11/06/2009

O jazz morreu - Michael Wolff

Embora o corpo ainda não tenha sido encontrado, ouvimos alhures que o jazz está morto. O Jazzseen, cético em relação a toda questão transcendental, lançou a seção O Jazz Morreu no intuito de alertar o ouvinte que nossas fontes têm visto o jazz perambulando por aqui e acolá. É certo que, por vezes, estando maltrapilho e roto, nem mesmo especialistas como Edù, Salsa ou Érico Cordeiro o reconhecem de imediato. Mas há quem jure de pés juntos que ele passa bem, que precisa apenas fazer a barba e cortar o cabelo. Um pouco mudado com as rugas dos anos, retraído em seu canto, observando mais do que sendo observado, mas vendendo saúde, o jazz foi visto recentemente em companhia de Michael Wolff, pianista nascido em 1954 em New Orleans. Morou também em Memphis, San Francisco e Berkeley, o que certamente enriqueceu seus ouvidos judaicos. Desde cedo aprende o blues com o pai e, com oito anos de idade, começa a aprender piano clássico, absorvendo influência acadêmica que até hoje é percebida em suas digitais. Portador da Síndrome de Tourette, que nada mais é do que um tic nervoso com sobrenome bonito, Michael não deixa transparecer em suas performances quaisquer sinais do distúrbio, o que poderia obrigá-lo a tocar somente estilos como ragtime ou boogie woogie. Aos dezenove tem sua primeira experiência profissional, ao lado do vibrafonista Cal Tjader. Aos 25, realiza sua primeira gravação, com o mestre Cannonball Adderley, o saxofonista que teve Miles Davis como sideman. Daí pra frente, trabalha com diversos músicos e formações importantes, como a banda de Mel Lewis-Thad Jones, Sonny Rollins, Wayne Shorter, Tony Williams, Christian McBride e Nancy Wilson, entre outros. Em 2000, Michael forma sua própria banda, a Impure Thoughts, onde a seção rítmica é elevada à condição vital e a influência indiana é explícita. Seu álbum jazz, Jazz, jazz é fruto de despretensioso trabalho em trio, gravado em 2001 e lançado em 2007, com John B. Williams (b) e Victor Jones (d). Penso que este seja um bom álbum para quem pretende conhecer o desempenho de Michael no contexto comportado do post bop. Interpretando standards com inteligência e originalidade, o pianista dá mostras abundantes de competência técnica e madureza – ouça, por exemplo, a faixa Autumn Leaves . Mas não preciso validar a qualidade desse músico premiado por diversas instituições, compositor de belas trilhas sonoras para o cinema e arranjador consagrado. Como dizem, o jazz morreu. Não?

13 comentários:

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester,
mais uma grande descolada. Esse "Autumn Leaves" é espertissimo,uma musica manjadassa dessas e os caras conseguem fazer ela soar nova. Isso eu gosto muito.
Parabens e continue desencavando pras nos esses grandes musicos.
O jazz é igual ao tatui(aquele bichinho de beira de praia):fingindo de morto é que ele continua vivo.
Aguardo o Sr. aqui no Rio.
Abraço

Danilo Toli disse...

Bom demais, valeu Lester!

Érico Peixoto disse...

Intepretação deveras instigante. Superam as limitações típicas de um trio com inventividade e requinte dignos dos grandes. Ótima dica, caro John Lester. Grande abraço e uma boa noite!

Érico Peixoto disse...

Errata: "Interpretação..."

delmiro disse...

mais uma boa dica na madrugada

edú disse...

Se o jazz morreu, esqueceram de avisar-me. Por mim, continua na UTI.Os bons blogs de jazz ,como o Jazzseen, e os do mundo afora, estão o assistindo na maca.

bia disse...

delicia...

Paula Nadler disse...

Bonita interpretação.

Roberto Scardua disse...

Lester, já retornei. Bom esse pianista, não conhecia. Um abraço.

Érico Cordeiro disse...

Caro Mr. Lester,
ótima descoberta - de fato uma interpretação que agrega novidades a um standard tão gravado. A destacar, a excelência do baixista e do baterista que acompanham o Wolff.

Abração!

Augusto Carlos disse...

Lester e suas descobertas. Excelente!

Frederico Bravante disse...

Enfim jazz!

Vagner Pitta disse...

Essa história de "jazz felecido", "jazz morto" ou sei lá o que mais...enfim, é balela tanto de quem acredita que o jazz deveria permanecer como era nos anos 30, 40 e 50 como de quem acha que ele deveria mudar radicalmente sem considerar a herança dos grandes mestres Duke, Charlie e Ornette.

Percebam que tanto o cara reacionário como o cara progressista tem seus motivos - incoerentes frente aos fatos - de achar que o jazz tenha morrido: pura balela ou engodo para discussões calorosas de críticos que não sabem mostrar as novidades que estão acontecendo.

Wynton Marsalis, Brad Mehldau, Branford Marsalis, Regina Carter, James Carter, Tim Berne, Ken Vandermark, Ivo Perelman, Gerald Cleaver, Matthew Shipp, John Zorn, Dave Douglas, Roy Hargroove, Waltt Weiskopff, Wallacey Roney, Steve Coleman, Ted Nash, Don Byron, Jeremy Pelt, Aaron Parks, Joshua Redman, Miguel Zenon, Cassandra Wilson, Diane Reeves, Grace Kelly...eu chegaria facilmente numa lista de 300 nomes - digo de novos jazzistas, além dos veteranos que ainda estão de pé - que nos ultimos 20 anos não só mostram que o jazz está mais vivo como tbm mostra que ele esta se rejuvenescendo com novos elementos.

Aliás, essa piada de "jazz morreu" sempre existiu:

O que vcs acham que os velhos do New orleans pensaram quando ouviram os rompantes do sax de plástico de Ornette Coleman? rs

Quero acreditar que o colega Lester está fazendo esta série de posts "O Jazz Morreu" em carácter irônico, como forma de mostrar as novidades que mostram realmente o contrário!