24/10/2011

I Encontro Internacional dos Blogueiros de Jazz



O I Encontro Internacional dos Blogueiros de Jazz foi um absoluto sucesso. Idealizado pela equipa do Jazzseen e contando com o patrocínio da Casa Bonita - Arte & Objetos e com o apoio cultural da Galeria Nardelli, o evento ocorreu no Rio de Janeiro, entre os dias 30 de setembro e 20 de outubro de 2011, mesmo período em que acontecia o XL Festival de Triângulos Equiláteros de Caruaru, outro espetacular evento idealizado pelo percussionista angolano e blogueiro Alex Marretta, considerado pela crítica especializada o baterista mais sensível de Copacabana. Os dois eventos tiveram lugar no Pavilhão de São Cristóvão, espaço democrático onde rapaduras e tablets conviveram em perfeita harmonia. Ao que tudo indica, este é o primeiro encontro internacional de blogueiros de jazz. Organizado sob a esmerada direção de Frederico Bravante, Editor do Jazzseen, o evento contou com a presença de alguns dos mais importantes autores de blogs de jazz do Brasil e do exterior, como John Lester, Paula Nadler, Érico Cordeiro, Olney Figueiredo, Sérgio Sônico, Rogério Coimbra, Tobias Serralho e muitas outras personalidades do meio artístico e empresarial.

Entre os diversos temas abordados nas dezenas de conferências realizadas durante o Encontro, a que mais despertou a atenção do público e da imprensa foi a questão dos direitos autorais, objeto de profunda reflexão durante a palestra do blogueiro Sérgio Sônico. Denominada de "Sai da minha calçada!", a palestra de Sérgio Sônico baseava-se em fatos reais, acontecidos recentemente no Rio de Janeiro, onde um belo ciclista que vendia álbuns piratas de Carlos Gardel foi brutalmente assediado por seguranças da boate Milonga, em Ipanema. Como não cedesse às libidinosas propostas dos musculosos algozes, o jovem amante do tango foi proibido de vender seus álbuns em frente ao estabelecimento, ouvindo dos seguranças a frase ameaçadora: sai da minha calçada! Moral da estória, segundo o jovem ciclista: no governo Dilma, quem não paga o dízimo não engole a hóstia. Outro ponto polêmico abordado por Sérgio em sua palestra foi a questão de saber até que ponto podemos e devemos, em termos morais e legais, divulgar álbuns de tango e jazz que estão fora de catálogo. Devem os amantes dos estilos aguardar pacientemente que os detentores dos direitos autorais decidam relançar tais álbuns? E caso nunca voltem a ser relançados? Que tipo de proteção autoral estes álbuns devem ter, considerando que muitos deles foram gravados há 30 anos ou mais? Nestes casos, até que ponto a pirataria prejudica os músicos? E o que vai ser dos direitos autorais diante do poder cada vez maior da internet de divulgar música gratuitamente?

É claro que as grandes gravadoras têm tentado proteger seus ícones de vendas, como Miles Davis, Tom Jobim, Roberto Carlos e Ivete Sangalo, inserindo 'códigos' nas faixas de seus álbuns, o que tem permitido um certo controle sobre a movimentação destes arquivos pela internet, impedindo ou dificultando seu download, upload e hospedagem em sites de compartilhamento. Contudo, tais 'códigos' são quase sempre 'decifrados' por especialistas em informática, em sua maioria jovens desconfiados dos velhos conceitos de 'direito autoral', o que os leva a tornar tais arquivos acessíveis ao público, pelo menos até que sobrevenha nova proteção imposta pela indústria fonográfica.

