26/11/2010

The ukuleleist: Lyle Ritz

Lyle Ritz nasceu em Cleveland, Ohio. Já na infância, passada em Pittsburg, tem contato com a música, aprendendo violino e interessando-se também pela tuba e pelo trompete. Adolescente, passa a trabalhar numa loja de instrumentos musicais, onde conhece o ukulele, ou seja, o cavaquinho. Mais tarde, ingressa no Art Center School, de Los Angeles, onde recebe uma sólida formação artística. Em seguida, tocaria dois anos na banda do Exército, consolidando sua vocação musical. Quando Barney Kessel o ouviu tocar, recebeu imediatamente um convite para gravar pela Verve, famoso selo de jazz onde Kessel trabalhava. Acabou gravando dois álbuns: How About Uke?, em 1957 e 50th State Jazz, em 1959. Embora tenham obtido boa acolhida no Havaí, os dois álbuns não despertaram maior interesse nos fãs mais conservadores do jazz continental. Adaptando-se ao mercado, Lyle passa a tocar contrabaixo em estúdios, atuando como sideman em mais de 5.000 gravações, além de comerciais e trilhas sonoras para o cinema e para a televisão. Após 25 anos sem tocar ukulele profissionalmente, Lyle é convidado pelo músico e produtor Roy Samuka a participar de um festival no Havaí, onde descobre com satisfação que seus álbuns gravados para a Verve tornaram-se referência para o jazz feito com cavaquinho. Em 1988, muda-se com a esposa para o arquipélago, onde se apresenta e realiza gravações até hoje. Para os amigos, fica a faixa Don’t Get Around Much Anymore, retirada do álbum How About Uke? com Don Shelton (f), Red Mitchell (b) e Gene Estes (d).

20 comentários:

Salsa disse...

Nessa, Lester foi fundo. Coisa de colecionador.

Roberto Scardua disse...

Salsa, sempre atento hein? Gostei do velhino também. Valeu Lester!

APÓSTOLO disse...

Uau ! ! !
Solo de gente grande.
Confesso minha, até agora, mais absoluta ignorância.
Mas sempre temos tempo de, a cada dia, ouvir, aprender e ampliar as "janelas".
Grato, J.L. pelo "cavaquinho".

Sergio disse...

Mas, Mr., onde está o ukelele? Te juro q fui no allmusic, procurar també o guitarrista.

O q eu gostaria de, honestamente, saber é, caso fosse apresentado como guitarrista, se alguém diria "mas isso é cavaquinho ou ukelele!"

John Lester disse...

Prezado Mr. Sônico, bom receber sua visita.

Ritz é promulgado lenda do ukulele exatamente pelo fato de que jamais tocou guitarra/violão. Ou seja, ele não é um guitarrista que trata o ukulele como seu segundo instrumento ou coisa que o valha: o cavaquinho é sua primeira e grande paixão, abandonada por questões de sobrevivência.

Ritz consta no All Musica Guide, embora sua biografia seja espessa. Os dados adicionais que replementei em minha resenha foram obtidos nos encartes de seus álbuns que, graças à deusa Fortuna, possuo.

Grande abraço, JL.

thiago disse...

bizarro

Carioca da Vila disse...

Lester, em março estarei (se Deus quiser...)no Havai, vou ver se consigo uma foto para vc.!Com ukulele e tudo!

Sergio disse...

Eu sei, mr. Só tou dizendo que o som do cavaco tá mais pra guitarra que Ukê. Não será o Lyle o Dodô ou o Osmar que não morreu e foi pro rauai tirar uma onda?

Mas ó... andas consumindo muito, hein... rsrsrsrs...

Mas agora falando sério (tbm pesquisei antes!), olha q barato de texto encontrei sobre o Lyle num site português: ... (acho q o texto não vai caber num comentário só, abrirei outro, esse merece.

Sergio disse...

O Grande Português

[da coluna "Svengali", na Blitz]

Confesso: sou cavaquista.

Não, não é bem assim. Sou cavaquinhista.

O maior português de sempre mede entre trinta e quarenta centimetros e não pesa quinhentas gramas sequer. Tem quatro cordas, um orifício apenas, e é conhecido por vários nomes: machete, maxim, braguinha, rajão, cavaco, cavaquinho. Ah, e ukulele. Pode ser tocado com palheta, ou rasgado com os cinco dedos da mão. Pode ter dezassete ou doze trastos. Braço alçado ou plano. Pode fazer acompanhamento. Pode fazer solo. Pode até fazer as duas coisas ao mesmo tempo. O cavaquinho às vezes parece menos do que um instrumento musical, mas é muito mais. O cavaquinho é uma filosofia, e uma filosofia que me agrada. Uma filosofia leve, uma filosofia portátil, uma filosofia prática. Uma filosofia que se pode levar na mochila.

