Era já madrugada quando percebi que, ano que vem, a década termina. Antes que amanhecesse, telefonei para Lester e sugeri uma nova coluna, em homenagem aos anos 2000’. Ele estava secando o chão da cozinha, agora permanentemente alagado com a urina de sua bassê de 14 anos, Joana. A fluida incontinência urinária deve-se a um tumor inoperável na supra-renal que, explicou Lester, não bastasse em si, ainda provocava na dócil cadela a tal “fome incoercível”. Ela come qualquer coisa que se mova ou exale algum odor atraente. Outro dia comeu minha conta de luz e um pé de meia, resmungou Lester. Então, em tom seco, aprovou minha idéia e deu nome à nova coluna: “O Jazz Morreu”. Antes de desligar, disse que eu deveria começar falando sobre Terell Stafford, trompetista nascido em Miami e radicado em Chicago. Considerado por McCoy Tyner como sendo um dos melhores trompetistas da atualidade, aos treze anos conhece o instrumento e toca em bandas de colégio. Admitindo a forte influência de Clifford Brown, Terell faz estudos clássicos na University of Maryland. Mais tarde, e sob o incentivo de Wynton Marsalis, aperfeiçoa os estudos com William Fielder na Rutgers University, onde obtém o grau de mestre. É nesse período que inicia o trabalho com a banda Horizon, de Bobby Watson, um dos mais perspicazes discípulos de Art Blakey. Assim como Bobby fez no Jazz Messengers, Terell aprende no Horizon a prática de compor, fazer arranjos e liderar. Sua próxima experiência de peso seria ao lado de McCoy Tyner e sua banda Latin All-Star Band, onde conhece instrumentistas como Steve Turre e Dave Valentin. Ainda no contexto de sideman, Terell trabalha com Benny Golson, Kenny Barron, Frank Wess, Jimmy Heath, Jon Faddis, Diana Krall, Alvin Queen, Cedar Walton, Sadao Watanabe, Herbie Mann e muitos outros músicos e bandas importantes, como a Vanguard Jazz Orchestra, organizada por Mel Lewis e Thad Jones, atuante há mais de 33 anos no club Village Vanguard. Em 1995 grava para a Candid o primeiro de seus quatro álbuns como líder, sendo o último, Taking Chances: Live at The Dakota, o melhor deles. Para os amigos conferirem que o jazz morreu, fica a faixa Shake It For Me , com Tim Warfield (ss, ts), Bruce Barth (p), Derrick Hodge (b) e Dana Hall (d). O álbum foi gravado em 2005 e lançado em 2007 pelo selo Maxjazz.
16 comentários:
Muito bom Paula, beijo!
Divisão para quebrar costelas. O sopano de Warfield é bom. Gostei.
trompete sinistro
With his rich trumpet tone and delicate manner, Terell Stafford brought his quintet into Minneapolis Dakota Bar and Grill in June, 2005 for this well-received concert performance. They got the sound just right, and the musicians provided their audience with an unforgettable experience.
Stafford plays it cool. He got no axe to grind, no pretense of machismo to blast forth, and no reason to imitate the newest tricks on the block. He is a conservative. The trumpeter has the chops to do whatever he wants to, but he prefers to keep it simple with this recommended album. Genuine melody and a pious desire for all things lyrical keep Stafford and his quintet on track for a timeless look at the beauty of jazz from the inside.
Tradition, a love of the familiar, and a bit of the original give the trumpeter program plenty of variety. He caresses a mellow ballad with the same sensuous manner that he employs on up-tempo romps.
Surprisingly, he takes Jesus Loves Me to heart with an outside approach that lights creative fires along the way. Stafford's bright trumpet picks this one up a few notches as he explores the potential of passion. It's a veritable suite of changing moods that puts everyone to work on a challenge. As is usually the case, audience reaction seems to push the quintet even harder.
Blues for J.T. finds the band scoring high marks for its powerful groove and magnetic pull. Here, Stafford shows his best side as he loosens up and pours it out naturally. If ever there was a genuine guy, this is the one. He reaches deep down inside and comes up with a blues to move you soundly.
The trumpeter's warm, golden sound resonates like magic. It's the kind of balm that brings warmth to the soul. The album certainly has its hot spots, and working a place like the Dakota Bar and Grill can do that for you. Glad to see such success for such a deserving artist and his quintet.
Bela resenha Miss Nadler. Obrigado.
Que prazer em ler, Paula.
Sempe que posso, venho até aqui, no Lesteryard.
Abraços.
JL, não morri - como o jazz.
Muito bom o som do Terell, valeu Paula.
Grande som! Super bacana mesmo!
Gravação ao vivo espetacular,parece que os caras estão tocando aqui na minha frente.
Bravissimo!
Abraço
É uma questão de ponto de vista. Estrelas se apagam todo dia mas do meu ângulo de visão continuam brilhando. E ninguém se atém a uma estrela quando o espetáculo é o céu qualhado delas. E, mais uma vez, se o jazz está morto, do meu prisma aqui, jaz produzindo novidades. Terell Stafford - vê como tudo é uma questão de ponto de vista? - ainda vai nascer pra mim. Bobby Watson assina um dos álbuns mais estimados que descobri: New York Stories, com Danny Gatton. Então, a morte, não é só uma questão de pontos de vista, mas de senso de humor. Imaginação se tem de sobra.
Só mais uma coisinha seu João (Lester): porque sempre q entro cá me aparecem umas 10. Exatas 10 - já contei - janelinhas "Can not create DirectShow Player"? O q faço pra interromper esse processo? Se não fizeres idéia, desobrigue-se
Voltei mesmo para orgulhoso fazer reclame de minha última postagem (rara, amigo, muito rara), a sugestão, sem querer, como sempre, foi da professora Nadler que me instigou correr atrás, além do Terell Stafford, o qual nunca ouvira ou vira mais gordo, mas mais novidades de Bobby Watson, q só conhecia do álbum com Danny Gatton.
Esse do Bobby que acabo de baixar e ouço, uma maravilha, seu João!, chama-se Bobby Watson & Horizon (Post-Motown Bop) 1982. Só quem tem sabe do que estou falando – se é que alguém possui, certus? Oh, sim, certus, muito certus, certícimus!
Eu tb nunca ouvira falar deste trompetista; mas adorei o som e parabenizo a resenhista pela ótima indicação.
Prezado JL,
o referido no e-mail já prosseguiu novamente na classe econômica em sentido a Vila Velha.Abraço.
Justiça seja feita. Muito bom o Terell! Ouço agora o álbum "New Beginnings" de 2003. Também um músico nada fácil de se encontrar na rede. Valeu a dica.
Um pequeno reparo,
a big band Thad Jones & Mel Lewis estreou no Village Vanguard em 1966 portanto ha 46 anos,tendo gravado um espetacular disco ao vivo la mesmo em 1967. Jones se afastou da banda em 1978 vindo a falecer um ano depois . Lewis continuou a frente e faleceu em 1991.A big band continua se apresentando todas as segundas feiras tocando arranjos e composições de Thad Jones com a presença de alguns musicos que chegaram a tocar com os dois lideres e outros mais novos mas não menos brilhantes. Sempre foi composta de feras,musicos do primeirissimo time do jazz de Nova York,"Os Caras",pra usar uma expressão da moda.E continua assim,altissimo nivel em todos os naipes. Indo a Nova York é programa obrigatorio pra que gosta de jazz. Não ha nada no mundo sequer parecido.
Abraço
Ê, Ê!!
43 anos ,por favor .
Desculpem a desatenção.
Obrigado.
Percebo mas não concordo quando você escreve isso que o jazz morreu! A música de Terell Stafford é ainda uma incógnita para mim mas, depois de ler seu post, fiquei cheio de vontade de correr atrás. Provavelmente conheço muita da música em que ele tomou parte como sideman, como você exemplifica com Diana Krall e Herbie Mann. Explicando, percebo que uma música seja definidora o bastante para criar um antes e um depois, mas, a partir daí, há também a parte da superação e o jazz, como a vida, continua sempre – felizmente, digo eu! Agora, eu sinto uma certa dificuldade em escutar os novos nomes, as novas esperanças do jazz. Ando grudado nesse link para escutar os novos nomes e os imprescindíveis do jazz: http://cotonete.clix.pt/. Aconselho uma visita a todos os interessados e aguardo mais sugestões de links. Para que o jazz não morra nunca!
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