22/04/2008

Swing - Parte I

A música popular norte-americana produzida na década de 1920 foi rica em ‘bandas’ populares de diversos tipos e formações: marching bands, quadrille orchestras, plantation brass bands, light music e salon orchestras, quase todas elas com menos de dez integrantes. Por outro lado, os chamados ‘combos’ de jazz dos anos 1920, nascidos a partir das brass bands de New Orleans, quase sempre possuíam seis integrantes básicos: corneta, clarinete, trombone, banjo, tuba e bateria. O violino também era encontrado com bastante freqüência e, quando não estavam tocando nas ruas, em picnics ou cemitérios, esses combos também utilizavam o piano e, mais tarde, o contrabaixo no lugar da tuba e a guitarra no lugar do banjo. Embora alguns poucos críticos discordem, o fato é que não temos notícia da utilização de saxofones nesses primeiros combos, salvo raríssimas exceções. Assim, denominar a Era do Swing como a Era das Big Bands equivale a não dizer quase nada. De fato, as bandas de swing nascem a partir da estrutura dos combos, mas com uma característica essencial em sua formação: o surgimento das seções de saxofones (reed sections). Ordenados como nos coros, as big bands iniciais do swing possuíam um saxofone alto, um ou dois saxofones tenores e, mais raramente, um saxofone barítono. Na maioria dos casos o instrumento líder era um saxofone alto, quase sempre capaz de tocar também o clarinete. Claro que, aqui e ali, surgiam variações, como nas bandas de Glenn Miller ou Benny Goodman, onde o clarinete ainda se mantinha como instrumento líder. Em outras bandas havia acréscimos de determinadas ‘vozes’, como na de Woody Herman, onde três saxofones tenores davam um ar mais soturno e grave à sua orquestra ou, ainda, na de Claude Thornhill, onde trompas (french horns) e clarinetes eram adicionados, fornecendo-lhe aquela aura etérea de música de câmera. Mas fica claro, então, que as big bands do swing, embora não fossem ‘big’, eram somente um pouco maiores que os combos que lhes deram origem, tendo em média 14 integrantes dispostos em três seções (sections): rítmica (rhythm), de metais (brass) e de saxofones (reed). A seção rítmica era formada normalmente por piano, guitarra, contrabaixo e bateria. A seção de metais era dividida em trompetes (trumpet section) e trombones (trombone section), variando entre dois e cinco trompetistas e entre um e cinco trombonistas. A seção de saxofones ficava separada dos instrumentos de metal, embora, tecnicamente, o saxofone também seja um instrumento feito de metal. É que o saxofone, assim como a flauta, tem sua origem a partir dos instrumentos de sopro de madeira (woodwind), como o clarinete e o oboé, tendo com eles em comum o fato de possuir palheta em sua boquilha (trompete e trombone não possuem palheta). Normalmente a seção de saxofones possuía de três a cinco instrumentos e, a partir do final da década de 1930, o padrão era dois saxofones altos, dois tenores e um barítono. O saxofone soprano (assim como o saxofone baixo) nunca foi muito comum nas bandas de swing, embora sua presença tenha sido significativa em alguns casos, como no de Sidney Bechet que, durante a era do swing, trocou o clarinete pelo saxofone soprano. Em regra, os líderes das seções de metais e de saxofones ocupavam o lugar central na orquestra, ficando os demais instrumentistas dispostos em linha, ao lado do líder. Era comum, ainda, que os saxofonistas tocassem outros instrumentos, em especial o clarinete. Além do domínio do saxofone sobre seus rivais trompete e clarinete no papel de instrumento solista, o Swing trouxe uma série de inovações em relação aos estilos anteriores do jazz – New Orleans e Chicago. No Swing observamos a utilização sistemática de arranjos escritos, ao lado de uma redução drástica da improvisação coletiva, destacando-se cada vez mais o papel do solista. Há também uma alteração importante do ritmo que passa do simples two beats para o mais sutil e suave swing eighth-note patterns, sobre o qual discorreremos mais adiante. Outras mudanças importantes são o abandono da lenta e sonolenta tuba pelo contrabaixo, instrumento que, nas mãos de músicos como Jimmy Blanton, revelaria sua insuspeita vocação melódica, além de permitir uma crescente complexidade rítmica, cujos resultados seriam absorvidos mais tarde pelo bebop. A bateria (assim como o contrabaixo), inicialmente limitava-se a marcar o tempo para que o público pudesse dançar confortavelmente – não podemos esquecer que o principal objetivo das bandas de swing era produzir música para dança. Embora mais lentamente que o contrabaixo, a bateria também avançaria além dos simples recursos de efeito e embelezamento, participando cada vez mais da ampliação do papel desse instrumento no jazz. Ao contrário do primeiro jazz, onde músicos amadores permitiam-se tocar de ouvido como bem entendessem, no Swing os músicos demonstram crescente habilidade técnica, agilidade, afinação e passam a ser obrigados a ler partituras, sob pena de não serem contratados pelas grandes orquestras. Em nossa próxima resenha sobre o Swing vamos conversar sobre outras características desse estilo incrível e importante para a história do jazz. Para tanto será preciso ter em mente que o Swing foi o estilo mais popular e de maior sucesso do jazz, sucesso jamais igualado pelos demais estilos que o precederam ou sucederam. Enquanto isso, podemos ouvir Fletcher Henderson ( ) aqui.

