27/04/2008

Elas Também Tocam Jazz : Renee Rosnes

Definitivamente, o ambiente globalizado é um território muito mais acolhedor que uma aldeia para a pianista, arranjadora e compositora canadense Renee Rosnes. Nascida em 24 de março de 1962 na comunidade indígena Saskatchewan às margens do Lago Cowichan, província da Colúmbia Britânica, e filha biológica da nativa Mohinder Randhawa. Aos 4 meses, foi adotada pela família de um operário do norte de Vancouver. Martelando com insistência nas teclas do piano, aos três anos, obtém mais alegria que o convívio de suas bonecas. Aos 5, quis aprender violino. Ouvinte na adolescência de Oscar Peterson, Cedar Walton e Herbie Hancock deslumbra-se com o jazz. Ingressando, no entanto, ao final do período colegial, no curso de piano clássico da Univ. de Toronto. Nas horas livres gasta seu tempo tocando e ganhando “algum adicional” nos clubes de jazz e nas apresentações da rádio educativa. Diante de seu virtuosismo, recebe uma bolsa da “Canada Council of the Arts” pra aperfeiçoar-se em NY, em 86. Logo consegue trabalho, entrando nos grupos do trombonista J.J. Johnson, dos saxofonistas Wayne Shorter, Joe Henderson e do trompetista Freddie Hubbard. Era o início de uma ascensão meteórica. Em 90, assina com o selo Blue Note gravando seu primeiro disco com seu nome ao título e as participações de Branford Marsalis, Shorter (sax), Ron Carter (b ac) além do próprio Hancock, num dueto. No trabalho seguinte,“Without Words”, aventura-se no acompanhamento com cordas. Nos títulos de seus discos posteriores parece tentar revelar, de certo modo, suas confissões íntimas e emotivas: “For the Moment” (90), “Ancestors”(95)”, “As We Are Now”(97), “Art & Soul”(99). Determinada a reconhecer sua origem, Renee localiza sua mãe biológica em 94 quase ao mesmo tempo em que recebe a noticia que a adotiva, Audrey, tem diagnosticado um câncer terminal. Essa combinação perversa de sensações: a da tragédia e alegria, servem de material de inspiração “comovida” em Ancestors (tradução livre: ancestrais). Em cumplicidade com músicos do calibre de Chris Potter(sax), Christian Mc Bride(b), Billy Drummond (bat e ex-marido), Walt Weiskopf(sax), Lewis Nash(bat) entre outros, exercita a constante busca pela inovação com certa dose de ousadia. Utilizando a linguagem do jazz, no caso, a do hard bop, como guia nas improvisações associadas a técnica clássica com o “tempero” do swing e a riqueza no desenvolvimento melódico. Em Life on Earth(2002), aborda a world music, sem usar tacape, cocar e nem os atabaques do Olodum. Apenas, uma interessada pesquisa das manifestações musicais africanas e do Brasil, distante de qualquer viés oportunista. Quando recolheu esse material levou em consideração sua qualidade musical, não apenas a origem étnica em si. Da musica brasileira gravou temas de Egberto Gismonti e Edu Lobo. Na atualidade consegue, sabe-se lá como, tempo pra participar de forma quase simultânea como “sidewoman” dos grupos de Bobby Hutcherson(vib), James Moody(sax) e da Dizzy Gillespie All-Star Big Band. Ainda enfrentando, em certos períodos do ano, os 4.200 km que separam Nova York, sua morada , até São Francisco, sede da SF Jazz Collective, uma ONG de jazz fundada em 2003 dedicada a criação coletiva e estudo das obras dos grandes compositores originais. Os resultados são ministrados em “workshops” e conferidos para apreciação pública nas apresentações do grupo - um oiteto (tema de uma resenha detalhada futura). No final de agosto de 2007, Rosnes casou-se - pela segunda vez - com o pianista Bill Charlap e certamente já determinou quem faz uso no lar, prioritariamente, de um dos dois pianos Steinway Grand, presenteados pelo fabricante. Ouça Renee ( ) aqui.

9 comentários:

John Lester disse...

Prezado Edú, obrigado por mais uma excelente resenha. Volte sempre, a casa é sua.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Bela resenha Edú, parabéns.

Anônimo disse...

Lester, "Mi casa e su casa". Sempre uma honra pra mim fazer parte desse um projeto grandioso e rico liderado por tí.Essa resenha foi escrita e originalmente concebida pra homenagear todas as mulheres no mês de março.Que essa justa homenagem se estenda agora até abril.Edú

Anônimo disse...

Oi Edú, obrigada, acabei de chegar do Rio e encontro esta bela resenha homenageando todas as mulheres! Que bom ver o Jazzseen funcionando, trazendo de volta os queridos colaboradores, resenhistas e "palpiteiros"...Legal!

Anônimo disse...

Quem rosna é cachorro. Pianistazinha de terceira categoria. Seus eventuais trabalhos como sidewoman de Dizzy Gillespie(final de carreira), James Moody (idem), não a legitimam como pianista de jazz. Está mais para world music, música africana e brasileira. O tempo musical dela é outro. Tenha paciencia!

Anônimo disse...

A Dizzy Gillespie All Star Big Band foi formada em 1998, após a morte de Dizzy, para celebrar sua música tendo como base seu repertório.A presença de Jimmy Heath,Cláudio Roditi,Paquito de Rivera,Frank Wess, Slide Hampton,James Moody,Randy Brecker ,Antonio Hart - além da própria Renee - só reforça seu caráter “All Star”.Maria Augusta,pequei, a homenagem as mulheres deve feita nos 365 dias do ano.Edú

Danilo Toli disse...

Edú, sou mais o Joe Bushkin.

Anônimo disse...

Não percam tempo com porcarias. Ouçam as coisas boas do pianojazz, Bud Powell por exemplo. Quanto as damas, aproveitem também para ouvir as mais qualificadas como Mary Lou Williams, Lorraine Geller, Jutta Hipp, Jessica Williams. Estas sim "senhoras" pianistas.

Anônimo disse...

Caro Predador

Complementando seu comentário anterior, na minha opinião, merecem integrar o seleto primeiro time de pianistas femininas do jazz, pelo menos, as seguintes instrumentistas:
Bertha Hope, Dorothy Donegan, Hazel Scott, Joanne Brackeen, Judy Carmichael, Marian McPartland, Toshiko Akioshi.
Saudações jazzísticas.

Olmiro Müller