Da esquerda: Érico Cordeiro, Olney Figueiredo, Sérgio Sônico, Rogério Coimbra e John Lester
I EIBLOJAZZ - Rio de Janeiro - Outubro de 2011


As duas outras palestras que mais chamaram a atenção dos visitantes e da crítica especializada foram as realizadas pelo baterista Alex Marretta, que discursou sobre a importância das baquetas produzidas com carvalho francês, material capaz de fornecer uma sonoridade achocolatada, e a do arquiteto e clarinetista John Lester, que refletiu sobre o quase desaparecimento do jazz gravado na década de 1970 e a importância da gravadora e selo Xanadu. Criada em New York em 1975 por Don Schlitten, experiente produtor que por diversas vezes atuou também como fotógrafo e resenhista dos álbuns, a Xanadu torna-se rapidamente uma das mais respeitadas gravadoras de jazz, especialmente do estilo Hard Bop (Bebop). Seu repertório é dividido em duas séries: a Silver, contendo gravações inéditas de músicos como Al Cohn, Barry Harris, Dolo Coker, Jimmy Raney, Sonny Criss e Dexter Gordon, além de uma série de quatro long plays sobre o Montreux International Jazz Festival de 1978, e a Gold, especializada em relançamentos de importantes gravações do Swing e do Bebop, sempre com a preocupação de que o músico ou sua família recebessem os devidos direitos auorais. São dessa série alguns álbuns memoráveis, como os de Billy Eckstine, Art Tatum, Coleman Hawkins, Bud Powell e Art Pepper, entre outros.

Após realizar algumas turnês pelo Japão e pela África nas décadas de 1970 e 1980, na década de 1990 a Xanadu para de produzir novas gravações. Em 1999, vende seu catálogo para a eMusic, que também não realiza nenhuma nova gravação, embora continue vendendo os álbuns já existentes da Xanadu. Em 2007 a Orchard compra o catálogo da Xanadu e resolve realizar novas gravações pelo selo, mantendo sua afinidade com o Hard Bop (Bebop): o primeiro novo álbum da Xanadu é Monk, lançado em 2009, onde o guitarrista Peter Bernstein presta tributo ao grande pianista.



Para os amigos, ficam as faixas 01 e 03 retiradas do álbum Xanadu at Montreux, Volume 3, gravado em 1978 com Sam Noto (t), Al Cohn, Billy Mitchell (ts), Ronnie Cuber (bs), Sam Most (f), Dolo Coker, Barry Harris (p), Ted Dunbar (g), Sam Jones (b), Frank Butler (d) e as faixas 02 e 04 retiradas do álbum Monk, gravado em 2009 pelo trio do guitarrista Peter Berenstein, com Doug Weiss (b) e Bill Stewart (d). Boa audição!


Xanadu by Jazzseen

19 comentários:

PREDADOR.- disse...

A julgar pelo cartaz, foi um encontro de blogueiros ou uma orgia com a mulherada??? Ouvi dizer de teve "velhinho" que quase morreu do coração! Quanto aos albums "revigorados " pela Xanadu, merecem aplausos.

Frederico Bravante disse...

Um dos momentos mais importantes da minha vida. Uma celebração do jazz na cidade maravilhosa!

Sergio disse...

Sensacional, mr. Lester! Finalmente alguém (dos participantes) fez jus à importância de tal encontro histórico.

Quanto às baquetas de carvalho francês, já corre a boca pequena a notícia de que o “belo ciclista” oportunista que só, aproveitou a idéia e está produzindo, como é de hábito, em material genérico - Garapeira Apuleia Ieiocarpa Amazônica -, baquetas que produzem um som levemente hipnótico, podendo, quando envelhecidas, serem descascadas e servidas em infusão com aguardente de boa cepa, tal qual Pau Pereira, como um poderoso estimulante do apetite sexual. Longamente testada durante um encontro no bar Pianense (no Humaitá), atestaram todos que apesar de ninguém comer ninguém (de fora, consequentemente do sexo oposto), o afeto entre cada um dos participantes foi consideravelmente estimulado.

Érico Cordeiro disse...

