Foi grande a confusão quando Chico Brahma chegou ao Clube das Terças afirmando que, finalmente, conseguira destilar uma excepcional tequila em seu quintal. Sim, com a garrafa em punho, ele passaria a narrar toda sua grande aventura a um público boquiaberto e atento. Embora de origem polonesa, mais afeita à destilação da vodka a partir de batatas ou beterrabas, Chico ouvira falar que mais à direita, na Rússia, as melhores vodkas eram produzidas a partir do centeio, com eventuais adições de trigo, aveia ou cevada. "Mas o importante é a qualidade da água", advertiu Fernando Achiamé, lembrando que a presença de metais pesados é que causam dor de cabeça. Considerando que o quintal de Chico fica localizado na Praia do Canto, em Vitória, o terroir desaconselhava a plantação de grãos, daí Chico também ter desistido da produção do uísque a partir da cevada ou do milho, voltando todos os seus esforços para a produção de grappa e conhaque, dois famosos destilados obtidos a partir do vinho. Conforme John Lester havia advertido, a excessiva umidade gerada pelo microclima capixaba, aliada ao fato da pequena exposição solar em seu quintal, resultou no aparecimento de fungos e pragas nefastas, dando fim a suas três belas videiras de touriga nacional, cepa clássica de Portugal. Inconformado, aquele homem de bochechas rosadas e pés ligeiros passa um breve período tentando produzir sidra a partir das belas maçãs e pêras colhidas em seu florido quintal. Seguindo as orientações da família Bockmann, de Campos do Jordão, Chico passa a destilar um excelente calvado (brandy) a partir da sidra, utilizando a técnica que John Lester havia introduzido em New Orleans, onde produzira excelentes applejacks. Infelizmente, contando com apenas uma macieira e uma pereira, a produção anual não chegava a duas doses, fato que o levou a abandonar o projeto.
Rejeitando mais uma vez os conselhos de John Lester, Chico põe na cabeça que obterá gim e steinheger, bi-destilados obtidos a partir do mosto de bagas de zimbro, arbusto que ele mantinha com orgulho em seu diversificado e bem cuidado quintal. Esquecendo-se que a planta é típica do clima temperado do hemisfério norte, observa novo fracasso. Antes que desistisse de produzir seu próprio destilado, Chico aceita o conselho de Lester e passa a trabalhar com mosto de abacaxi, nossa nativa e dulcíssima bromeliácea. A variedade escolhida foi o abacaxi pérola, que além do belo fruto, fornece belas flores. Ainda seguindo a orientação do velho amigo, Chico planta alguns pés de agave que, além de ornamentarem lindamente qualquer espaço, ainda poderiam nos fornecer alguma tequila caso tudo desse certo. E deu! Ao contrário do abacaxi, o agave azul demonstrou grande rendimento em álcool no preparo do mosto fermentado, auxiliando consideravelmente o processo de destilação. Embora detenha alguma semelhança com o abacaxi, a piña retirada do agave azul (foto abaixo) é venenosa e pode alcançar extraordinários 70kg. Após cozidas em panela de pressão, as piñas eram moídas com o motor do velho Gol 1981, que Chico preservou com muito carinho. Após a fermentação, era só esperar que as altas temperaturas do alambique fornecessem o néctar mexicano.
Emocionado, Chico confessou que muito de sua inspiração era devida ao falecido Lula Galvão, o grande e bigodudo crítico de gastronomia e vinho, responsável por mais de trinta anos de deliciosas matérias publicadas no Estadão. Antes que Chico pudesse terminar sua homenagem ao grande jornalista, João Luiz Mazzi intervém, dizendo que Lula Galvão nunca escreveu em jornal e está vivinho da silva! O nome do expert em comes e bebes é Saul Galvão, este sim falecido em 2009. Já Lula Galvão é um dos melhores guitarristas brasileiros em atividade. Aproveitando o clima carnavalesco, Pedro Nunes trouxe à baila a impressionate retirada de cabeças dos integrantes da Unidos da Tijuca: como eles retiravam as cabeças dos pescoços daquele jeito? Lester respondeu que, infelizmente, ninguém retirou a cabeça de Roberto Carlos, o que certamente o silenciaria para todo o sempre. Sem que mais ninguém à mesa prestasse atenção à tequila, passamos a ouvir o excelente álbum Bossa da Minha Terra, gravado para a Biscoito Fino. Nascido em Brasília, além de guitarrista, Lula é também excelente violonista e arranjador, daí ter trabalhado com artistas como Guinga, Rosa Passos. e Cláudio Roditi. Improvisador nato, começa a tocar violão aos quinze anos, mas somente aos 18 dedica-se seriamente ao instrumento.
Como demonstra ao longo do álbum, Lula domina o idioma do Bebop com fluência pouco usual entre instrumentistas brasileiros. Há também, embora discreta, a nítida influência da música clássica, estilo a que vem se dedicando nos últimos tempos. Amante da exuberante e rica música popular brasileira, Lula reconhece a influência de gente como Victor Assis Brasil, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Hélio Delmiro e Hector Costita em sua formação inicial. Irmão do baterista Zequinha Galvão e do contrabaixista e compositor Carlos Galvão, Lula integra o conjunto Pagode Jazz Sardinhas Club, com o qual já lançou dois álbuns. Para os amigos, deixo duas faixas, na companhia de Idriss Boudrioua (saxofone), Fernando Moraes (piano), Sérgio Barrozo (contrabaixo), Rafael Barata (bateria), além das participações especiais de Rosa Passos, Cláudio Roditi, Raul de Souza e Mauricio Einhorn.
Rejeitando mais uma vez os conselhos de John Lester, Chico põe na cabeça que obterá gim e steinheger, bi-destilados obtidos a partir do mosto de bagas de zimbro, arbusto que ele mantinha com orgulho em seu diversificado e bem cuidado quintal. Esquecendo-se que a planta é típica do clima temperado do hemisfério norte, observa novo fracasso. Antes que desistisse de produzir seu próprio destilado, Chico aceita o conselho de Lester e passa a trabalhar com mosto de abacaxi, nossa nativa e dulcíssima bromeliácea. A variedade escolhida foi o abacaxi pérola, que além do belo fruto, fornece belas flores. Ainda seguindo a orientação do velho amigo, Chico planta alguns pés de agave que, além de ornamentarem lindamente qualquer espaço, ainda poderiam nos fornecer alguma tequila caso tudo desse certo. E deu! Ao contrário do abacaxi, o agave azul demonstrou grande rendimento em álcool no preparo do mosto fermentado, auxiliando consideravelmente o processo de destilação. Embora detenha alguma semelhança com o abacaxi, a piña retirada do agave azul (foto abaixo) é venenosa e pode alcançar extraordinários 70kg. Após cozidas em panela de pressão, as piñas eram moídas com o motor do velho Gol 1981, que Chico preservou com muito carinho. Após a fermentação, era só esperar que as altas temperaturas do alambique fornecessem o néctar mexicano.
Emocionado, Chico confessou que muito de sua inspiração era devida ao falecido Lula Galvão, o grande e bigodudo crítico de gastronomia e vinho, responsável por mais de trinta anos de deliciosas matérias publicadas no Estadão. Antes que Chico pudesse terminar sua homenagem ao grande jornalista, João Luiz Mazzi intervém, dizendo que Lula Galvão nunca escreveu em jornal e está vivinho da silva! O nome do expert em comes e bebes é Saul Galvão, este sim falecido em 2009. Já Lula Galvão é um dos melhores guitarristas brasileiros em atividade. Aproveitando o clima carnavalesco, Pedro Nunes trouxe à baila a impressionate retirada de cabeças dos integrantes da Unidos da Tijuca: como eles retiravam as cabeças dos pescoços daquele jeito? Lester respondeu que, infelizmente, ninguém retirou a cabeça de Roberto Carlos, o que certamente o silenciaria para todo o sempre. Sem que mais ninguém à mesa prestasse atenção à tequila, passamos a ouvir o excelente álbum Bossa da Minha Terra, gravado para a Biscoito Fino. Nascido em Brasília, além de guitarrista, Lula é também excelente violonista e arranjador, daí ter trabalhado com artistas como Guinga, Rosa Passos. e Cláudio Roditi. Improvisador nato, começa a tocar violão aos quinze anos, mas somente aos 18 dedica-se seriamente ao instrumento.
