidão sistemática em homenagem às alternativas imprevisíveis do acaso. Para os amigos fica a faixa Autumn in New York. Imperdível.

Grant Stewart_In T...


Toronto native Grant Stewart (1971) is a hard-swinging tenor saxophonist steeped in the jazz tradition. Introduced to jazz by his part-time jazz guitarist father, Stewart grew up listening to such legendary saxophonists as Charlie Parker, Wardell Gray, and others. By his early teens, Stewart had already found performance experience with such artists as Pat La Barbera and Bob Mover, and at age 19 moved to New York City. Since that time, Stewart has performed with a bevy of well-known jazz musicians, including Clark Terry, Brad Mehldau, Curtis Fuller, and many others. On his own, Stewart has released a handful of recordings, including 1992's Downtown Sounds, 1999's Buen Rollo, 2005's Grant Stewart + 4, and 2007's In the Still of the Night. (All Music Guide).

11 comentários:

John Lester disse...

Segura essa Olney, vc que é apaixonado por Autumn.

Anônimo disse...

Sonzão!

Anônimo disse...

Affff! Essa é a tal abobrinha recheada servida no almoço da confraria? Ainda bem que ouvi a música primeiro, se não....

Anônimo disse...

Ja desconfiava quando a dica foi passada por um dos membros da confraria :filhote do excelente guitarrista Grant Green de alguns discos muito bons pela Blue Note e outros bem medíocres.Já esta anotado pra tomar conhecimento em breve.E tb In the still of the night(Cole Porter) e um tema lindo.Edú

Anônimo disse...

A navalha de Ockhan deixa claro algo bem posto: o jazz é a forma simples de viver.

Anônimo disse...

JAZZ É NAVALHA NA CARNE

SINISTRO EIN

Anônimo disse...

Eu pensei q fosse uma peça do meu inesquecível amigo Plinío Marcos.Edú

Anônimo disse...

Plinio foi um gênio do teatro e em muitas outras áreas. Dizem até que foi ele quem desenhou a capa esvoaçante do Papa (e não Dener como se comentta nos corredores).

Anônimo disse...

Essa canção de Porter é fantástica. Espero, um dia, tocá-la em algum boteco vitoriano.

Anônimo disse...

nojento!!!

figbatera disse...

Gostei demais; valeu Lester!