12 comentários:

Anônimo disse...

Parabens Lester,
Muito bom o texto.

Osvaldo
www.mpbjazz.blogspot.com

Salsa disse...

Lester nos propicia mais uma aula de primeira e mostra que boa parte da alma do jazz, dos fundamentos do jazz está no suíngue. As modificações na estética jazzista marcaram forte.

Anônimo disse...

Lester, não li ainda o texto só me permito sugerir que essa nova série seja mais fragmentada(três ou quatro partes) para que a leitura dos visitantes possa ser facilitada na tela.O Salsa foi um dos pais (não quero saber quem foi a mãe rs,rs,...) do Jazzseen é seu entusiasmo e apoio ao seu ressurgimento reflete a opinião de um dos criadores de um projeto bem sucedido.Edú

Anônimo disse...

Olha só quem está pedindo a fragmentação do tema: sr. Edú, um emérito escritor de textos quilométricos e laudatários. Pode? Satisfação imensa pelo seu retôrno, sr.Lester, abordando um gênero musical super interessante, o swing. Beleza!
E mais: quando o assunto é bom, lemos com prazer, não importando a "extensão" do texto.

Anônimo disse...

Bom chegar no Jazzseen e encontrar informação, música e opiniões dos jazzistas e/ou simplesmente amantes do Jazz, como eu, que estou sempre aprendendo quando passo por aqui. E que ritmo legal, o Swing!

Anônimo disse...

Preciso entrar em contato com o dono deste blog, á respeito de um texto publicado em "01-05-07" título "1º Festival Canela Verde de Música e Ecologia". Contato: ong_parceirosdobem@yahoo.com.br ou ONGPABE.BLOGSPOT.COM

Anônimo disse...

E um dia se disse que o o Brasil estava totalmente excluído de qualquer possibilidade de abalo sísmico(terremoto).Voltando ao jazz, resenha bem didática e acessível,cumprindo – na minha opinião – uma das missões do blog :conduzir ,caso haja interesse, informação ás gerações recentes.O swing prosperou num contexto social de cruel recessão econômica consecutiva por 8 anos á partir de 1929. Na época, tornou-se hábito perverso acostumar-se a presença de milhões de pessoas enfileiradas pelos EUA na busca de um prato de sopa nas entidades filantrópicas.Num ambiente inóspito dessa natureza músico “perigava matar um leão por dia apenas para dar conta de seus entes”.Foi a época da maior proliferação de talentos do jazz.Na dificuldade absoluta e que se destaca a gana ,competência e criatividade pra reverter esse destino.Edú

Marília Deleuz disse...

Delícia de resenha Lester. Quero mais!

Anônimo disse...

É preciso rir mesmo...esse Edú é engraçado. Escreveu epopéias quase ilegíveis aqui no jazzseen e agora quer domesticar o texto alheio...hehehe..dá-lhe, Predador!
Mandou bem. Quando o texto é bom, lemos com prazer.

Fernando

Anônimo disse...

Informação prestada por Luiz Carlos Antunes, o venerável Mestre Llulla , um dos maiores conhecedores de jazz do Rio de Janeiro: o saxofonista tenor Phil Urso morreu aos 82 anos dia 8 de abril.Urso foi um dos diversos casos clássicos de sidemen que contribuiu com seu mérito e talento para o sucesso de outrem – no caso Chet Baker.Participante do combo de Chet durante os anos de 56/57 , os melhores do trompetista, Urso utilizou seu timbre sóbrio e articulado - influenciado por Lester Young - nos discos de Baker “Playboys”,”Chet Baker and Crew”,”Chet Big Band”.Antes da convivência com Baker, participou nos anos 50 de trabalhos com Miles Davis e Jimmy Dorsey.Dividiu liderança por um breve período com o trombonista Bob Brookmeyer num grupo que prometia tendo a formação de Horace Silver (p),Kenny Clarke(bat) e Percy Heath(b ac).Em 1964, retomou a companhia de Chet por curto espaço de tempo, sem o mesmo brilho.Já estava acentuado no trompetista , após descerrar seu olhos no encerramento dos solos, a perseguição visual ao fornecedor de narcóticos da vez. Descanse em paz.Edú.

John Lester disse...

Em considerando o tema Swing, objeto de nossa apreciação em abril, eu somente acrescentaria às sempre valorosas admoestações do amigo Edú o papel chave desempenhado por Vido Musso na banda de Benny Goodman, na fase áurea do Swing. Embora não fosse aclamado por suas habilidades técnicas superiores - sobremodo quando comparado ao genial clarinetista judeu e seus demais músicos - Vido fornecia aquele contraste ríspido, cru, quase beirando o grotesco, destacando ainda mais o macio swing da banda de Goodman. Um grande saxofonista, atleta das estradas do jazz, sobre o qual já traçamos breve homenagem.

JL.

Unknown disse...

muito obrigada! Bem, enquanto o seu é direcionado, o meu é sobre o que me vier na telha. que bom que blogs tão diferentes se admiram =] seja bem-vindo mais vezes.