18/11/2010

Forró também é jazz: Frank Marocco

Ele é produzido apenas nos anos em que o enólogo decide que a colheita foi boa, dizia Tobias  Serralho enquanto eu tentava ouvir o solo de Frank Marocco, um dos mais respeitados acordeonistas dos EUA. Frank nasceu em Illinois no dia 2 de janeiro de 1931 e passou a infância num subúrbio de Chicago. Foi por lá que, aos sete anos de idade, iniciou os estudos do instrumento. Durante nove anos, além de tocar na banda escolar, foi instruído por George Stefani, sua primeira importante fonte de inspiração. Mais tarde, estudaria com o consagrado acordeonista Andy Rizzo, um dos mais influentes acordeonistas norte-americanos. Com dezessete anos, Frank vence um concurso nacional de acordeão, fato que o encorajaria a dedicar-se integralmente à música. Veja só, disse Tobias assim que o solo de Frank terminou: ele é cem por cento touriga nacional! Eu nem sabia que havia uma uva brasileira Lester! Antes que pudesse a explicar a Tobias que a touriga nacional não é uma cepa nativa do Brasil, Frank voltou a solar. Pois bem, após formar seu trio, Frank passa a se apresentar no nos estados do centro-oeste, onde conhece a esposa Anne, em Indiana. Já casado, decide fixar residência em Los Angeles e, já com um novo grupo, Frank passa a se apresentar em bares, clubes e hotéis de Las Vegas e Palm Springs. Ao mesmo tempo, aproveita as boas oportunidades oferecidas pelos estúdios de cinema e televisão, produzindo uma série de trilhas sonoras importantes, além de comparecer como sideman numa infinidade de shows e gravações. Ouça aqui sua interpretação de Four Brothers, retirada do álbum Jazz Accordion, lançado em 1979 pela Discovery.


Terminado o excelente 2º Festival Internacional de Juazeiro, que durante seis dias de shows reuniu o jazz de Frank Marocco, o tango do argentino Hector Del Curto, as melodias mediterrâneas do italiano Antonio Spaccarotella com os mais populares nomes do forró brasileiro, como Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeom, Cicinho de Assis e Targino Gondim, pude finalmente verificar o estado deplorável em que se encontrava o velho amigo Tobias Serralho. Acostumado às doses homeopáticas da cachaça artesanal que produz em seu engenho em Petrolina, o poderoso organismo de Tobias não suportou adequadamente em jejum as três garrafas de Rio Sol Winemaker’s Selection Touriga Nacional. Produzido com a cepa nativa mais tradicional de Portugal, seu afinamento em madeira ocorre durante seis meses em barricas de carvalho francês. Vermelho-grená intenso e brilhante, possui aromas complexos que lembram frutas negras bem maduras, como amoras e framboesas, notas de pinheiro, chá earl grey e especiarias. Sedutor e encorpado, com taninos nobres. Fiquei absolutamente surpreso que, em pleno clima semi-árido, pudesse ser produzido um vinho tinto com tamanha qualidade, considerando seu custo: R$39,00.

Criada em 2002 pela vinícola Portuguesa Dão Sul, a Vinibrasil é um dos mais recentes e inovadores projetos da viticultura e enologia no mundo por ser a única a produzir vinhos de qualidade internacional na latitude 8° sul. Localizada no interior do Estado de Pernambuco, às margens do rio São Francisco, a Vinibrasil já conta com uma área de 200 ha de vinhas, de um total de 1.600 ha, das variedades Cabernet Sauvignon, Syrah, Alicante Bouchet, predominantemente, além das variedades portuguesas Touriga Nacional e Tinta Roriz. Toda essa área está equipada com um dos mais modernos sistemas de fertilização e irrigação, que torna possível a produção em condições semi-áridas. Desde sua criação, seus vinhos têm sido distinguidos com diversos prêmios nacionais e internacionais. Atualmente exporta para mais de 15 países.

Enquanto preparava um javali com pimenta rosa para acompanhar o convincente tinto, Tobias colocou a faixa Cavaquinho , de Ernesto Nazaré, retirada do álbum Appassionato, lançado em 2008 pela Barvin. Depois ficamos ouvindo Dominguinhos, Oswaldinho do Acordeom, Targino Gondim e Cicinho de Assis, interpretando respectivamente Eu Só Quero um Xodó, Lamento de Sertanejo, Vida de Viajante e Esperando na Janela. Enquanto isso, o luar do sertão abraçava a noite.

14 comentários:

APÓSTOLO disse...

Prezado JOHN LESTER:

A música e o vinho são de excelente qualidade.
Prazer em conhecer o acordeonista, mais ainda com o clássico "Four Brothers".

Rogério Coimbra disse...

Lester, depois de ouvir Hank Mobley. essa aí só com muito, mas muito vinho mesmo.

John Lester disse...

É como diz Mr. Serralho: nem toda touriga nacional é internacional.

Grande abraço, JL.

Salsa disse...

em nome do jornalismo verdade, eu aceito uma taça do vinho.

Anônimo disse...

Mr. Lester,
hoje,19/11, Dori Caymmi estara se apresentando ai em Vitoria. Acompanhado de 3 grandes musicos:
Itamar Assiere,piano
Jorge Helder,contrabaixo
Jurim Moreira,bateria(com certeza um dos meus favoritos)
Se eu estivesse ai não perderia de jeito nenhum.
Abraço

Andre Tandeta disse...

Desculpem,esse comentario acima e' meu

Andre Tandeta disse...

Desculpem,esse comentario acima e' meu

John Lester disse...

Prezado Mr. Tandeta, acabo de retornar à Vila Velha...

Estava por aí, Miguel Lemos, nº 7.

Grande abraço, JL.

Rogério Coimbra disse...

Assisti ao show do Dori. Um dos melhores momentos em Vitória. A platéia oscilava entre lágrimas e risos. Ele é um figuraço. Música de nível superior. Pena que o Helder só tocou baixo elétrico. Nota 10.

John Lester disse...

Há quem diga que o contrabaixo elétrico é ecologicamente correto.

É a mesma turma que considera Monteiro Lobato racista... Vão proibí-lo nas escolas.

E, para fechar, Tiririca irá legislar.

Quanta saudade dos contrabaixos acústicos...

Grande abraço, JL.

pituco disse...

master lester,

solo de acordeon não é improviso...é floreado...obrigado pela dica

abraçsonoros
ps.não só torço, como quase tenho certeza de que a sonoridade acústica irá se impor nessa nova era...desde dos anos 90 já sentimos esse resgate e necessidade em redescobrir os timbres 'não plugados'.

John Lester disse...

Que todos os deuses, os já inventados e os por inventar, sustentem sua profecia acústica Mr. Freitas.

Agora, tem coisa mais saborosa que solo de sanfona?

Grande abraço, JL.

figbatera disse...

Eu gosto muito do som do acordeon; mas esse é um instrumento que só funciona nas mãos de quem é mesmo "COBRA", como esse Marocco.
Felizmente, no Brasil temos tb vários mestres nesse instrumento.

Andre Tandeta disse...

Mr. Lester,
o Sr. poderia me ligar quando estivesse por aqui. Da proxima vez não faça cerimonia.
Abraço