16/01/2010

Bengale thé hyménée

2010 passou bem rápido enquanto eu folheava a bonita agenda de Fabiana. Logo eu estava em fevereiro, observando uma belíssima bengale thé hyménée, foto ao lado. Ao contrário da maioria das agendas da Taschen, que normalmente nos apresentam obras de artistas plásticos consagrados ou fotografias de países, dessa vez temos uma magnífica série de aquarelas de Pierre-Joseph Redouté, um belga nascido em 1759 que viveu na França. Botânico e exímio desenhista, especializou-se em flores, 53 delas constantes da exuberante agenda. Quando dei por mim, já estava em dezembro, entre alguns espécimes de papaver somniferum, as tais danadinhas que nos fornecem o merecido ópio de cada dia. Fomos então até a Casa Bonita, onde Fabiana a havia comprado, na expectativa de encontrar uma para mim. A gentil funcionária explicou que a Casa Bonita não vende mais de uma peça de cada produto, sendo possível, no entanto, que eu escolhesse uma outra agenda da Taschen. Das opções disponíveis, titubiei entre a de Gaudí, Klimt e uma com fotografias antigas de uma Paris ainda em preto e branco, minha escolhida. Enquanto passava o cartão, notei um interessante duo de piano e contrabaixo interpretando Wave, do Tom. E, se nosso amigo Olney começou o ano ouvindo rock, que mal haveria em iniciar meu ano ouvindo bossa nova? Notando minha curiosidade, a gentil funcionária explicou. Foi gravado durante um concerto na Alemanha e lançado na Rússia em 2000, pelo selo Melodya. Boris Frumkin nasceu em Moscou, em 1944. Filho de trompetista e band leader, começou a aprender piano aos 5 anos e, embora tivesse talento e técnica para tornar-se concertista clássico, sua paixão pelo jazz determinou seu destino. Aos 22 anos, ao lado do trompetista Andrei Tovmasyan, liderou seu quinteto com sucesso durante o segundo Festival de Jazz de Moscou, chamando a atenção do público e obtendo a aprovação da crítica. Não bastasse sua competência como instrumentista, Boris também produz arranjos e compõe - sua Romantic Waltz era bastante tocada na Voice of America Jazz Hour, apresentada por Willis Conover. Apresentando-se em diversos festivais pela Europa, em 1973 passa a integrar o famoso conjunto Melodia, até sua dissolução em 1982. Entre 1988 e 1989 conduziu com grande êxito o musical da Brodway 'Sophisticated Ladies' em Moscou, Leningrado, Tbilisi e Washington, DC. Atualmente mora na Alemanha, onde produz música para o cinema e para a televisão. Antes que eu pudesse perguntar, a gentil funcionária prosseguiu: o contrabaixista, Marius Beets, nasceu em 1966, em Amsterdam. Começou a estudar piano aos 7 anos, passando mais tarde, aos 12, para o contrabaixo. Após graduar-se com honras no Royal Conservatoire de Hague, Beets tornou-se um dos mais respeitados contrabaixistas holandeses e não à toa trabalhou com músicos como Teddy Edwards, James Moody, Bud Shank, Johnny Griffin, Herb Geller e George Coleman. Desde 1999, Beets é professor do Rotterdam Conservatoire. Para os amigos deixo a faixa The Nearness of You , retirada do álbum Secret Love. Quanto às rosas de Redouté aqui postadas, creio que são suas únicas aquarelas disponíveis na internet com borboletas. Então, clique sobre a foto para apreciar os detalhes com maior nitidez.    

18 comentários:

pituco disse...

master lester,

música e aquarela...combinação piramidal...b.frunkin e m.beets com redouté...o que faltaria pra se compor uma trilogia quase perfeita?

por aqui, como se sabe, a galera usa e abusa dos temas botânicos em suas pinturas...uma técnica ancestral, 'suiboku', cujo ideograma (kanji) remete à 'água e carvão'...adquiri alguns exemplares pintados pela artista plástica miura hiromi-san...a combinação ideal seria com o som de 'shakohachi'(lê-se chakorrati),flauta de bambu com cinco furos...rs

sobre o shakohachi...poracá morou um flautista brasileiro, shen ribeiro, que aventurou-se por esse instrumento, arriscando temas jobinianos...foi um pega pra conferir as saltos e escalas melódicas do maestro na flauta primata...rsrsrs

é isso aí,
abraçsons

Érico Cordeiro disse...

Master Lester,
ma bela história, com um final fliz - afinal, Paris, mesmo em preto e branco, é tão boa quanto as borboletas de Monsieur Redouté!
Não consegui ouvir o trabalho do Tovarich Frumkin - deves ser problema no Google Chrome. Vpo tentar com o Explorer.
Seja bem-vindo à blogsfera - começando o ano muito bem, meu Capitão!

thiago disse...

traço sinistro

John Lester disse...

