13/06/2011

Jazz Criollo - Argento Parrilla

                                                                                
É com grande prazer que recebemos em Vila Velha, Espírito Santo, o primeiro restaurante genuinamente argentino, situado na Rua Afonso Pena, 677, na Praia da Costa. O Argento Parrilla é comandado pelo simpático casal Fernando e Carol, sempre dispostos a nos acolher e servir da melhor maneira possível. A amizade foi, digamos, imediata. Após uma breve visita do casal à Casa Bonita, resolvi que deveria responder à altura ao espetacular lomo ao molho de malbec que o casal havia servido em minha última visita ao restaurante. Perguntando a Fernando se gostava de jazz, prometi a ele duas surpresas: apresentar-lhe um músico de jazz e um vinho argentinos que ele não conhecesse. Ele sorriu e disse que não acreditava que isso pudesse acontecer, dada sua vasta experiência sonora e etílica na terra das milongas. Preocupado, resolvi vasculhar minha desorganizada estante, em busca de algum músico bem estranho, sem esquecer de provar antes uma garrafa do vinho escolhido, um Bramare 2006, malbec produzido pela Viña Cobos, envelhecido 18 meses em barris novos. Ele já não é encontrado no site da Grand Cru, onde somente comparece o da safra 2008 que, acredito, deve manter o surpreendente equilíbrio entre elegância e potência, com a poderosa explosão de framboesa que pode até mesmo destruir narinas mais delicadas. A safra 2006 estava perfeita, agora só faltava o tal músico de jazz argentino...



Decidi por Barbieri. Ao chegar no restaurante, Fernando sorriu a valer, dizendo que possuía toda a obra de Leandro 'Gato' Barbieri, que adorava o saxofonista, etc e tal. Foi então que lhe perguntei se apreciava também a música do irmão do saxofonista, o trompetista Rubén Barbieri. Visivelmente surpreso, Fernando disse que nem sabia que Leandro tinha um irmão e muito menos que era um trompetista de jazz. Sacando do bolso o álbum Radio Auditions & El Perseguidor, solicitei ao amigo dos pampas que o colocasse a tocar. Partindo em direção ao meu segundo gol, coloquei sobre a mesa o tal malbec, identificado imediatamente por Fernando como um dos melhores produzidos na argentina. Jogo empatado em 1x1, só restou-me contar um pouco sobre a estória desse esquecido músico argentino.

Rubén nasceu em Rosario, no dia 12 de dezembro de 1928. Após algumas aulas com Alfredo Serafino, aos treze anos já apreciava o jazz (as primeiras influências ficaram a cargo das orquestras de Glenn Miller e Duke Ellington, líderes que fizeram com que se apaixonasse completamente pelo jazz) e aos quatorze já estava apto a tocar na orquestra de Adolfo de los Santos, onde conhece os trompetistas Tomás Lepere e Rafael Morelli. Em seguida, Ruben é convidado a tocar com René Cóspito, em Buenos Aires. Na década de 1950, ele e o irmão passam a frequentar o Bop Club de Buenos Aires, onde colocam em prática, respectivamente, os estilos lançados por Miles Davis e Lee Konitz, então considerados pioneiros do estilo cool jazz. É nesse ambiente fértil que conhecem grandes músicos argentinos, como o saxofonista Luis Horacio 'Chivo' Borraro e o trompetista Roberto Branca.

Além de apresentar o cool jazz à Argentina, Ruben manteve-se toda a vida na vanguarda, sobretudo por sua participação na Agrupación Nueva Música, também denominada Agrupación Nuevo Jazz, formada na década de 1960. Além de excelente instrumentista, Ruben destacou-se também como professor (Leandro foi seu primeiro aluno) e como compositor, chegando a compor a trilha sonora do filme El Perseguidor, de Osías Wilenski, baseado num conto homônimo de Julio Cortázar sobre Charlie Parker.

Embora atuante tanto como músico quanto como professor, Rubén nos deixou em 17 de março de 2006, em Buenos Aires. Para os amigos, as faixas La calle del delfin verde, Recordaré abril e Vida fácil. Com Rubén estão Rodolfo Alchourron (g), Jorge 'Negro' Gonzalez (b) e Norberto Minichillo (d). Imaginem ouvir esse som no Argento Parrilla, um restaurante que, respeitadas as normas básicas sobre o tema, não cobra a rolha! 

  

13 comentários:

Roberto Scardua disse...

Beleza de som Lester!

Valdicéia Mendonça disse...

Passando para agradecer ao Roberto Scardua por agora fazer parte dos meus amigos lá no blog.
Adorei o clima do blog de vcs!!!
Aguardo mais visitas e comentários.
Estou mandando por aqui, pq o meu blog está sofrendo adaptações e não manda mais e-mail para os seguidores importados, só do blog mesmo.

Érico Cordeiro disse...

Grande Mr. Lester,
Esse aí eu já conhecia.
Você nos apresentou durante o evento gastronômico realizado no apê mais descolado de Vila Velha.
Agora tenho mais um motivo para voltar ao ES - conhecer esse belo restaurante portenho!
Abração.

PREDADOR.- disse...

A execução e os arranjos das três músicas postadas(On green Dolphin street, I remember april e Easy life) são bastante agradáveis. Uma raridade, para mim, este álbum do porteño Ruben Barbieri. Não conhecia e gostei muito. Agora só falta experimentar o Bramare. Valeu mr.Lester!

Paula Nadler disse...

Já era hora! Vila Velha merece bons restaurantes.

thiago disse...

que nariz!

Edú disse...

Caro JL,
confira a mail box que estou mandando uma "personal message".Restaurante portenho bom não sai dos arredores entre a Florida e Puerto Madero.Vamos considerá-los bons iniciantes.Mas perto dos quarenta só como carne vermelha duas vezes ao mês.

APÓSTOLO disse...

Prezado JOHN LESTER:

Essa eu perdí de 2x0 = não conhecia o "Barbieri" e do vinho só tinha ouvido falar (prossigo sem degustá-lo.
Belo som, belos arranjos, qualidade....

John Lester disse...

Prezados amigos, bom receber suas visitas. Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Muito bom, JL...
Felicidade maior foi saber q Edú está bem, e poderemos "ouvir" suas ótimas histórias.
E oPituco, por onde anda? Espero q tb esteja bem
Bejos

pituco disse...

master lester,

data vênia...tandem obtinet iustitia...

valeô a dica...sonzaço na radiola

abraçsonoros
ps.anônimo, tudo bem, não sei...mas, já conformado...rs...devo atualizações lá em meu 'rancho virtual' também

Internauta Véia disse...

Fui e aprovei!
Muito bom...as sobremesas tb.são ótimas!

Sara disse...

Na semana passada fui para comer até mesmo o lugar mais interessante que você conhece até agora, mas não perdendo a oportunidade de ficar a conhecer esta também acreditam que a a figueira rubaiyaté o melhor que existe e eu recomendo.