23/03/2009

You Don't Know Her

Há muita controvérsia sobre o papel da mulher no jazz. Talvez a questão esteja de fato limitada, como afirma o amigo Frederico Bravante, às características físicas específicas da mulher, quase sempre as afastando de certos instrumentos, como o trompete, o trombone, o contrabaixo acústico ou, com menor incidência, os saxofones tenor e barítono. Ao aspecto estritamente fisiológico devemos associar o machismo que caracteriza decrescentemente a história humana, impedindo que homens e mulheres pudessem produzir cultura em eqüidade e equilíbrio. A depender da grande maioria dos homens, certamente as mulheres ainda estariam nas cozinhas ou nas saletas de chá, tricotando ou embalando seus gordos bebês. Na melhor das hipóteses, poderiam interpretar Chopin em seus doces lares, num piano comprado por seus pais ou maridos. John Lester mesmo sempre disse que há muitas cantoras no jazz pela simples razão de que a voz é um instrumento barato, fácil de transportar e que raramente podia ser retirado da mulher por seu homem para comprar bebida. E a breve história do jazz de 1900 a 1970 não nos deixa mentir: para cada centena de grandes cantoras, encontramos talvez meia dezena de grandes pianistas, quadro ainda mais reduzido quando procuramos por saxofonistas ou trompetistas. Eu mesmo só ouvi ao vivo uma contrabaixista em toda a minha vida: a bonita loira Nikki Parrott, sidewoman de Les Paul, no Iridium de New York. Durante o show conheci atônito o lado brincalhão do genial e octogenário guitarrista, que durante o show fazia piadas do tipo: “Estou me sentindo como Ray Charles quando encontrava o assento” (entrando em cena); ou “Quando toco penso na irmã de minha esposa” (agradecendo o entusiasmo do público); ou, ainda, “Ela é uma grande bunda (ass), digo, aquisição (asset)” (referindo-se à contrabaixista do grupo). Jennifer Aniston, a estrela de Hollywood, que estava bem próxima a Lester, não gostou da piada e retirou-se do clube, talvez em sinal de protesto. Mais tarde, enquanto comíamos uma pizza de peperoni nas proximidades de Grand Central Terminal, perguntei a Lester porque, ainda hoje, havia tantas cantoras e tão poucas instrumentistas. Lester disse que, a partir da década de 1980, esse quadro vem se alterando significativamente. A virilidade dos primeiros tempos do jazz tem experimentado cada vez mais a sensível inteligência feminina. E com tudo de bom que isso significa. Quem poderia supor que a deliciosa escovinha que ouvimos nos discos de Susie Arioli não é obra de nenhum baterista, que baterista não há no grupo. Essa gostosa escovinha, que é quase um carinho como diz Lester, surgiu porque Susie não sabia onde colocar as mãos durante suas apresentações. Coisa de mulher ou não? Para os amigos fica a faixa You don’t know me , com a canadense e seu fiel guitarrista Jordan Officer.

23 comentários:

Anônimo disse...

Bob,
Les Paul, atração regular de todas as segundas no Iridium, já cruzou a faixa dos 93 aninhos.Jennifer Aniston abandonou a apresentação, segundo os comentários das garçonetes do clube, não pelos comentários sexistas do guitarrista mas cedendo aos insistentes apelos de seu então marido ,Brad Pitt , diante dos indiscretos olhares q lançava na direção de JL.Certo dia alguém escreveu num eminente blog de jazz carioca q o jazz canadense inexistia.Bull shit.

John Lester disse...

Bem, desse detalhe dos 'olhares indiscretos' pouquíssimas pessoas sabiam, o que indica que, ou nosso amigo Edù estava lá naquela noite, ou possui um informante de altíssima qualidade.

Obrigado Roberto por enriquecer março, o Mês Jazzseen das Mulheres, com a deliciosa voz de Susie.

Grande abraço, JL.

Notícias Mundo Afora disse...

Como sempre o olhar machista da maioria dos homens ditaram e ainda ditam de certa forma as regras de um jogo que, Graças a Deus, está mudando. E mudando significamente. Sem querer aqui fazer nenhum discurso "feminista", até porque não sou e não defendo as idéias radicais desse grupo, creio que se não estamos em melhor posição na música ou em qualquer outro campo da vida humana é meramente pela repressão masculina que nos considera uma "ameaça" à sua hegemonia em quase tudo na vida. Opa! Conversa boa pra uma boa dose de uísque em mesa recheada de amigos...:) Parabéns pela clareça do texto. Abraçosssssssssss

Anônimo disse...

Mr. Lester,
todos os posts no mes de março serão sobre as mulheres no jazz? Acho otimo e sugiro que alguem escreva sobre a grande Terry Lynne Carrington ,super baterista de jazz com uma impressionante discografia.
Quanto a afirmação de que o toque das escovinhas é quase um carinho devo dizer que depende do que seja considerado carinho. Ha que se exercer um certa pressão das escovas contra a pele da caixa para podermos produzir um som consistente e que envolva o grupo, gerando um groove. Essa pressão é feita utilizando os musculos do ante braço. Philly Joe Jones é pra mim o modelo de sonoridade nas vassourinhas. Na gravação em questão achei bobinha a vassourinha,assim como a voz e a guitarra. Total falta de malandragem,falha imperdoavel numa performannce jazzistica.
Ha carinhos de todos os tipos,creio eu.
Abraço

John Lester disse...

Prezado Tandeta, carinho eu prefiro o da Susie Arioli. Mas respeito aqueles que preferem o de Philly Joe Jones.

Como dizia vovô Acácio: carinho é carinho, jazz é jazz.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Nos comentários se aprende: de um lado, q tocando bateria com vassourinhas se fica com antebraço de Popeye e no outro , na minha opinião,se "apequena" demais o escopo da resenha se partirmos de vez para a batalha dos sexos.Como reconhecido abstêmio q sou prefiro minha clareza (com z ) e sem gelo.

Marília Deleuz disse...

Adorei a música. Beijo Roberto!

Anônimo disse...

Mr. Lester,
claro que prefiro Philly Joe Jones. Ele encabeça a lista daqueles que considero Mestres nas vassourinhas: Shelly Manne, Larry Bunker,Mel Lewis,Paul Motian,Kenny Clarke, Art Taylor,Marty Morell,Elvin Jones e Alan Dawson. No Brasil:Helcio Milito (Tamba Trio) e Paulo Braga.
Um abraço com respeito,admiração e carinho.

Salsa disse...

Ah, Susie, pois é, eu não te conheço, e deu uma preguiça danada ao ouvi-la.
Abraços

Anônimo disse...

escovinha nociva

Sandra Leite disse...

É Roberto, (cê tá em casa?):)

Quer dizer que Brad e JL não se dão bem?:) Mulheres, sempre destruindo grandes amizades:D
Eu não sou defensora da mulher jazzista ou jazz feminino (isso existe?), muito menos do homem. Prefiro o Jazz. Que ele tenha elegância e seja sempre executado com maestria. Tudo que o R. Scardua indica vale a pena ser conferido. Dá vontade de sair por aí dançando, nessas noites de outono em que tudo fica mais ...fica mais.
Adorei, Scardua:)

beijo

Anônimo disse...

Cometi duas lamentaveis omissões de Mestres das vassourinhas na lista que esta ai em cima.
Ed Tighpen e Jeff Hamilton.
Tighpen é o baterista do historico trio de Oscar Peterson,junto com Ray Brown.
Jeff Hamilton é "A" referencia contemporanea de vassourinhas.
Espero que esses nomes despertem a curiosidade de alguns de voces. Todos são musicos que ajudaram a escrever o livro do jazz.
Abraço

Andrea Nestrea disse...

eu adoro susie arioli. e vou procurar a nikki!

John Lester disse...

Prezado Tandeta, só adicionaria um dos maiores bateristas de todos os tempos, que iniciou a carreira com 1 ano e meio, sendo absolutamente autodidata: Buddy Rich.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Mr. Lester,
otima lembrança.
Abraço

Sergio disse...

Ô, meu deus! Artista não é atleta.

Anônimo disse...

Mr. Lester,
a proposito:Buddy Rich participou de uma gravação maravilhosa com Nat King Cole e Lester Young(é mole?)onde toca principalmente vassourinhas e é claro que com uma performance sensacional,como sempre. Não sei o nome do disco pois só conheço algumas faixas que estão em uma coletanea de Lester Young. Tenho certeza que alguns dos amigos(Edú,por exemplo) saberão qual é o disco. Tres genios fazendo musica de altissimo nivel juntos.
Abraço

John Lester disse...

Prezado Tandeta, até onde sei, a Definitive Records ( http://www.disconforme.com/ ) lançou, pela primeira vez, as gravações completas das duas únicas sessões de estúdio gravadas por Lester Young e Nat, em 1942 e 1946, ambas em Los Angeles. Além disso, o cd traz duas faixas gravadas pelos dois durante uma transmissão de rádio, em 1946, também na California. Buddy Rich só não aparece na sessão de 1942, gravada em trio com Red Callender (b).

Como você disse, foram encontros raros mas perfeitos, onde estilos e personalidades fortemente distintas produziram música de grande beleza.

Recomendo sem hesitação. Grande abraço, JL.

Rogério Coimbra disse...

Já que vcs citaram mais da metade dos bateristas vivos e mortos não é demais lembrar das vassouradas de Joe |Morello e Connie Kay.

Anônimo disse...

Prezados amigos,

as gravações de Lester Young, Nat King Cole e Buddy Rich foram reunidas, pelo meu conhecimento, num disco denominado Lester Young Trio lançado em forma de cd em 1994 selo Verve de origem em 1946.Quatro faixas adicionais - ás dez originais do trio acima - foram colocadas para ampliar a duração do cd com Nat tocando com Dexter Gordon e o trumpetista Harry Sweets Edison em gravações prévias do ano de 1943.Em 2004, o clarinetista e saxofonista Don Byron prestou tributo ao trabalho de 1946 lançando pela Blue Note o cd Ivey-Divey.Byron reedita a formação do trio de Lester Young se colocando no lugar do líder e tendo como parceiros Jason Moran no piano e Jack DeJohnette na bateria.Quatro faixas do trabalho original de Young (I Want to Be Happy,Somebody Loves Me - em dois takes,I Cover The Waterfront,I´ve Found a New Baby)foram revisitadas pelo trio de 2004 para efeito de comparação ou homenagem.

Anônimo disse...

Mr.Lester e Edú,
grato pelas informações.
Esse é um disco de JAZZ.
Abraço

figbatera disse...

E entre os vivos eu cito também o CLAYTON CAMERON que muito me impressionou; até já fiz uma postagem sobre ele no meu blog.
O que vc acha Tandeta?

figbatera disse...

Eu não entendo pq alguns(mas) comentaristas daqui não liberam o acesso a seus blogs; casa da Marília e, agora, da "Ava". Então, pra que botar o link né?
Será pra nos deixar mais curiosos? rs