A palavra ‘swing’ determina, ao menos, três significações fundamentais para o dicionário do jazz. Quando iniciada com letra maiúscula, a palavra Swing tanto serve para designar o segundo maior estilo do jazz (o primeiro foi o New Orleans) quanto para dar nome a um importante selo francês de jazz. Já quando escrita com s minúsculo, a palavra swing serve para designar uma qualidade atribuída às performances de jazz. Embora muitos músicos e estudiosos tenham tentado, até hoje não se conseguiu (Deus existe!)descrever ou definir satisfatoriamente o que seria o swing (alguns românticos batem na mesa e chegam a afirmar que é impossível colocá-lo numa partitura). Para outros, o swing não pode ser explicado em sua plenitude, mas apenas sentido. É como diz a velha máxima atribuída a Mestre Grijó: se você precisa perguntar o que é swing, então jamais saberá. E, na verdade, os próprios músicos de jazz parecem não se importar muito com a questão. A maioria dos especialistas que se aventuram a decifrar o swing parece concordar que ele é, essencialmente, um fenômeno rítmico, isto é, a coisa toda se dá a partir da pulsação ou ‘batida’ (beat). Será no conflito entre uma pulsação fixa (fornecida pela seção rítmica) confrontada e desafiada por diversas pulsações distintas (fornecidas pelos demais instrumentos) que encontraremos o swing. A partir dessa pulsação básica, fornecida quase sempre pelo contrabaixo e pela bateria, os demais músicos da banda apresentam suas variações de ritmo, seja através de síncopes (inversões nas acentuações do tempo forte do compasso), superposição de outro ritmo, aceleração ou desaceleração do tempo, inflexões inusitadas de certas notas, alterações de timbre, vibratos e muitas outras estratégias, sem falar na alteração do ritmo pela própria seção rítmica, quando contrabaixo e/ou bateria também participam ativamente da produção do swing desejado. Sim, porque há diversos tipos de swing, por isso há diversos estilos de jazz. Claro que houve uma época em que swing e jazz significaram a mesma coisa, exatamente no período que estamos tratando, denominado de Era do Swing ou Era do Jazz. Por sua extrema popularidade e sucesso, a espécie (Swing) acabou por dar nome ao gênero (jazz).
Na verdade, o swing do Swing ( ) foi realmente contagiante, mas é preciso deixar claro que há o swing do New Orleans, o swing do Bebop ( ) e assim por diante. Bem, por volta de 1930, ao contrário do que ocorria no estilo anterior, o New Orleans, observamos que no Swing o improviso coletivo foi substituído pelo improviso solo, os conjuntos aumentaram, o repertório é baseado na música popular norte-americana (Tin Pan Allen), ampliando consideravelmente o repertório do jazz e angariando uma parcela muito mais ampla do público e, mais que tudo, o marcial compasso 2X2, típico do primeiro jazz, foi substituído pelo compasso 4X4, mais maleável e tratado de forma menos acentuada quanto aos tempos fortes (daí o apelido de ‘four-beat jazz’ dado ao Swing). Essa sutiliza, velocidade e destreza do novo ‘swing’ foi possibilitada, entre outros fatores, pela substituição da atravancada tuba pelo lépido contrabaixo, do alegre banjo pela discreta guitarra e, sobretudo, pela bateria, que passa a marcar o tempo não mais com o assustador bumbo (bass drum) e as estridentes caixas (snare drum) e sim com os mais sutis chimbal (hi-hat) e pratos (ride cymbal), suavizando sobremodo a marcação do tempo, que passa a ‘deslizar’ ao invés de ‘marchar’ (veja foto do drum kit acima: 1 – Bass drum (bumbo), 2 – Floor tom (surdo), 3 – Snare (caixa), 4 – Tom (tom-tom), 5 – Hi-hat (chimbal), 6 – Crash cymbal e Ride cymbal (pratos) e clique AQUI para ouvir os sons de cada componente de uma bateria). Se compararmos com as bandas do primeiro jazz, fica fácil constatar que o ritmo harmônico do Swing é não apenas mais célere, como também parece que o tempo dobra dentro do compasso, permitindo que o solista aproveite essas mudanças para improvisar livremente sobre a melodia. Daí porque verificamos que a potência e o timbre dos primeiros músicos de jazz são obrigados a negociar com o virtuosismo técnico, fazendo surgir instrumentistas como Coleman Hawkins, Lester Young, Roy Eldridge, Art Tatum, Benny Goodman e outros, tecnicamente capazes de aproveitar ao máximo as raras e curtas oportunidades de improviso durante a interpretação de um tema.
