06/05/2006

Piano Brazil


Outro dia passeava eu tranquilamente pelo simpático Município da Serra com a amiga e cronista Bia Marggotto, vencedora do último concurso de contos eróticos promovido pela revista Playboy, quando fui avistado pelos integrantes das doze bandas de congo existentes naquela cidade, todos dispostos a retirar minha pele para produzir novos atabaques. No desespero, entrei no primeiro prédio disponível e, por ordens da deusa Fortuna, estava eu exatamente no interior da Casa do Congo Mestre Antônio Rosa. O prédio é bem cuidado e merece ser visitado por todos aqueles que não simpatizam com meu projeto Congo Zero. Protegido da turba assassina pelas paredes seculares da construção, pude restabelecer a calma e observar, em uma das prateleiras do museu, quatro interessantes discos de música popular brasileira.

O primeiro deles era Jungle Cat (lançado em 1989 pela DMP CD-470), do pianista Manfredo Fest, gaúcho cego e inteligente que abandonou o vanerão e mergulhou no jazz. Um dos precursores da bossa nova, Manfredo teve formação clássica, mas logo se apaixonou pelo bebop. Nesse disco, além da sólida cozinha, conta a presença marcante do trompetista Cláudio Roditi em algumas faixas. Sua morte, em 1999, foi mais uma grande perda para a música brasileira contemporânea. O segundo disco que encontrei foi Cool Bossa Struttin, da doce e jovem pianista carioca Paula Faour. Formada pela UFRJ, Paula já atuou em diversos contextos, desde o samba com Noca da Portela, passando pela música fácil a bordo de um transatlântico nas Ilhas do Caribe, até se entregar às forças invencíveis de músicos como Tom Jobim e Thelonious Monk. Ao lado de feras como Zé Bigorna (ts), Manuel Gusmão (b), Dom Um Romão (d, perc) e Ithamara Koorax (v), Paula nos oferece uma colorida e revigorante salada: Monk, Beatles, Jobim, Miles, Lennon e Deodato, tudo com muito swing e sabor carioca.

Os outros dois discos excelentes que por lá encontrei são ambos do excepcional pianista paulista Hélio Alves. Hélio, filho de dois pianistas, soube associar a disciplina exigida pela música clássica à liberdade oferecida pela música popular. Sua grande atração pelo jazz sempre foi uma constante. Após estudar em Berklee, ainda bem jovem foi para New York, tocando e aprendendo com mestres como Cláudio Roditi, Phil Woods, Herbie Mann e Duduka da Fonseca, entre outros. Hoje, depois de 40 anos de estrada, Hélio é proprietário de uma técnica invejável, além de uma capacidade de improvisar com rapidez, intensidade e beleza bastante rara em pianistas brasileiros. Talvez apenas Eliane Elias e mais meia dúzia de pianistas brasileiros possam ser comparados a Hélio. Seus discos como líder são Trios (Reservoir RSR CD 156, de 1997) e Portrait In Black And White (Reservoir RSR CD 176, de 2003), ambos em trio com Santi Debriano, John Patitucci, Nilson Matta (b) e Al Foster, Duduka da Fonseca, Paulo Braga, Matt Wilson (d). Os dois discos são excelentes, sendo impossível recomendar apenas um deles. Com algumas composições próprias e vários tributos a Bud Powell (Hallucinations), Tom Jobim (Retrato Em Branco E Preto), Egberto Gismonti (Loro), Hermeto Pascoal (Santo Antônio), Hélio nos faz sentir orgulho em ser brasileiro. Os curiosos sem grana para comprar os discos podem dar uma olhadela no site http://www.helioalvesmusic.com/index3.html e ouvir alguns trechos desse artista que a Casa do Congo soube preservar em nossas memórias ainda relativamente vivas, embora atônitas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Manero o blog, so falta um som.

Anônimo disse...

TÔ C/ O DUCA, CADÊ O SOM?