Mr. John Lester reproduziu com rara felicidade o espírito de companheirismo e confraternização que marcou o I Encontro Internacional dos Blogueiros de Jazz. No ano que vem, se tudo correr dentro dos conformes, haverá o I Encontro Intergalático dos Blogueiros de Jazz, com a presença do Destruidor de Mundos em pessoa, quer dizer, em alienígena.
Muito bem!!!!
E a Paulinha, que bateu a foto e por isso mesmo não aparece, estava linda, maravilhosa, hipnótica, sedutora naquela noite...
Bom, deixa eu parar por aqui...

Roberto Scardua disse...

Sábado passado agora, tive a oportunidade de beber três belas cachaças na casa do amigo João Santos Neves, em excelente companhia e com magnífica música ambiente. São elas:

Anísio Santiago/Havana, de Salinas, MG,

Claudionor, de Januária, MG,

e

Magnífica, de Vassouras, RJ.

Recomendo aos amantes do néctar.

pituco disse...

master lester e signores blogueiros do jazz,

acompanho nos blogs correlatos os post desse vosso encontro na cidade de s.sebastião do rio de janeiro...então foi, sexo, baquetas de carvalho e xanadu...coisa linda...o jazz não será o mesmo...

abraçsonoros e tô curtindo a radiola...uau...bom pacas...obrigado

Andre Tandeta disse...

Eu,hein?! Como se dizia na roça : conversa que eu num entendo "minhó cala".

Leila Krüger disse...

Não escuto tanto jazz (mas conheço um pouco), mas gostei muito do blog.

Tô seguindo. Se puder passa no meu e segue:
http://leilakruger.blogspot.com

Uma ótima semana!
Vamos ver se aprendo um pouco mais de jazz.

Bjo!

John Lester disse...

Seja bem-vinda Miss Krüger.

Grande abraço, JL.

Anônimo disse...

Bacana essa gente feliz demais.
E valeu a dica, Mr. Lester, o álbum Monk já foi devidamente ouvido e fez muito bem aos ouvidos.
Saudações.
Jimmy Green

Anônimo disse...

God, quanta confusão.

É sempre assim ?

O Andre Tandeta, disse bem: mihó calá

John Lester disse...

Prezado Anônimo, como lecionava Vovô Acácio: os sábios falam pouco.

E jazz é assim mesmo, no início pode causar desconforto em mentes adormecidas.

Grande abraço, JL.

Andre Tandeta disse...

E quem viver, vera.

figbatera disse...

Muito bom, Lester. Foi um grande prazer participar deste I Encontro no Rio.
Gostei das músicas aqui postadas.

ps.: e as nossas atividades "paralelas" tb foram muito importantes e prazerosas.... kkkkk

John Lester disse...

Mestre Olney, cada vez que nos encontramos tenho como certo que nada substitui a simplicidade.

É sempre um prazer caminhar pelas calçadas do Rio e beber algumas cervejas em sua companhia e de sua esposa.

Grande abraço, JL.

Internauta Véia disse...

Cadê meu comentário?

Logo onde eu dizia da minha alegria ao ver o Sérgio Sônico...agora fiquei com preguiça de escrever tudo de novo...Gostei da risada!

Charlotte disse...

Poxa vida, fiquei com água na boca de vontade de estar lá. não tenho tido tempo de passear pelos blogs e também você e nenhum outro publicou este evento que acredito ter sido maravilhoso. Olha se soubesse, com certeza iria e teria o prazer de compartilhar com vocês e até me apresentar como admiradora. Desta vez vou perdoar, mas pela foto, estou triste. brincadeirinha... espero poder saber do próximo encontro e com certeza, estar lá. Parabéns pelo evento e até o próximo.

John Lester disse...

Prezada Charlotte, certamente você será avisada do próximo EIBLOJAZZ.

Grande abraço, JL.

APÓSTOLO disse...

Estimados blogueiros que nos proporcionam a permanente delícia da boa música, dos comentários, das informações/novidades, das resenhas e de todo o aumento do conhecimento: PARABÉNS pelo encontro, com certeza uma senhora confraternização e um mundo de amizade.
Sem inveja mas com o desgosto por estar ausente, saudações para todos ! ! !