Outra novidade trazida pelo Swing foi a oportunidade oferecida a alguns instrumentos para que passassem a improvisar: a bateria (Gene Krupa e Chick Webb), o contrabaixo (Jimmy Blanton - foto acima), o vibrafone (Lionel Hampton e Red Norvo) e a guitarra (Charlie Christian e Django Reinhardt) passam a confabular melodicamente com clarinetes, trompetes e saxofones. E foi assim: por volta de 1932, estava determinada a formação básica das bandas do Swing, compostas por 13 músicos (3 trompetes, 2 trombones, 4 saxofones, piano, guitarra, contrabaixo e bateria). Com poucas variações, assim eram as formações das principais bandas do Swing, como as de Fletcher Henderson, Count Basie e Benny Goodman. Mas, vale lembrar que o Swing não eliminou as pequenas formações, muito apreciadas pelos grandes solistas, porque assim podiam demonstrar com mais espaço suas qualidades musicais, ampliando inclusive o repertório das big bands, quase que exclusivamente formado por música de dança. Foram importantes nesse cenário os trios, quartetos, quintetos e sextetos de músicos como Art Tatum, Fats Waller, Count Basie, Teddy Wilson, John Kirby, Coleman Hawkins ( ), Benny Carter, Johnny Hodges, Henry ‘Red’ Allen, entre outros. Nas próximas resenhas, falaremos sobre o selo francês Swing e daremos continuidade à série Swing. Até lá!
Na verdade, o swing do Swing ( ) foi realmente contagiante, mas é preciso deixar claro que há o swing do New Orleans, o swing do Bebop ( ) e assim por diante. Bem, por volta de 1930, ao contrário do que ocorria no estilo anterior, o New Orleans, observamos que no Swing o improviso coletivo foi substituído pelo improviso solo, os conjuntos aumentaram, o repertório é baseado na música popular norte-americana (Tin Pan Allen), ampliando consideravelmente o repertório do jazz e angariando uma parcela muito mais ampla do público e, mais que tudo, o marcial compasso 2X2, típico do primeiro jazz, foi substituído pelo compasso 4X4, mais maleável e tratado de forma menos acentuada quanto aos tempos fortes (daí o apelido de ‘four-beat jazz’ dado ao Swing). Essa sutiliza, velocidade e destreza do novo ‘swing’ foi possibilitada, entre outros fatores, pela substituição da atravancada tuba pelo lépido contrabaixo, do alegre banjo pela discreta guitarra e, sobretudo, pela bateria, que passa a marcar o tempo não mais com o assustador bumbo (bass drum) e as estridentes caixas (snare drum) e sim com os mais sutis chimbal (hi-hat) e pratos (ride cymbal), suavizando sobremodo a marcação do tempo, que passa a ‘deslizar’ ao invés de ‘marchar’ (veja foto do drum kit acima: 1 – Bass drum (bumbo), 2 – Floor tom (surdo), 3 – Snare (caixa), 4 – Tom (tom-tom), 5 – Hi-hat (chimbal), 6 – Crash cymbal e Ride cymbal (pratos) e clique AQUI para ouvir os sons de cada componente de uma bateria). Se compararmos com as bandas do primeiro jazz, fica fácil constatar que o ritmo harmônico do Swing é não apenas mais célere, como também parece que o tempo dobra dentro do compasso, permitindo que o solista aproveite essas mudanças para improvisar livremente sobre a melodia. Daí porque verificamos que a potência e o timbre dos primeiros músicos de jazz são obrigados a negociar com o virtuosismo técnico, fazendo surgir instrumentistas como Coleman Hawkins, Lester Young, Roy Eldridge, Art Tatum, Benny Goodman e outros, tecnicamente capazes de aproveitar ao máximo as raras e curtas oportunidades de improviso durante a interpretação de um tema.