Em que consiste a filosofia do cavaquinho? As suas principais linhas de força são a adaptabilidade, a doçura, a ironia, a discrição, a inquietude. O cavaquinho é uma mistura de hedonismo — ou a ideia de que o prazer é o principal imperativo da vida — com epicureanismo — a valorização da tranquilidade e do retiro —, mas compensa o lado egoísta destas escolas com a sua enorme capacidade de sociabilizar. Esta é um mistério: o cavaquinho é expansivo sem ser impositivo, como prova a sua presença global.

Algures num canto esquecido de um barco, lá estava um cavaquinho. Alguém pegou nele e brincou por um momento. Depois numa casa de uma ilha longínqua alguém encontrou um cavaquinho cheio de pó, ficou intrigado e aprendeu a usá-lo. deve ter sido mais ou menos assim. Conquistou o mundo sem ter tido o peso de qualquer autoridade nem a compulsão dos instrumentos oficiais e eruditos.

***

Se tivesse de escolher um manifesto para a filosofia do cavaquinho teria de ser “Caminhando”, um chorinho de menos de dois minutos que é sucessivamente ligeiro, agradável e pensativo.

“Caminhando” sugere um passeio de fim de tarde pelas ruas de uma cidade (no caso, o Rio de Janeiro, mas poderia ser qualquer outra) no fim de um dia de verão, quando o calor abranda e as brisas frescas sobem do mar. As pessoas regressam a casa e um indivíduo despreocupado segue pela calçada de mãos nos bolsos, assobiando por distracção, com a cabeça desocupada de qualquer pensamento mas cheio de uma intuição imediata de compreensão pelo mundo em torno. Às vezes desvia-se para deixar passar alguém, perde tempo apreciando os rostos em torno, senta-se num banco para atar os cordéis dos sapatos. Está em estado de graça.

O autor desta jóia musical não poderia apenas ser um exímio tocador de cavaquinho, mas alguém que tivesse o instrumento colado ao temperamento ou que tivesse crescido com ele. Assim é, e de tal forma que ninguém conhece Nelson António da Silva, autor de “Caminhando”. Só se sabe quem foi Nelson Cavaquinho, conhecido pelo nome do instrumento favorito desde a sua grande infância, numa identificação quase completa.

Nelson Cavaquinho era um poeta, compositor e boémio nascido no ano de 1910 no Rio de Janeiro. Viveu quase sempre no bairro suburbano de Mangueira mas era na Praça Tiradentes, no centro da então capital brasileira, que gostava de vir beber, tocar e cantar com os amigos. Talvez nas caminhadas entre um lado e outro tenha imaginado a doçura da sua música, não só em “Caminhando” mas também em “Folhas Secas”, o seu samba mais conhecido, que descreve os seus pensamentos tristes ao regressar a casa, subindo o morro.

A certa altura da sua carreira, Nelson Cavaquinho mudou do cavaquinho para o violão, mas os seus sambas continuaram a ter uma mistura surpreendente de um máximo de melancolia envolta em ligeireza, para enganar os incautos.

***

Sergio disse...

O cavaquinho percorre toda a gama sentimental, precisamente porque é enganoso. À primeira vista é curioso, alegre e irrequieto, mas os seus agudos têm uma certa tendência para um tipo de queixume lânguido que não é perceptível no imediato.

No ano de 1879 entrou na barra do porto de Honolulu, capital do então reino independente do Hawai, o navio Ravenscrag. A seu bordo vinham passageiros madeirenses que emigravam para trabalhar no corte de cana do açúcar. Sabemos o nome de alguns deles: João Fernandes, Manuel Nunes, José do Espírito Santo, Augusto Dias. Sabemos que traziam cavaquinhos, mas que provavelmente não os chamavam por esse nome, mas pelos termos madeirenses de machete ou rajão.

Nas décadas seguintes, os havaianos ficariam encantados com aquele instrumentos, a que deram o nome de “pulga saltitante” — na língua local, ukulele. O nome era uma referência directa às tonalidades alegres do cavaquinho, mas rapidamente os havaianos perceberam que o instrumento também se adaptaria aos acordes lentos da sua música tradicional, de tal forma que o adoptaram como instrumento nacional.

Em 1915, quando o Hawai já pertencia aos Estados Unidos da América, uma exposição em São Francisco revelou o ukulele à população californiana e foi adoptado pelos jovens afluentes. Umas centenas de quilómetros mais a Norte, Hollywood começava a regurgitar de estúdios de cinema. O cavaquinho também chegou lá e entrou nos hábitos das gerações despreocupadas dos anos 20 e 30. Nesses tempos, o ukulele era um adereço típico dos quartos das residências universitárias de Princeton ou Yale. Os estudantes aprendiam a tocá-lo quando caloiros, e esqueciam dele pouco depois de acabarem os cursos. O cavaquinho não se queixava. Não era o seu estilo.

***

Um jovem havaiano chamado Lyle Ritz era contrabaixista. Talvez por um sentido de humor intrínseco decidiu juntar ao maior instrumento da família das cordas o domínio do ukulele oriundo das suas ilhas. Tinha piada, tocar alternadamente contrabaixo e cavaquinho. A pouco e pouco, foi recuperando a tradição que ligava o cavaquinho ao charleston, ao ragtime e ao jazz dos anos 30, à medida que ia trabalhando em bandas sonoras para os filmes de Hollywod, aí já depois da IIª Guerra Mundial. O cavaquinho, ou melhor o ukulele, era então presença esporádica na música pseudo-exótica das bandas sonoras cinematográficas, principalmente para evocar ilhas paradisíacas e distantes.

Um dia Lyle Ritz, que acompanhava Ray Charles na sua banda, ficou só com o contrabaixo. O cavaquinho não se queixou. Anos mais tarde, Lyle Ritz aposentou-se, e de repente lá estava o cavaquinho à espera. Voltou a dedilhá-lo, a brincar com ele, a encantar-se com as possibilidades do instrumento. Foi à rua, comprou um computador e começou a gravar um disco de cavaquinho e contrabaixo com ele.

Sergio disse...

Nossa... é longão! rsrsrs... ai vai a última parte: (perdão)

Este disco chama-se “No Frills”, mas se me permitem, deixem-me aconselhar-vos antes “A Night of Ukulele Jazz” que regista uma sessão ao vivo de Lyle Ritz e de outro virtuoso do ukulele, Herb Ohta, num clube de Santa Monica, Califórnia. O cavaquinho sobe e desce toda a paleta dos seus estilos, da música havaiana e do jazz até à bossa-nova.

Mas poderia haver mais: no Minho, o cavaquinho acompanha chulas e viras; na Madeira, bailinhos; em Cabo Verde, mornas e coladeras; no Brasil, choros e sambas. No Havai, aquece as noites sensuais dos luaus.

É por isso que o cavaquinho é uma filosofia. Na boa.

Rogério Coimbra disse...

Mr. Lester, que achado. O complemento foi a envolvente narrativa do Sr. Sérgio. O mundo caminha junto equilibrando-se nas cordas de um violão, contrabaixo ou cavaquinho..e...ukulele.

Jazzseen forever.

Fui ontem assistir ao passarinhos Zé Renato e Renato Braz, mas.......o Sizão Machado fez a diferença.

Rogério Coimbra disse...

Em tempo:
Ontem no show Marcelo Bambam Coelho estava lá e simplesmente nos contou que na noite anterior jantou com..............Mr. Ornette Coleman e seu filho. Ele já havia jantado com Reggie Workman na Holanda. Pedi com urgência um relatório não confidencial dos papos gastronômicos.
Só revelou que Coltrane , mesmo lendo um livro, soprava !

Érico Cordeiro disse...

Parece que o jazz havaiano tem uma predileção toda especial pelo ukelele, não é mesmo Mr. Lester?
Um ótimo texto, muito bem adornado pela narrativa sônica, sobe um músico que não conhecia.
Reclamo apenas da iconografia que ilustra a matéria: que tal umas havaianazinhas, de sarongue e colar de flores, a extravasar a sua malemolência ao som do Lyle?
Abraços!

John Lester disse...

Bem, diante de tão longos e sortidos comentários, confesso que o cavaquinho utilizado por Ritz nas gravações de How About Uke? é um tenor ukulele, daí a sonoridade amenizada e distanciada de um Jacob.

Sim, no Brasil o cavaquinho está mais próximo do bandolim do que do violão, daí os arrepios nas orelhas de Mr. Sônico, um de nossos mais antenados visitantes (e amigo).

Quanto ao jantar com Mr. Coleman, espero apenas que o tempero seja mais palatável que sua música. Música?

Grande abraço a todos, principalmente às nossas amigas havaianas, rs.

JL

Paula Nadler disse...

Flauta e cavaquinho, que delícia! Beijo.

Rogério Coimbra disse...

Pois é, Lester. A sonoridade do instrumento não se parece em nada com os nossos cavaquinhos. Isso foi uma pegadinha ?

U Quê ?

Explica direitinho para a Paula Nader.

pituco disse...

master lester,

o hawaii é aqui...além do shamisen, okoto e shakohachi...os ukuleles está espalhados pra tudo quanto é parte...assim como taikos, tamborins e pandeiros convivem em pé de igualdade...haja ouvidos...rs

agora, esse signori da postagem...mr.ritz...já é mais incrementado, não é mesmo?

por acá um garoto nissei havaiano, shimabukuro san, fez algum sucesso, anos atrás...segue link de um vídeo dele tocando g.harrison, que também era adpeto do instrumento...

http://www.youtube.com/watch?v=puSkP3uym5k

abraçsonoros
ps.harpas e ukuleles no jazz...só o jazzseen mesmo pra dar essas dicas...obrigadô

Anônimo disse...

Muito bom

Internauta Véia disse...

Gostei muito...!