14/02/2008

¿Qué te importa que te ame, si tú no me quieres ya?

Tendo Mr. Lester perdido o controle de um Ford 1954 em péssimo estado durante suas pesquisas in loco nas vielas de Havana, ocasionando um dos maiores atropelamentos de barraca de frutas já registrado na capital cubana, cá estou eu tentando manter vivo o Jazzseen, enquanto Mr. Lester é interrogado em alguma cela anônima e úmida da ditadura. Não há como falar da música cubana sem falar da trova. Assim como os troubadours medievais, os trovadores cubanos também perambulavam pelas cidades, vivendo daquilo que conseguiam arrecadar com suas apresentações. Daí sua formação típica ser em duo – uma guitarra e duas vozes, pois quanto maior o conjunto, menor o quinhão a receber. Na verdade, a trova tem sua origem no folclore rural, tornando-se uma das primeiras manifestações da música popular tipicamente cubana. Aparecendo no final do século XIX, atinge seu apogeu durante as décadas de 1910 e 1920, desaparecendo na década de 1950, até que o camarada Castro promove um revival do estilo. Contendo elementos da guaracha, da habanera, da rumba, do son e do bolero, entre outros, a trova tomou conta de Cuba, sendo tão comum nas ruas de Havana que os visitantes a consideravam música nacional.

Durante a década de 1910 diversos trovadores gravariam em New York, entre eles Maria Teresa Vera (1895-1965), considerada a maior trovadora de todos os tempos e, dizem, a mais bonita. Maria começou estudando guitarra e aos quinze anos já se apresentava profissionalmente. Apesar de se apresentar sozinha em algumas ocasiões, Vera consolidou sua carreira em excelentes duos, em especial com Rafael Zequeira, Miguelito Garcia e Lorenzo Hierrezuelo. Teve também seu próprio grupo, o Sexteto Occidente. Além de seu sucesso em Cuba, Vera esteve diversas vezes em New York, onde gravou vários álbuns e se apresentou com a orquestra de Manuel Corona, além de se apresentar no México. Como compositora, seu principais sucessos foram Las Perlas de tu Boca e Veinte Años, esta última colocada a disposição do amigo visitante na radiola abaixo. Hasta luego!


¿Qué te importa que te ame,
si tú no me quieres ya?
El amor que ya ha pasado
no se debe recordar

Fui la ilusión de tu vida
un día lejano ya,
Hoy represento el pasado,
no me puedo conformar.

Si las cosas que uno quiere
se pudieran alcanzar,
tú me quisieras lo mismo
que veinte años atrás.

Con qué tristeza miramos
un amor que se nos va
Es un pedazo del alma
que se arranca sin piedad.

16 comentários:

Marília Deleuz disse...

Linda música!!!

Anônimo disse...

Por mais que tenha quase que absoluta convicção que somente se sobrevive musicalmente de jazz, abro raras oportunidades de rever esse conceito.Uma delas: é o belo disco da cantora e atriz Selma Reis, “Ares de Havana”, pelo finado selo “Velas”.Nele, Selma registra trovas e boleros na companhia de originais músicos cubanos aspirando e respirando os ares da ilha de Fidel.Lester, por favor, confere a cx.Acabei de enviar a resenha de fevereiro com a foto em mensagem separada.Edú

John Lester disse...

Prezado Edú, além das excelentes resenhas com que tem nos brindado, só nos resta agradecer as porções de sensibilidade e bom gosto com que tempera seus comentários.

Obrigado, JL.

Anônimo disse...

Blog perigoso, como eu gosto.

Anônimo disse...

Blog mais do que perigoso, meu caro Zanari! Eu diria desvirtuado, quase perdendo o rumo. Misturando jazz, que deveria ser sua diretriz, com outros tipos de música, mais parecendo parque de diversões ou, para ser mais preciso, "zona de meretrício". Ninguém aguenta. Vamos regular as coisas minha gente!

cd disse...

Predador, você nunca bebeu um bom run, nem fumou um charuto enrolado nas coxas das belas cubanas, nem tampouco sentiu o calor dos seus corpos quando bailam. O jazz, em determinado momento, começou a brochar, e foi buscar um pouco de tesão com os latinos.

cd disse...

PS - o problema é que os gringos não entenderam bem o assunto. Aí, sim, rolou umas coisas estranhas...

Anônimo disse...

Con qué tristeza miramos
un amor que se nos va
Es un pedazo del alma
que se arranca sin piedad.

Anônimo disse...

Predador: Vc nunca se enrolou nas coxas cubanas, nunca fumou um charuto, nem bailou com a muchacha ? Brochou com ojazz ?
Mi madre...sin piedade se arranca pedazo del alma! Tome um Sonrizal, por via das dúvidas.
Cretino de Creta.

Cinéfilo disse...

Pois vou dizer uma coisa.
Sendo eu um humilde professor de Língua Portuguesa (e dando pífios pitacos há 25 anos em literatura), obrigo-me, com muito prazer, a ressaltar: esse Bravante escreve bem. Mas bem mesmo!
Aliás, quase todos os resenhistas do Jazzseen - exceções haverá, sempre - escrevem como se as palavras viessem escolhidas a dedo, como um solo de Hines, como um sopro de Rollins, como uma composição de Porter.

Eu, de meu quase-anonimato, venho até o Jazzseen para vislumbrar não somente conteúdos (de que, muitas vezes, discordo mas aprecio e com muitos deles aprendo), mas formato, forma, arestas muito bem polidas, que fazem um escritor como eu sorrir de boa inveja.
Bravante, parabéns!

Anônimo disse...

Sr.Grijó: escrever bem é uma coisa, jazz não tem nada a ver com conteúdos laudatários bem escritos. Fumar charuto, bailar com muchachas, passar o "fumo" nas coxas das cubanas, tomar run é uma outra estória. Latinismo no jazz é uma aberração. Que tal misturar bolero com rock-and-roll?

Anônimo disse...

Êta Predador!!! Que mau humor!
O Jazzseen enfoca vários aspectos da história do Jazz, trazendo para os não conhecedores, informações no mínimo curiosas, e que fazem parte desta história...Às vezes, acho até gostoso ouvir diferentes músicas, que deixam a gente alegre e que mexem , como disseram, com os pés e os quadris...que mal há nisso? Gosto demais do Jazz tradicional, o qual posso ficar ouvindo o dia todo, mas uma pitadinha de Latin-Jazz, lá de vez em quanto, não me aborrece.
Parabéns, Jazzseen!

Anônimo disse...

Quanto ao vinho, muito bom! E a indicação de Mr. Lester, acompanhada de breve histórico, mostra como êle se interessa pelos assuntos do "nosso" blog: Jazz, vinho e livros finos(nem sempre!)com letras grandes...
Amei!

Cinéfilo disse...

Desconfio que esse Predador, às escondidas, dance o cha-cha-chá.

É muita fúria.
Sinto certo despeito, Predator?

Anônimo disse...

Danço não só o cha-cha-chá, como também mambo e bolero, muito bem aliás e às claras. Nada econdido. Contudo e sem nenhum despeito, não adimito a adição de rítimos espúrios no JAZZ, entendeu sr. Grijó ?

Cinéfilo disse...

Ok, ok, Predador.
Mas sinceramente acho que essa virulência tem a ver com infância regada a Gardel...e maturidade em companhia de Rubalcaba.