25/11/2009

Lenda Viva: Bill Crow


Na seção Lenda Viva o Jazzseen procura, em princípio, divulgar aos nossos 3.000 leitores mensais os grandes mestres do jazz ainda vivos. Tudo na perspectiva de que, caso possam, aproveitem qualquer oportunidade que surgir para ouvi-los ao vivo. Hoje falaremos sobre um mestre que não consta dos guias e manuais: Bill Crow, contrabaixista do mainstream jazz, fluente tanto no Swing, quanto no Bebop e no Cool Jazz. Nascido em 1927, em Othelo, Washington, passa a infância em Kirkland, onde aprende os rudimentos do piano com a mãe, que também o incentiva a cantar. No colégio, passa a estudar o trompete e, mais tarde, o baritone horn (espécie de pequena tuba). Já na University of Washington, Bill dedica-se ao sousaphone (tuba especialmente desenvolvida para a banda de John Philip Sousa, visando facilitar a execução enquanto o músico marcha ou caminha) e, em 1946, durante o serviço militar, toca também trombone de válvula e bateria, até 1949. De volta à universidade, Bill passa a tocar bateria e percussão em clubes de Seattle. Em 1950, parte para New York, onde estuda trombone de válvula com Lennie Tristano durante um curto período. Suas primeiras atuações nos clubes de New York são com o trombone, mas logo interessa-se pelo contrabaixo acústico, instrumento que dominaria rapidamente como autodidata, embora mais tarde complementasse seus estudos com Fred Zimmerman, da New York Philharmonic. Nesse período em New York, Bill atuaria com uma série de músicos importantes, como Dave Lambert, Mike Riley e Teddy Charles, apresentando-se como cantor, comediante, baterista, trombonista e contrabaixista.

É através de Teddy que conhece Jimmy Raney, um dos melhores guitarristas do estilo West Coast, que o convida para tocar com o quinteto de Stan Getz, ao lado de músicos como os trombonistas Bob Brookmeyer e Johnny Mandel, os pianistas Jerry Kaminsky, John Williams e Duke Jordan e os bateristas Roy Hynes, Alan Levitt e Kenny Clarke. Em 1953, Bill passa a integrar a orquestra de Claude Thornhill, onde aprende a ler com fluência as partituras para contrabaixo, algumas delas com formidáveis arranjos de Gil Evans. No ano seguinte, Bill passa a trabalhar com o quarteto de Terry Gibbs, além de participar de apresentações e gravações ao lado de George Wallington, Brew Moore e Billy Bauer, entre outros. Ainda em 1954, Bill integra o trio da pianista Marian McPartland, com Joe Morello na bateria, apresentando-se no Hickory House até 1955. Após um breve e importante aprendizado com a pianista, Bill é convidado a trabalhar com Gerry Mulligan, com quem colabora até 1965. Durante esse período, Bill atuaria também com uma infinidade de músicos importantes, entre eles Al Cohn, Zoot Sims, Clark Terry, Dizzy Gillespie, J. J. Johnson, Eddie Condon, Ruby Braff, Jim Hall, Lee Konitz, Art Farmer, Pee Wee Russell, Jimmy Rowles e, marcadamente, Duke Ellington, em um único concerto, em 1958, no Lewisohn Stadium. Bill também acompanhou vocalistas notáveis, como Mel Tormé, Nina Simone, Chris Connor, Al Jarreau, Carol Sloane e Anita O'Day.

Desde então, Bill tem se apresentado em diversos países e continentes, como América Latina, Europa, Japão, Rússia, Alemanha, Caribe e, mais recentemente, Espanha, Argentina, Chile e Irlanda. Não bastasse sua atuação como instrumentista, Bill ainda produziu uma série de musicais para a Brodway, escreveu uma autobiografia (From Birdland to Brodway) e um livro sobre casos pitorescos envolvendo músicos de jazz (Jazz Anecdotes) e, até hoje, toca em clubes de New York e produz programas para o rádio. Para os amigos, deixo a faixa título do álbum Jazz Anecdotes, lançado pelo selo japonês Venus na mesma época em que seu livro era lançado no Japão. Com Bill estão Carmen Leggio (ts), Joe Cohn (g) e David Jones. As demais faixas do álbum são:

2 Bohemia After Dark

3 In a Mellotone

4 Street of Dreams

5 Tarrytown

6 Lover, Come Back to Me

7 On the Alamo

8 Mack the Knife

9 These Foolish Things

10 'Round Midnight

11 Speak Low

12 Tickletoe

9 comentários:

thiago disse...

sousaphone sinistro

Salsa disse...

Grande serviço prestado à comunidade navegante, mr. Lester. Aguardo a cópia, já que no sorteio não ganho nem a pau.
Abraços,

PREDADOR.- disse...

Com oitenta e poucos anos, o excelente Bill Crow, pelo que me consta, nunca esteve no Brasil. Talvez pudesse vir ainda, para, além de se apresentar nos palcos de São Paulo e Rio, dar uma canja acompanhado por mr.Tandeta e ou por mr.Pituco e seus músicos. Não seria uma boa? Não perderia este show por nada deste mundo.

Érico Cordeiro disse...

Caro Bob Scardallone,
Ma chè bella revisione!!!
Un altro musicista poco conosciuto, ma merita attenzione più attenta a ciò che scrivo - qualcosa mi dice che questo album è la pena di avere sullo scaffale.
Un abbraccio fraterno.
PS.: o comentário em italiano é uma conseqüência direta da leitura recente das aventuras do Comissário Salvo Montalbano - personagem mais bacanudo da literatura policial e que atualmente virou a mania literária deste modesto escriba.

John Lester disse...

Prezado Mr. Scardua, obrigado por mais uma excelente contribuição ao Jazzseen. Não fosse sua perspicácia, eu nem teria notado que temos uma média mensal de 3.000 visitas. Notável para um blog que não vende espaço para publicidade, nem possui colaboradores remunerados.

E viva Bill Crow, essa lenda viva.

Grande abraço, JL.

John Lester disse...

Gostaria de participar aos amigos que, em resposta a nosso e-mail, Bill Crow leu e gostou de nossa breve e carinhosa resenha.

Estamos orgulhosos.

Grande abraço, JL.

No vazio da onda disse...

Muito bom este espaço. Parabéns.
voltarei regularmente

Roberto Scardua disse...

Prezados amigos, obrigado pelo incentivo. Bill Crow merece nossa admiração. Até breve!

Grijó disse...

E cá venho a este espaço para umas aulinhas grátis.
Valeu, Scardua.

Grijó