01/06/2006

Rondando ao derredor do blues

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Em 1794 o francês Xavier De Maistre escrevia seu livro Viagem Ao Redor Do Meu Quarto (Ed. Mercado Aberto), onde fazia cada recanto do cômodo nos remeter a lugares imaginários. Ótima opção para brasileiros pobres ou internautas tarados. Ou, ainda, para miseráveis que, como eu, duzentos anos depois de De Maistre, cá estamos, viajando através do mundo a partir de nosso computador. Lembrando que dinheiro não traz felicidade e desconsideradas as terríveis dores no pescoço, pernas, costas e glúteos, fincamos pés virtuais em terras distantes de nossos quartos e inalcançáveis para nossos bolsos. Damos um pulo no Village, em New York, e olhamos toda aquela maravilhosa programação a que nunca poderemos assistir. Depois esticamos até a New Orleans da gripe espanhola, onde toda a família do guitarrista Lonnie Johnson morreu em 1915, com exceção de um de seus 12 irmãos.
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Menina levada do Storyville com gripe - 1912 - Bellocq
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Alonzo Johnson (?-1970) nasceu obviamente em New Orleans, numa família de músicos. Logo cedo aprendeu o violão e o violino. Após tocar em bares, bordéis e navios pelo rio Mississipi, viaja pelo mundo: aos dezessete anos parte para Londres, depois New York, Chicago e qualquer outra cidade onde um negro pudesse ganhar algumas moedas fazendo música. Na década de 20 tocou com astros como Eddie Lang, Louis Armstrong, Duke Ellington e Bessie Smith que, segundo as más línguas, teria levado uns pitacos do guitarrista. Os dois grandes problemas de Lonnie eram: primeiro ser um gênio negro da guitarra, inventor do solo desse instrumento no blues e no jazz, estando muito além de qualquer guitarrista de sua época, deixando um legado que influenciou Charlie Christian, