Assim como Chet Baker roubava seus próprios discos dos galpões da gravadora, para vendê-los por qualquer dinheiro nas ruas de New York, comprando então mais algumas doses de heroína, eu também tenho cometido meus pecados em nome do vício. O viciado em queijo Prima Donna não difere em nada do viciado em heroína: sofre terríveis crises de abstinência, enrola a língua e é capaz de inconfessáveis esforços para obter a mais fina fatia que seja do laticínio. Entrar num bom mercado é como entrar numa casa de ópio: os cheiros, a angústia, o desespero por mais uma dose, por mais uma fatia, são idênticos.
Com o descalabro financeiro causado pelo vício, vem a fase dos pequenos delitos: eu mesmo cheguei ao ponto extremo, ao fundo do poço como dizem os românticos, de presentear amigos e parentes com alguns gramas do queijo para, em seguida, roubá-los. Até mesmo mamãe já sofreu tal privação em suas geladeiras. A seguir, inevitavelmente, entramos no mundo da marginalidade, um ambiente hostil e sem regras onde não há barreiras legais, morais ou psicológicas que nos façam desistir da dose necessária. Tenho roubado minhas fatias de Prima Donna nos melhores mercados de Vitória e Vila Velha, onde os preços alcançam cifras inacreditáveis de R$150,00 a R$200,00 o quilograma do kaas (sim, ele é holandês). Nesse clima absurdamente quente e abafado, a empreitada se torna extremamente arriscada, não sendo possível utilizar aqueles úteis casacões de inverno. Mas até 250g você acomoda bem na cueca e, sendo uma cueca modelo Fome Zero, você acomoda bem a peça inteira de 50kg com relativa facilidade.
Bem, cortado o queijo, resta abrir a última garrafa do honesto Nuviana, um espanhol tempranillo com cabernet sauvignon, que você encontra por 20 reais em alguns mercados capixabas, e colocar o anestésico disco Let’s Get Lost, de Chet Baker, que morreu misteriosamente ao cair ou ser jogado de uma janela de hotel na Holanda. Para aqueles que gostam não só do queijo como também do jazz holandês, nada como o I Festival Internacional de Jazz de Olinda, realizado em abril de 2006, com a presença de um dos maiores músicos de jazz da Holanda, o saxofonista Benjamin Herman, e seu kwartet. Se você não pode ir ao I, agora é torcer pelo II. Ou pegar o excelente disco Benjamim Herman Plays Jaki Byard, gravado em 1991 e lançado em 2003 pela Challange. Com os competentes Pierre Christophe (p), Jos Machtel (b) e Joost van Schalk (d), você ouve um hard bop de primeira, sem devaneios modernosos ou apelos ao virtuosismo gratuito. Recomendado, sobretudo, para aqueles que apreciam, como nosso estimado arquiteto das letras Garibaldi, a sonoridade de Art Pepper. Venha sem medo, mas cuidado com a janela.
10 comentários:
Sapeca num cd de mp3 pra mim !
Quer dizer que vocês estão navegando outras águas? Belês.
NAVEGA TB. COBRADOR...
É BOM ENCONTRAR O PESSOAL EM OUTRAS PRAIAS...
Além do Chet e o Prima Donna, gostei do Nuviana, que não se encontra no Viana, nem na Cariacica, e onde então se encontra essa gostosura oral a 20 pilas ?
Além do Chet e o Prima Donna, gostei do Nuviana, que não se encontra no Viana, nem na Cariacica, e onde então se encontra essa gostosura oral a 20 pilas ?
Além do Chet e o Prima Donna, gostei do Nuviana, que não se encontra no Viana, nem na Cariacica, e onde então se encontra essa gostosura oral a 20 pilas ?
Além do Chet e o Prima Donna, gostei do Nuviana, que não se encontra no Viana, nem na Cariacica, e onde então se encontra essa gostosura oral a 20 pilas ?
Além do Chet e o Prima Donna, gostei do Nuviana, que não se encontra no Viana, nem na Cariacica, e onde então se encontra essa gostosura oral a 20 pilas ?
Prezado Cretino, a bottle pode ser encontrada no Perin de Itaparica. Creio, Cretino, que tbm possa ser encontrado nos demais Perins.
Sorte !
Postar um comentário