18/02/2008

Ano Novo,Vida Nova

Em 1958,o sax-barítono Gerry Mulligan, aos 31 de idade, havia tomado decisão de tornar o ano que entrava no melhor de sua vida.Tinha 14 anos de carreira e somente naquele havia assinado um contrato com uma grande gravadora - a mais prestigiada delas - a Columbia Records. Mulligan, que havia definido o jazz como “a forma mais divertida de se fazer música”, tinha, pela primeira vez em sua carreira, um bom adiantamento e horários livres disponíveis de estúdio. Propiciando aos músicos "colaboradores" uma confortável disponibilidade (U$ 68 a hora sindicalizada, na época). Criando condições favoráveis a inspiração e a transpiração. A responsabilidade,"jogada sobre suas costas", era enorme. Apesar dos pequenos e médios selos de jazz como: Clef, Norgranz e Verve passarem aos consumidores de jazz a imagem de empresas “cult”, privilegiando a liberdade criativa, não se comparava ao que a Columbia poderia oferecer. A companhia era o veio fonográfico do grupo CBS (Columbia Broadcasting System),organização capaz de engrenar a carreira de qualquer artista que estivesse em seu elenco.Era um império de comunicação: emissora nacional de televisão e centenas de rádios associadas que anunciava, nas ocasiões solenes e especiais,a opinião CBS, narrada por Edward R.Murrow, o compulsivo jornalista fumante do filme “Boa Noite e Boa Sorte”, seu bordão, aliás. Pra entrar nas dependências da empresa, em NY, era necessário arrastar , em dobro, a sola dos sapatos no capacho e corria-se o risco de dividir o elevador com contratados como: Duke Ellington, Tony Bennet, Leonard Bernstein (regente da Filarmônica de Nova Iorque, que gravava pela “casa”), Miles Davis, Mahalia Jackson, Glenn Gold e Vladimir Horowitz. Pretendendo causar a melhor impressão e um sucesso artístico e comercial nesse início de “relacionamento”, Mulligan colocou à prova sua versatilidade tanto como compositor, arranjador (pela primeira vez de todos os temas) e, propriamente, solista no sax-barítono. A opção escolhida pra isso foi a formação de um quarteto que excluísse a base harmônica e rítmica do piano (denominada pianoless), onde a improvisação lírica pudesse fluir de forma livre. Os músicos escolhidos pra esse grupo foram: Bill Crow(b ac), Dave Bailey(bat) e, pela primeira e última vez na carreira de ambos, Art Farmer (trompete). O saxofonista pretendia , todavia, alterar o “modus operandi” que esse tipo de quarteto anteriormente havia experimentado nos sopros de Chet Baker, do trombonista Bob Brookmeyer e os saxofonistas Paul Desmond e Zoot Sims. Farmer, substituto de Chet Baker nessa sessão em particular, não possuía uma sonoridade tão sombria e dramática. Porém, tinha uma robustez de timbre e uma articulação clara, dominando o trompete de forma mais precisa. Na opinião de Mulligan, essa era a combinação ideal: desamarrar os sopros da extensão harmônica do piano, deixando o trompete e o sax barítono, com registros sonoros diferentes, capazes de traçar linhas melódicas em contraponto de forma mais elaborada. São apenas 41 minutos de valiosa música, divididas em 8 faixas , das quais 3, standards (What Is There to Say, Just in Time - colocada abaixo para apreciação dos amigos com o título de 'unknown' - e My Funny Valentine). O título, nada mais que revelador “What is there to say?”(tradução livre: O que resta dizer?). De minha parte, mais nada.

13 comentários:

Salsa disse...

Bela resenha, Edú. Esse disco merece destaque na discoteca - e Farmer tem participação mais que louvável.

Anônimo disse...

Mr. Edú escrevendo tão pouquinho? Hummmm....

Anônimo disse...

Enfim Jazz!!!

Anônimo disse...

What is there to say? Ler, ouvir e ficar feliz!
Parabéns Edú!

Roberto Scardua disse...

Valeu Edú, grande álbum.

Anônimo disse...

"predador, o legítimo" aí de cima é um impostor, "fake". Com relação ao disco do Mulligan, acrescento duas coisas: 1) Pela primeira vez gostei da resenha do sr.Edú, precisa e concisa; 2) o disco é realmente muito bom. O que resta dizer? Parabéns!

Danilo Toli disse...

Excelente! Bem escrito e informativo, parabéns Edú.

Salsa disse...

postei um contículo sobre a morte de Chet lá no jazzigo. Versão escalada no hotel.

Marília Deleuz disse...

Adorei Edú, beijo!

Anônimo disse...

Obrigado,amigos,suas opiniões, reafirmo, sempre são muito consideradas por mim.Edú

Sandra Leite disse...

Summit , com Astor Piazzolla e Gerry Mulligan,é um dos álbuns da minha vida!

Perfeito!

Anônimo disse...

unknown = Just in Time
conheci esta música numa
versão 1958 by Jonah Jones

não sei quem toca aqui...

Parabens!!

Anônimo disse...

Prezado visitante, Just in Time(tema de Richard Rodgers e Lorenz Hart) tem a condução de Gerry Mulligan(sax barítono),Art Farmer(trompete),Bill Crow(baixo acústico) e David Bailey(bateria).Edú