Com o Diabo no corpo
Não acho legal um colunista - seja ele quem for - ficar jogando tristeza no ventilador. Escrever sobre dores não é, nesse espaço, algo que me apetece, mas, como fechar os olhos e enxaguar as vísceras? Como jogar fora essa lixarada que, queiramos ou não, se acumula naqueles cantos que a gente nem sempre repara e, de repente, nem o Minilimpucô (Ministério da limpeza urbana e correlatos) consegue mais dar jeito? O capetinha no ombro esquerdo diz "vai pra esbórnia, toma um monte de cognacs, olha pra muglerada e, se possível, que seja na zona"; o outro capetinha (é isso mesmo: parece que, aqui, os anjos desistiram), no ombro direito, diz: "Não esquece de levar o sax". Uma boa idéia, enfim. Colocarei o sax no saco e vou nessa. Como trilha sonora dessa saída pode tascar aí o cd Motoring along, com os indefectíveis Al Cohn e Zoot Sims. Fui!!!
Outra coisa chata é ouvir alguém falando (ou ler um texto) sobre arrependimento. Como a vovó já dizia: quem não tem colírio usa óculos escuros. Eu não vou ficar me lamentando por ter bebido um litro de cognac, uma dúzia de chopps, e enchido a pança com tremoços só por que acordei com um prego atravessando do hipotálamo ao cerebelo e vazando no tampo da cabeça, e mais um, logo acima da orelha direita indo até à esquerda, e, como toque final, uma bigorna sendo martelada no lobo frontal. Fiquei com raiva, sim, por que minha farmácia estava sem o kit ressaca: plasil e dipirona (que eu bebo antes de apagar), arrependido, jamais. Como já disse a filósofa Adélia: "se sabe que bebe pra que passar mal?" A trilha sonora para essa cena tem que ser suave. Sugiro a guitarra de Jim Hall, ao lado de Chet Baker e Paul Desmond, tocando Concierto de Aranjuez. Aí é só pegar Ressaca, o touro, pelo chifre e amansar o danado. Por favor, abaixe o volume queuprecisdormir.
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Um comentário:
Vou avisar pra galera.
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