Eu entendo, em parte, a revolta e a ira de Mr. Lester com relação aos Beatles. Muitos e excelentes instrumentistas de jazz não teriam passado fome se não tivessem surgido esses grupos musicalmente menores e com grande apelo sobre os jovens brancos e assustados da classe média norte-americana, jovens reprimidos sexual e politicamente, que saíam em disparada ao ver um negro se aproximando. Grandes mestres, como Dexter Gordon, fugiram para a Europa, onde algum público menos incapaz ainda apreciava a boa música popular (entenda-se jazz). Outros, como o pianista Albert Ammons, foram lavar carros em New York. Talvez o gordo pianista tenha mesmo lavado alguma limusine dos Beatles estacionada na Quinta Avenida, e recebido uma lauta gorjeta, provavelmente de Lennon, o mais sensível dos vendedores de seguro ingleses que já conheci. Infelizmente, não compreendo o que tem a ver Beatles com música. Se falássemos em cultura pop, em questionamento de valores tradicionais, como sexo antes do casamento, liberdade de expressão e política anti-nuclear, até que poderíamos enxergar alguma valia nesse e noutros conjuntinhos de rock. Mas música? Música fazia Jimmy Hendrix que, por falta de melhor rótulo, foi chamado de rockeiro. Bem, é preciso deixar claro que não tenho nada contra os temas singelos da música pop. O próprio jazz, sabemos bem, utilizou-se de inúmeros. Billie Holiday cantou Georgia on My Mind e, nem por isso, o tema deixou de ser, como diria Mr. Lester, idiota.
O que conta, e sempre contará em jazz, é a interpretação, é a forma como você diz o ‘eu te amo’. Bill Charlap, pianista nascido em 1966, parece estar entre aqueles músicos de jazz que, a princípio, teria tudo (técnica, talento e sensibilidade) para dar continuidade a um trabalho pegajoso e estéril dentro do contexto paupérrimo da música clássica norte-americana, se é que existe música clássica norte-americana. Poderia, também, produzir aqueles gostosos e açucarados sonhos de padaria vendidos na Brodway. Mas, por São Coltrane, Charlap optou por largar a faculdade de música e mergulhar nos clubes de jazz. Aos vinte anos, já era o pianista de Gerry Mulligan. Aos trinta, o de Phil Woods. A tal opção pelo autodidatismo, que tanta falta tem feito ao jazz contemporâneo, gera oportunidades interessantes para que Charlap introduza, lenta e delicadamente, algumas novas abordagens melódicas, rítmicas e harmônicas no jazz, utilizando como meio bons e velhos standards. Essa sutileza no renovar, essa delicadeza no evoluir, faz com que Bill seja, em minha modesta opinião, um dos pianistas mais interessantes da nova geração. Para os amigos fica a faixa My Shinning Hour, retirada do dulcíssimo álbum ‘S Wonderful, gravado em 1998, em trio com os irmãos (veja os comentários) Peter (b) e Kenny (d) Washington. Até a próxima!
O que conta, e sempre contará em jazz, é a interpretação, é a forma como você diz o ‘eu te amo’. Bill Charlap, pianista nascido em 1966, parece estar entre aqueles músicos de jazz que, a princípio, teria tudo (técnica, talento e sensibilidade) para dar continuidade a um trabalho pegajoso e estéril dentro do contexto paupérrimo da música clássica norte-americana, se é que existe música clássica norte-americana. Poderia, também, produzir aqueles gostosos e açucarados sonhos de padaria vendidos na Brodway. Mas, por São Coltrane, Charlap optou por largar a faculdade de música e mergulhar nos clubes de jazz. Aos vinte anos, já era o pianista de Gerry Mulligan. Aos trinta, o de Phil Woods. A tal opção pelo autodidatismo, que tanta falta tem feito ao jazz contemporâneo, gera oportunidades interessantes para que Charlap introduza, lenta e delicadamente, algumas novas abordagens melódicas, rítmicas e harmônicas no jazz, utilizando como meio bons e velhos standards. Essa sutileza no renovar, essa delicadeza no evoluir, faz com que Bill seja, em minha modesta opinião, um dos pianistas mais interessantes da nova geração. Para os amigos fica a faixa My Shinning Hour, retirada do dulcíssimo álbum ‘S Wonderful, gravado em 1998, em trio com os irmãos (veja os comentários) Peter (b) e Kenny (d) Washington. Até a próxima!
Bill Charlap Trio ... |
30 comentários:
nocivo esse charlap
oi fred, delicia de post...
JL, confere a cx postal q já esta lá.Mais tarde, comento sobre o Charlap q aprecio bastante.Edú
A propósito, não resistindo, Kenny e Peter Washington não tem grau de parentesco e nem são irmãos.Eu tb pensava q eram.Edú
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que trio fantástico!!!
essa geração de grandes revivalistas são, na minha modesta opinião, os caras que não deixam a tradição do jazz morrer...a propósito, não conhecia nada de Charlap, mas de Kenny Washington sim: esse baterista é fantástico. Confiram ele com Cedar Walton e em alguns discos mais Neo-Bop...muito bom!
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Obrigado Edú. Li que Kenny tem um irmão contrabaixista e uma irmã cantora (fonte: Virgin Encyclopedia of Jazz). Mas, de fato, não fornece o nome desse irmão. Seria Peter? Não sei dizer.
Diga pra nós quem é Peter Washington, ok?
Grande abraço, JL.
Lester, só pra antecipar a fidedignidade da minha informação vai um trecho da coluna do Luiz Orlando Carneiro, de meus alfarrábios, no JB do dia 16/12/2004."Mas não será surpresa se o Grammy para jazz combos ficar com o trio do pianista Bill Charlap, iluminado cultor de melodias dos grandes autores do American Songbook. Depois de "Stardust" (Blue Note 35985) - dedicado a Hoagy Carmichael -, Charlap, o baixista Peter Washington e o baterista Kenny Washington (que não são parentes) lançaram em março "Somewhere" (gravado em outubro de 2003). Trata-se do melhor álbum em trio de Charlap, recriando, em tempo de jazz, 12 temas de Leonard Bernstein, dos quais quatro de "West Side Story": Somewhere, Cool, Jump e América”.Quando eu estiver andando com as minhas pernas, sem auxilio externo, faço um breve perfil do Peter Washington.Por hora, o assunto é o Charlap.Abraço.Edú
Pra não perder a instantaneidade desse blog, uma de suas principais caracterisícas acabei de saber da morte do trumpestista Márcio Montarroyos.Ele foi o maior de seu instrumento na genealogia brasileira dos instrumentistas.Agência JB
RIO - Morreu nesta quarta-feira, vítima de câncer, um dos pioneiros da música instrumental no país, o trompetista Marcio Montarroyos
O velório acontece na capela 5 do cemitério São João Batista, em Botafogo. O enterro será às 17h.
Com oito trabalhos já lançados (sem contar coletâneas), trabalhou com Hermeto Paschoal, Egberto Gismonte, Tom Jobim, Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Carlos Santana, Stevie Wonder, Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald. Foi o primeiro músico contratado pela Columbia Records (companhia americana pertencente a Sony BMG). Marcio sempre se empenhou para a divulgação e o crescimento da música instrumental do Brasil.
Entre 1968 e 1969, fez parte do conjunto A Turma da Pilantragem, ao lado dos instrumentistas Zé Roberto Bertrami, Alexandre Malheiros, Vitor Manga, Fredera e Ion Muniz, e das cantoras Regininha, Málu Balona e Dorinha Tapajós. Com o grupo, gravou três LPs. Em 1973, participou da gravação da trilha sonora da novela 'Carinhoso' (TV Globo), interpretando a canção homônima.
Lançou os discos 'Sessão nostalgia' (1973), 'Stone alliance' (1977), 'Trompete internacional' (1981), 'Magic moment' (1982), 'Carioca' (1984) e 'Samba Solstice' (1987).
Em 1989, gravou 'Terra mater', registrando canções de sua autoria como 'The fourteenth day' e 'One more light', ambas em parceria com Lincoln Olivetti. Ainda nesse ano, participou do LP 'Concerto Planeta Terra - Nelson Ayres, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas e Marcio Montarroyos', contendo as peças 'Ar' (Nivaldo Ornellas), 'Água' (Nelson Ayres), 'Fogo' (Marcio Montarroyos) e 'Terra' (Toninho Horta). Em 1995, lançou o CD 'Marcio Montarroyos', contendo composições próprias como 'Slave ritual', 'Pantanal' e 'Congo do Serro', entre outras. Descanse em paz.Edú
Edú, Lester e blogados,
Repasso a informação que Osvaldo trouxe: acaba de ser enterrado, no Rio, o grande trompetista Márcio Montarroyos. O câncer venceu a batalha.
Vc q é do metier Salsa, sabe da importância da perda.E aproveito pra protestar tb quanto a qualidade das pessoas q produzem a informação a nossa disposição.O JB incorretamente não informa q ele foi o primeiro músico brasileiro, fazendo companhia no casting a Miles Davis e Wynton Marsalis, contratado pela Columbia Records na época q nem pertencia ao conglomerado Sony.E colocam, ainda, q eles fez um "LP" este ano, quando nem minha filha de dois anos vai saber o q é isso.Edú
Nosso amigo Oswaldo, do MPB & Jazz nos alertou, ontem, a respeito da saúde de Márcio. Grande perda. Mas não fique aflito Mr. Salsa, a morte sempre vence.
Edú, faça a gentileza de preparar uma daquelas 'minúsculas' notas de rodapé sobre Peter Washington. O Luiz Orlando Carneiro não diz muito mais do que Richard Cook, na página 649 de sua Jazz Encyclopedia: 'sleevenote-writers always have to point out that they are not related in any way'.
Grande abraço, JL.
Lester, convença a Srta. Janine a levar-me ao aeroporto q irei a busca do "born certificate" do Peter Washington.As comprovações de despesa remeto pro setor contábil do Jazzseen.Neste interím, preciso ficar garimpando informações nos cds q eles participam.Tinha lido essa informação na ficha técnica de um deles previamente .E como não posso ficar de pé , por enquanto, fica difícil.Mas coloquei um post-it no meu gesso pra não esquecer.Edú
Enquanto minha alma gêmea termina de afivelar as LV , até ás 22:39,a situação é a seguinte:num site denominado Baixo Vertical,como o próprio titulo afirma(especializado em baixistas)coloca Peter como irmão mais novo de Kenny.Estou postando um email ao Luiz Orlando Carneiro pra ver se ele nos revela a fonte de sua informação.Como ele, em conjunto, acumula funções administrativas na sucursal do JB, suponho q essa resposta possa demorar um pouco.Então, por enquanto, prevalece a informação de Mr.Bravante pra mim, diante das duas versões.E eu ainda não consegui falar do Charlap.Edú
Edú, enquanto Miss Janine coça suas canelas com algum graveto, eleja seu álbum predileto de Monk.
Até, Roberto S.
Brilliant Corners, do Monk e o da Big Band do Bill Hollman.Edú
Deposita na urna.
Scardua, farei isso, após confortar a Srta.Janine já que não iremos viajar hoje.Tirada a prova dos nove ou será dos dez.Retirada da critica de Ben Ratliff no NYT, dia 31/05/07, sobre a apresentação de Bill Charlap no mais confortável e mais oneroso clube de jazz de NY o Dizzy Coca Cola Club(descobri a razão da raíva do CEO pelo liquido de Atlanta)."In almost every case Mr. Charlap, with the bassist Peter Washington and the drummer Kenny Washington (they’re not related), used an arrangement to bracket songs at the beginning and end, or to aerate them in the middle.Traduzindo o q importa:não pertencem ao mesmo rol familiar.JL, deve-me uma.Edú
Contra Carneiro e NYT ninguém pode...
Agradeço, em nome dos leitores do blog, à correção de Mr. Edú.
Só falta agora saber o nome do irmão de Kenny, que toca contrabaixo.
Grande abraço, JL.
Essa é pro nosso JL (john lester): "Mecha do cabelo de John Lennon é leiloada por US$ 48 mil".
Pode? (Saiu no Globo online hoje)
Olney, tente compreender. São coisas de fã. Eu pagaria US$480,000.00 pela meleca de Monk (comenta-se nos bastidores que ele as limpava na barba).
Grande abraço, JL.
Os mais interessantes pianistas brancos de jazz americanos que se destacaram nos últimos 15 anos foram :Joey Calderazzo,Brad Mehldau e Bill Charlap.Dos três, podemos considerar Charlap como o de vida menos "atribulada".Seus pais são o falecido compositor Moose Charlap(autor da adaptação de Peter Pan pra Broadway) e a cantora ,de carreira discreta, Sandy Stewart.Seu berçário , os “backstages” de montagens como Oklahoma e Pal Joey.Já foi rotulado como o pianista q jamais toca algo q não tenha sido “assobiado”, diante da sua versatilidade no American Songbook. Ele é um Fred Astaire dos teclados,tamanha sua elegância pessoal, sempre trajando um bem cortado terno da Brooks Brothers e o modo que “acaricia” o instrumento . Herdeiro "bastardo" do mais sofisticado pianista do cenário noturno nova iorquino, o negro Ellis Larkins.Talvez a maior ousadia q Bill cometeu em sua vida,até agora,foi, nesse ano, quando casou pela segunda vez, com a pianista canadense Renee Rosnes,a mais completa e criativa compositora, pianista ,arranjadora surgida desde Toshiko Akiyoshi. E quanto a identificar quem séria o irmão baixista do baterista Kenny Washington, passo, por hora.Edú
Prezado Edú, não por ter lido, mas tor ter ido, posso afirmar que o Dyzzy's Club não é, nem de longe, o mais caro club de jazz de NY. Na verdade, é nessa sala 'menor' do Lincoln Center que acontecem apresentações gratuitas de alunos destacados. Os preços, nesses casos, se limitan ao soft drink que, se sorvido em pé, sai por 4 dólares.
O espaço nobre do Lincoln Center é o denominado Rose Hall, um magnífico ambiente formado por duas arenas: Rose Theather (uma das melhores salas de jazz do mundo, acusticamente talvez seja a primeira) e a belíssima The Allen Room. Em janeiro de 2007 tive o privilégio de conhecê-las, sendo impossível esquecer as presenças de James Moody e Charles McPherson tocando juntos no Rose Theater. Ingresso, com duas doses de Absolut, por 45 plus tax.
Caro mesmo, prezado Edú, é assistir, sempre às segundas, Woody Allen no Carlyle, um hotelzinho daqueles que, só para sentar, você paga 100 doletas. Mas, por hora, passo a estória da clarineta de Allen no Café Carlyle.
Grande abraço, JL.
Caro Lester
Woody Allen é verbete certo nas enciclopédias sobre cinema, como cineasta e ator. Sei que ele gosta de ouvir clarineta e até de simular que toca, mas daí a ser considerado músico há uma grande distância.
Olmiro Müller
Exato, amigo Olmiro. Não foi outro motivo o eu ter utilizado o verbo 'assistir' para Allen. Trata-se, antes de tudo, de um espetáculo a ser visto. A música fica por conta da banda dixieland que acompanha o cineasta mais doido dos EUA. O clarinete é, no caso, o que menos conta rs.
Grande abraço, JL.
Amigos, baixei e ouvi, justo o 'S Wonderfull. Gostei. Pensei que ele cantava. Mas o instrumental me satisfez. Agora... lembrou e deu saudade do Vince Guaraldi.
Vinci pede Bola Sete. É com vc sérgio!
Pois é, amilcar. É comigo mesmo, mas pra ouvir, não pra comentar. E nessas semanas de dezembro estou mais pro natal do Charlie Brown. Lindo, lindo, lindo.
Recomendação judaica :nem eu q estou aguardando minha admissibilidade no fã clube do Charlap possuo o S´Wonderful.Esse disco foi produzido para o mercado nipônico sendo indisponível aos menos afortunados obte-lo, de forma legitíma, a um preço camarada.Todavia, um ótimo disco dele “plays George Gershwin :The American Soul” foi lançado por aqui.Se acaso os visitantes o encontrarem numa dessas “promoções de ocasião” , vale os reais empregados. Edú
Bom, tem gente que curte uma esperazinha básica pra intensificar o prazer da aquisição. Não nego que, podendo, deve haver satisfação nisso. Como, de ante-mão, sei que não poderia comprá-lo... O meu já está na mão. Só não sabia que era tão difícil.
amigos, eu estava fora, morando no japão trabalhando como cozinheiro num restaurante em Kobbe... alguem pode me informar qual a razão a morte do baterista Vitor Manga, que era da Brazuca e frequentou o Beco, gravando com outros artistas? Sabem quando ocorreu?
Fomos a praia juntos algumas vezes mas depois nunca mais tive noticias dele...
obrigado.
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