28/11/2007

David Van Kriedt

Não há consenso acerca do nome do moço: David Van Kriedt (conforme consta no encarte do álbum Re-union) ou Dave Van Kreidt (como aparece na resenha do All Music Guide sobre o álbum Re-union). Seja lá como for, muito pouco se sabe a respeito desse saxofonista tenor, compositor e professor nascido em 19 de junho de 1922 em Berkeley, Califórnia, e falecido em 29 de setembro de 1994, em Newcastle, Austrália. Enquanto Dave Brubeck e Paul Desmond se tornavam celebridades do mundo do jazz, Kriedt se trancafiava nas universidades, estudando, compondo e ensinando. Logo ele, quem diria, um dos principais responsáveis pela definição da sonoridade dos futuros grupos de Brubeck, morreria completamente esquecido na Austrália, onde faria o filho Larry Van Kriedt, contrabaixista do famoso grupo AC/DC. Coisas do jazz. Kriedt passou três anos na Mills College, em São Francisco, estudando composição com Darius Milhaud, (na foto abaixo, Kriedt está sentado à direita com óculos, Brubeck está em pé de óculos e gravata e Milhaud refastelado à mesa com gravata borboleta, comemorando seus 60 pesados anos, em 1952) período em que formou com colegas de curso o The Jazz Workshop Ensemble, mais tarde conhecido como The Octet e, finalmente, como Dave Brubeck Octet. Em 1946 a formação do The Octet era Dave Brubeck (p), Paul Desmond (as), Dave Van Kriedt (ts), Bill Smith (cl), Dick Collins (t), Bob Collins (tb), Jack Weeks (b) e Cal Tjader (d).
Com sua música pouco comercial e de vanguarda, Kriedt e seu The Octet tocaram em pouquíssimos clubes e gravaram muito pouco (há um cd da Fantasy denominado The Dave Brubeck Octet, contendo algumas gravações do grupo realizadas entre 1946 e 1950, inclusive a memorável Fugue on Bop Themes). Responsável pela maioria das composições e pela sonoridade etérea e cool que dominariam o estilo west coast na década seguinte, Kriedt idealizou também uma série de inovações, entre elas a formação do até então inusitado duo de sax tenor com contrabaixo, que ele inaugurou no pub The Place, em São Francisco. Sua composição Fugue on Bop Themes foi utilizada em 1951 por Igor Stravinsky, quando o mestre russo realizou conferências na Universidade da Califórnia (UCLA), para demonstrar aos estudantes a verdadeira arte do contraponto. Por essas e outras, alguns críticos costumam associar o trabalho de Kriedt à chamada Third Stream, escola posteriormente solidificada por Gunther Schuller. Mas, ok. Dizem as más línguas que Kriedt andou algum tempo por Honolulu, em meados da década de 1950, fazendo não se sabe exatamente o que. Antes disso, porém, em 1948, Kriedt esteve algum tempo na França, onde gravou com os Be Bop Minstrels de Kenny Clarke, recebendo o prêmio de melhor álbum do ano. Reconhecido pelos músicos locais, Kriedt chegou a tocar com o guitarrista Django Reinhardt. Ainda na Europa, Dave passou pela Noruega para visitar seu avô, Ollie Clausen, organista que teve entre seus alunos ninguém menos que Edvard Grieg. Em 1952, retorna a Mills College, onde recebe o primeiro prêmio por composição.
Importante também foi o período em que Kriedt trabalhou com Stan kenton, em 1955, participando de um álbum notável: Contemporary Concerts. Nesse período Kriedt trabalhou com excelentes músicos, entre eles Bill Holman, Gerry Mulligan, Bill Perkins, Lennie Niehaus, Charlie Mariano, Don Davidson, Carl Fontana, Bob Fitzpatrick, Kent Larson, Gus Chappell, Don Kelly, Ed Leddy, Bobby Clark, Al Porcino, Sam Noto, Stu Williamson, Ralph Blaze, Max Bennett e Mel Lewis. Além de produzir alguns arranjos, Kriedt também excursionou com a banda de Kenton, tocando no Canadá e em grandes clubes dos EUA, como o Blue Note de Chicago e o Birdland de New York. O álbum Re-union, gravado em 1957, com Dave Brubeck (p), Paul Desmond (as), Norm Bates (b) e o novo baterista de Brubeck, Joe Morello, traz oito composições de Kriedt, além de fornecer bom exemplo de seu competente desempenho ao tenor. Kriedt tocava tão forte que foi preciso colocar uma toalha de rosto sobre a campana (bell) de seu saxofone, de modo a abafar seu som, adequando-o aos padrões exigidos pelo silencioso cool jazz. Para os amigos navegantes deixo a faixa Shouts. Boa audição!

Shouts - Kriedt.mp...

10 comentários:

Anônimo disse...

canhestro o cara!

Anônimo disse...

Canhestro é seu ouvido Thiago. Kriedt é excelente!

ReAl disse...

Upa! Essa foi sacada da cartola. Coisa de jazzófilo.
Lá em casa tá rolando um Cutis Amy e Dupree Bolton.

Anônimo disse...

O sr.Lester está se redimindo, retornando a sanidade: falando efetivamente sobre jazz em suas resenhas. Esta última, do tenorista, compositor e arranjador Van Kriedt é muito boa, resumindo a trajetória de um músico de primeira, completamente esquecido. Parabéns sr.Lester!

Anônimo disse...

quando eu digo canhestro, eu digo sinistro, nocivo, perverso e miserável, entendeu renato???

Anônimo disse...

Ê, Aurélio!!!

Anônimo disse...

Muito boa a resenha, músicos exelentes, som gostoso...

Anônimo disse...

seja bem vindo edú!

Sergio disse...

Outro que fiquei na saudade...

Anônimo disse...

Obrigado,amigo.Edú(tomando indevidamente espaço do CEO)