20/04/2008

Livro: The Fire Of Tongues

The Fire Of Tongues: Antônio Vieira And The Missionary Church In Brazil And Portugal - Thomas M. Cohen - California: Stanford University Press, 1998. - O padre Antônio Vieira é muito mais conhecido como um grande escritor da língua portuguesa, ainda que sua participação no projeto de dominação católica sobre os povos do Novo Mundo seja sua obra de maior e mais importante relevo. Em seus quase 70 anos de catequese, Vieira vislumbrou e defendeu o papel de destaque e preeminência, de caráter até mesmo profético, do império português no processo de catequização dos povos colonizados. Nesse livro magistral de Cohen, que além de curador da biblioteca Oliveira Lima é professor de História na Catholica University of America, fica evidente o atrito constante entre alguns ideais cristãos e o projeto imperialista português, assinalado aqui, sobretudo, na terra do pau brasil. Habilidoso, perspicaz, extremamente inteligente e antenado, Vieira percebeu e denunciou por escrito diversas inconsistências existentes entre o projeto imperialista adotado pela coroa portuguesa e as palavras de Jesus, sendo, por isso, vigiado e devidamente punido pela Inquisição. O livro açambarca três importantes períodos de Vieira: sua primeira visita ao Brasil, fixado na Amazônia (1653-1661), os cincos anos que passou sob custódia da Inquisição (1663-16667) e seu retorno ao Brasil (1681-1697). Sempre apoiado em seus famosos 'Sermões', Cohen desenvolve sua análise das idéias do jesuíta com fina percepção, destacando pontos que, de fato, revelam a coragem, a originalidade e o espírito revolucionário desse levado jesuíta. Apenas como exemplo, separo o seguinte trecho, que julgo formidável: "Analyzing the gift of prophecy, Vieira argued that every member of society was a potential prophet. This affirmation had a temporal corollary in Vieira's interpretation of the gift of apostleship. Every group that participated in the imperial project - the crown and the settlers, the missionaries and the Indians, the Inquisitors themselves - had a role to play in the schema of progressive revelation that Vieira drew from Scripture and them read into Potuguese history and the history of the missionary church. Vieira assigned no special status to the eclesiastical hierarchy in the interpretation of Scripture; and he claimed that lived experience is a more valuable guide than scholarship for understanding the accidents and contingencies that mark the pilgrimage of the missionary church". Tirando a participação dos inquisidores (que, acredito, só foram incluídos por Vieira para que não o queimassem), tenho como certo que Vieira, se acaso nascido em New Orleans, por volta de 1900, seria um genial músico de jazz e aprontaria muito com Jelly Roll Morton no Storyville. Por fim, não há como ler essa passagem e não lembrar de Mr. Salsa tocando seu sax: puro sentimento, moldado nos bares da vida e nas toruosas vielas e becos, mandando às favas partituras, fórmulas e teorias prontas. Grande livro, grande padre, grande saxofonista. Recomendo os três. E cuidado com os inquisidores de hoje: eles estão à espreita, na defesa do Estado Policial de Mr. Lula e seus amigos corporativos.

7 comentários:

Anônimo disse...

Logo o trecho "formidável"vem em inglês, Lester? Traduz aí, rapaz, preciso saber para entender...

Unknown disse...

Hi John,

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Thanks very much and we look forward to hearing from you!

Best,
Jessica

Salsa disse...

Pô, Lester, eu seria um craque se fizesse com o sax um terço do que Vieira fez com as palavras em seus sermões. Agradeço a comparação.
E agradeço a indicação do livro. Vieira é uma figuraça controversa que merece atenção. Dizem que ele, primeiro, catequizou os portugueses.

Cinéfilo disse...

Vieira era danado mesmo, JL. Uma fera conceptista que fazia Quevedo ficar de quatro. No bom sentido, naturalmente.
Era um jogador de idéias, um imbatível retórico e um dialético de mão cheia. Sabia o que dizer tanto a gregos quanto a baianos.
Há, claro, controvérsias sobre alguns trechos de alguns sermões ("Pelo Bom Sucesso das Armas..." e o "da Sexagenária"). Não sei se esse livro menciona isso, mas, há quem diga que a versão definitiva desses sermões foi feita no século XIX.
Enfim.

É bom lêlo de volta, amigo.
E ainda mais falando de livros.

Grande abraço.

Anônimo disse...

Bem , já que ninguém se habilitava e como sou contumaz critico da transposição de textos em outros idiomas , esse era apenas um breve trecho em destaque – sem ao menos uma tradução livre - em outros blogs de jazz, tomei atrevimento e coloquei a “tradução livre” sujeita , evidentemente, a correções e reparos à pedido da nossa considerada Maria Augusta.Edú
Analisando a dádiva da profecia, Vieira argumenta que todos membros de sociedade são potenciais profetas. Esta afirmação é um corolário temporal na interpretação de Vieira da dádiva do apostolado. Todos grupo que participou do projeto imperial:a coroa e os colonizadores , os missionários e os indígenas , os Inquisidores, si próprios, tinham um função a desempenhar na esquema de contínua revelação que Vieira elaborou das escrituras e na leitura para o português histórico e das missões religiosas. Vieira não atribuía especial valor a hierarquia eclesiástica na interpretação das escrituras ; ele clamava que experiência real é o mais valioso guia do que uma bolsa de estudos para compreensão dos acidentes e contingências que marcam a peregrinação missionária da Igreja ".

Sergio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sergio disse...

Lidas as duas postagens, esta, a de cima e seus respectivos comentários (não tudo ao mesmo tempo agora, claro), deixo uma breve observação: Edu é um cavalheiro, Lester. A fidalguia o impede de admoestar, no sentido mais grave da palavra. Ele então aconselha, lembra, no máximo, levemente repreende. Essa é minha leitura e a tradução do Edu. Mas sem acento, óbvio.