Outra novidade trazida pelo Swing foi a oportunidade oferecida a alguns instrumentos para que passassem a improvisar: a bateria (Gene Krupa e Chick Webb), o contrabaixo (Jimmy Blanton - foto acima), o vibrafone (Lionel Hampton e Red Norvo) e a guitarra (Charlie Christian e Django Reinhardt) passam a confabular melodicamente com clarinetes, trompetes e saxofones. E foi assim: por volta de 1932, estava determinada a formação básica das bandas do Swing, compostas por 13 músicos (3 trompetes, 2 trombones, 4 saxofones, piano, guitarra, contrabaixo e bateria). Com poucas variações, assim eram as formações das principais bandas do Swing, como as de Fletcher Henderson, Count Basie e Benny Goodman. Mas, vale lembrar que o Swing não eliminou as pequenas formações, muito apreciadas pelos grandes solistas, porque assim podiam demonstrar com mais espaço suas qualidades musicais, ampliando inclusive o repertório das big bands, quase que exclusivamente formado por música de dança. Foram importantes nesse cenário os trios, quartetos, quintetos e sextetos de músicos como Art Tatum, Fats Waller, Count Basie, Teddy Wilson, John Kirby, Coleman Hawkins ( ), Benny Carter, Johnny Hodges, Henry ‘Red’ Allen, entre outros. Nas próximas resenhas, falaremos sobre o selo francês Swing e daremos continuidade à série Swing. Até lá!
18 comentários:
Essa resenha é dedicada ao amigo Olney.
Grande abraço, JL.
Lester,gostaria de aproveitar a oportunidade antes da minuciosa leitura de sua resenha e comentário para agradecer aos nossos amigos e colegas dos blogs MPBJAZZ(Osvaldo),CharutoJazz(Manim),SergioSonico(Sérgio) e Jazzigo por acolherem minha sugestão a leitura do interessante texto de Roberto Muggiati(um dos "papas" do conhecimento de jazz no pais)reproduzido pelos teus amigos do site www.clubedejazz.com.br. Obrigado pela consideração companheiros.Aos interessados em jazz e bossa nova recomendo, aqui, a leitura do texto "e o samba deu o troco".Após a leitura da segunda parte dedicada ao swing.
http://www.clubedejazz.com.br/noticias/noticia.php?noticia_id=620
Edú.
Muggiati no Clube do Jazz???
Tem coisa melhor?
Grande abraço, JL.
Tem sim,ué,a série "Swing" no Jazzseen.Edú
Boa demais essa série. Parabéns!
Beleza de resenha,Lester! O modo de escrever, as informações e os exemplos( nas radiolas),o som dos componentes da bateria...muito legal mesmo! Vou esperar a proxima...!
Bom ver, ler e ouvir o Jazzseen em pleno funcionamento. Aguardo mais sobre o suingue.
Gostei imenso da resenha, para mim, que adoro ouvir mas não sou conhecedora do assunto, é muito bom acompanhar estas séries, did´ticas e agradáveis, ainda por cima com exs. tipo Maritat, com Sonny Rollins :adorável!
Esse tal de Lester só fala bobagem!!! Não colocou nada sobre Benny Goodman, o verdadeiro Rei do Swing. Lamentável!
Êle disse q. vai continuar c/ a série, calma senhor comendador...e dizer que mr. Lester só fala bobagem, além de indelicado , não é vero!
Gostei muito da resenha e vou esperar pelas próximas, parabéns, mr. Lester.
Dureza, hein, lester. Fiz um som com a batera. Maneiro, mas swing que é bom não rolou.
Valeu a aula.
Jovem Lester;
Bom saber de seu retorno, suingando.
1,2,3,4...1,2,3,4...
RCoimbra
A palavra "swing"(troca de casais) se escreve com que letra sr.Lester: maiúscula ou minúscula?Independente disso, seu artigo é bastante ilustrativo e muito interessante.
Uma aula - e não somente para iniciados.
A prosa de JL já é suingada. Há quem diga que se pode dançá-la.
O swing reordenou a própria convivência social das famílias.Juntas, elas se reuniam num mesmo cômodo na frente do rádio e escutavam entretidas as transmissões que pela primeira vez executavam essencialmente música consecutivamente por 3 a 4 horas.Edú
Obrigado, Lester, me sinto honrado pela dedicatória; e parabéns pela resenda, uma maravilhosa "aula" sobre o assunto.
Um abraço!
E gostei muito da afinação dessa bateria virtual; fiquei um bom tempo me divertindo com ela...
Grande Lester.
Saudações ao amigo!
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