Como demonstra ao longo do álbum, Lula domina o idioma do Bebop com fluência pouco usual entre instrumentistas brasileiros. Há também, embora discreta, a nítida influência da música clássica, estilo a que vem se dedicando nos últimos tempos. Amante da exuberante e rica música popular brasileira, Lula reconhece a influência de gente como Victor Assis Brasil, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Hélio Delmiro e Hector Costita em sua formação inicial. Irmão do baterista Zequinha Galvão e do contrabaixista e compositor Carlos Galvão, Lula integra o conjunto Pagode Jazz Sardinhas Club, com o qual já lançou dois álbuns. Para os amigos, deixo duas faixas, na companhia de Idriss Boudrioua (saxofone), Fernando Moraes (piano), Sérgio Barrozo (contrabaixo), Rafael Barata (bateria), além das participações especiais de Rosa Passos, Cláudio Roditi, Raul de Souza e Mauricio Einhorn.
10 comentários:
viola sinistra
O único Galvão que ouví falar é o frei Galvão. Não estou dando crédito nem a Galvão Bueno.
Prezado Mr. Scardua, foi mais ou menos assim, tirando minha contribuição que, diante do empreendedorismo de Chico, reduz-se a nada.
Grande abraço, JL.
Excelente postagem !
Se tem IDRISS tem que ser muito bom, mais ainda com Barata, Mauricio e o grande Sério Barroso.
Bacana, mr, Scardua.
As voltas com iminente tsunami ( o que lamento muito!!) no Hawai, para onde estou indo com minhas novas pranchas, foi bom passar por aqui e ver que o Clube das Tercas continua firme, Mr. Lester e Mr. Chico Brama em harmonia com suas pesquisas ...mas e o destilado do Chico? Quando saberemos o resultado deste trabalhoso processo?
Pena que,nao conseguindo ouvir as faixas no computador do my friend,
e nao querendo inutilizar o mesmo
(o computador), fiquei na saudade...!
De qualquer modo, muito bom passar por aqui!!!
Lula é nobre. Há muito curto sua levada e harmona com Rosa Passos. Sua guitarra também é generosa com o bom gosto da bossa.
Surpreende-me Mr Lester andar inclinado pra bossa ultimamente, ouvindo Cannonball com Sérgio mendes, etc. Daqui a pouco cai no congo.
Prezada Internauta Véia, estamos todos preocupados com sua viagem ao Havaí. Logo agora, foram as ondas crescer tanto. Mantenha-nos informados e, por via das dúvidas, capriche na parafina e nada de manobras radicais.
E, Mr. Coimbra, você sabe melhor que muita gente da minha afinidade com a bossa e o chorinho. Infelizmente, o blog é sobre jazz, o que me impede maiores devaneios sobre tais estilos.
Grande abraço, JL.
Mr. Lester,
Boa música não tem rótulo. Feliz bossa & choro para você neste domingo.
Que delicia de som Mr JL. E eu pensando que era o único Bossanovista por essas plagas. Muito bom o Galvão. Conheço outros violinistas do mesmo gabarito e muito pouco divulgados por aqui. Há o Eduardo Ponti formado tambem pela Berklee. É um monstro. Quem poderia comentar melhor seria o José Staneck e/ou o M.Einhorn. Vou ver se consigo desponibilizar alguma coisa para nós. Quem souber algo, por favor divulgue.
Abrçs
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