Prezados amigos, obrigado pelos comentários, especialmente o de Mr. Pituco, que enriquece nosso conhecimento sobre a delicada pintura oriental. E, Mr. Cordeiro, seria bom que pudesse ouvir o duo.

Grande abraço, JL.

Salsa disse...

Eu e Oleare agendamos uma visita à Casa Bonita para quinta-feira, às 17:00h. Apreciarei a obra de perto.

John Lester disse...

Prezados Salsa e Oleare, como certo, sacaremos algumas pobres rolhas durante a visita.

Até breve, JL.

Érico Cordeiro disse...

Linda versão!
Agora sim, tô ouvindo bacanudamente. Pois é, Mr. Bill Evans deixou herdeiros até na Rússia!
Abração!

olmiro muller disse...

Caro Lester

O programa "Voice of America Jazz Hour" foi, talvez, o mais importante que ouvi em rádio. Muito aprendi com ele, assim como continuo aprendendo aqui no jazzseen. Abraços.

Sandra Leite disse...

Lester,

Voltei pra ouvir música, voltei pra vida! Volto ao Jazzseen, um esconderijo que tenho pra boa música e textos envolventes.

Encontro a rosa, coincidentemente minha necessidade diária.

Encontro a Bossa , o Jazz e começo a entender o "Feliz 2010"

Sempre é a arte que paga o meu resgate da dor. Paga, nem que seja em prestações suaves:)

Amei o retorno ao Jazzseen, digno de John Lester!

Agora um feliz 2010 de quem só via sombras. Retorno às cores...

bjs,

Sandra


PS: é tão bom aprender com vocês! Tudo é tão suave...

John Lester disse...

Prezado Érico, que bom que ouviu - e gostou - a faixa. A opinião dos amigos é importante para o Jazzseen. E Mestre Olmiro, há quanto tempo! Bom que veio.

Amiga Sandra, suas visitas são sempre assim, como um desenho de Redouté.

Boa semana a todos, JL.

Rogério Coimbra disse...

JL,
Tom Jobim, botânica, flores, bossa nova, é tudo a mesma coisa.
Excelente progresso sensitivo.

Rogério Coimbra disse...

Agora, Willis Conover.
Ele foi a mais importante fonte de informação para minha geração.
Em 1962, 63, a gente se reunia para, às 22h, ouvir The Voice Of America, com Willis Conover introduzindo Take The A Train para depois apresentar fantásticas novidades.

Ouvimos pela primeira um solo de Bill Evans (Stella By Starlight, com Miles) nese programa. Tudo mudou.

Ora era a radiola Telefunken de Arlindo Castro, ora a GE lá de casa.

Cheguei a publicar uma foto e constantes comentários sobre esse programa em 1963 na coluna que assinava em A Gazeta, O Assunto É Música.Maluquice, para a época. Isso com o apadrinhamento de Oswaldo Oleare. Tenho ainda o original. Luiz Paixão tb encorajava a turma a ouvir jazz.

Aliás, uma dica: qdo o tempo fechar em sua casa, e não houver flores, roda um Tom Jobim.
Saudações.

figbatera disse...

Ah! O post está ótimo, o som é legal, mas esse povo invandindo os blogs com propaganda, é "de lascar"...
E Lester, de rock só aquela pequena referência ao batera Terry Bozzio.
Viva o JAZZ!

John Lester disse...

É, Mestre Coimbra, o tempo não para, não para não, não para...

Pena que em 1962, 63, 64, 65 eu ainda não estava pronto, se estivesse, certamente ouviria a voz do dono com vocês.

Mestre Olney, liga não: rock também é gente. Grande abraço, JL.

Carioca da Vila disse...

Coisa boa chegar por aqui...
Texto maravilhoso, só coisa bonita, como cai bem ...para ver, ouvir e sonhar!
Adorei!

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester,
que bom ouvir suas sempre tão bem escolhidas musicas. O Jazzseen fez muita falta nesses ultimos tempos.
"The Nearness Of You" é uma composição com a qual tenho uma especial ligação. A versão aqui postada é muito bonita.
Parabens pelo seu bom gosto musical e pictorico.
Espero em 2010 ter a oportunidade de conhece-lo pessoalmente,aqui no Rio ou ai em Vitoria.
Abraço

Anônimo disse...

Caro Lester,
obrigada por nos proporcionar momentos tão agradaveis...em meio a tantas agruras.
até o calor incomoda menos qdo estamos aqui

John Lester disse...

Prezado Mestre Tandeta, estivemos na Miguel Lemos recentemente, para arrematar a coleção de lp's da Help, esse fantástico e antológico antro de perdição que cede lugar à nova sede do MIS. As meninas desapareceram das cercanias, tornando inóspta a até então acolhedora esquina.

Bem, antes do carnaval certamente sorveremos um belo chop, quem sabe em pé no balcão do Carangueijo, famoso por suas empadas e escondidinhos de camarão.

Grande abraço, JL.