25/01/2008

Lush Life, Vida Boêmia, 1993

Filmes sobre jazz geralmente satisfazem tanto o espectador comum quanto o aficcionado por música - mais ainda, claro, aquele que considera o jazz um ritmo essencial, o que é meu caso. Bird, de Clint Eastwood, e 'Round Midnight, de Bertrand Tavernier, são filmes que versam sobre artistas autodestrutivos que, sem a música, teriam pulado da ponte mais cedo, sem que o mundo tomasse deles pleno conhecimento. As vidas conturbadas de Charlie Parker e Bud Powell, respectivamente reproduzidas nos filmes citados, oscilaram entre a genialidade absoluta e o desespero existencial, o que sobrecarregou as películas de uma dramaticidade angustiante. Não é o caso de Vida Boêmia, de Michael Elias, um diretor tão apaixonado por jazz quanto Eastwood. Seu filme (originalmente feito para a tevê) também não é impactante do ponto de vista estrutural, mas a história não desagrada ao espectador mais exigente, que se vê diante de uma dupla de músicos - um saxofonista e um trompetista - que têm amor ao jazz na mesma proporção que amam viver. Ironicamente, um deles está condenado à morte por conta de um tumor cerebral. O outro, para celebrar-lhe a vida que resta, resolve fazer uma grande festa em que todos os músicos de jazz de NY comparecem - todos, sem exceção, o que causa um enorme problema para os night clubs e para os nubentes da noite.Forrest Withaker - que já havia encarnado Parker no filme Bird cinco anos antes - interpreta o trompetista por cuja porta a morte quer entrar, mas ele se recusa a atender, de imediato. Antes, quer o jazz, e quer executá-lo tendo em mãos um trumpete que pertencera a Clifford Brown, comprado numa loja de penhores por 2.500 dólares por um talentoso garoto aspirante a músico. Assim é o jazz: quem faz leva-o a conseqüências últimas. E por falar em amor a ele, uma outra história - periférica - é retratada na película: a dificuldade de se relacionar com um artista. A mulher do canastra Jeff Goldblum (o saxofonista garanhão) é uma professora que quer ter uma vida normal ao lado do marido, quer desvencilhar-se da lush life que o companheiro leva. Não é possível. Assim é o jazz. A propósito: revi esse filme anteontem, em VHS. Busquei na internet o devedê que, acredito, não foi lançado por aqui, mas aí vai, ao lado, seu rosto. E a propósito 2: John Coltrane lançou, em 1957 - dez anos antes de morrer -, o álbum Lush Life, hard bop da melhor qualidade com um time grandioso de músicos: Don Byrd (trumpete), Red Garland (piano), Earl May (baixo), Paul Chambers (baixo), Albert Heath (bateria), Art Taylor (bateria) e Louis Hayes (bateria). Não, não estão tocando todos juntos, como na tal festa do filme. O tema Lush Life foi composto por Billy Strayhorn e já foi interpretado por uma multidão de músicos. Clique aqui para ouvi-la pelos dedos do extraordinário pianista Phineas Newborn.

9 comentários:

John Lester disse...

Prezado Grijó, obrigado por mais uma colaboração. Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Vou procurar na locadora, valeu!

Anônimo disse...

Sabemos que Jeff Goldblum e Forest Whitaker não são músicos. Dizem os créditos do filme que Goldblum foi dublado pelo veterano saxofonista Bob Cooper (west coast) e Whitaker pelo obscuro trompetista Chuck Findley, que militou mais no rock do que no jazz. De qualquer maneira, o filme consegue trasmitir bons momentos de big-band.
Olmiro Müller

Anônimo disse...

Melhor que tudo isso é ouvir "A Tribute to Jack Johnson" com Miles Davis. É mole ?

Unknown disse...

Esse filme é excelente principalmente porque é uma ode ao amor e a amizade, tendo como pano de fundo o jazz.
ótimo mesmo.
E a resenha ficou perfeita. Soube resumir o que de melhor existe no filme, sem cansar o leitor.
Muito bom. Parabéns ao blogueiro.

Unknown disse...

Nem exite esse filme para baixar e na locadora ninguém conhece.
Mas pelo que o grijó disse, deve ser ótimo.
Como se faz para ver?

Coltrane está na trilha?

Anônimo disse...

Este filme já passou trezentas vezes na Televisão e é meio "viajem de navio".

Unknown disse...

Esse filme é uma pquena obra-prima, apesar de ter uns lances meio melodramáticos.
Mas é importante ver, eu penso.

Viagem de navio?
O que quer dizer isso?

Anônimo disse...

Sr.Fenando: quem viaja de navio invariavelmente enjoa. Então.....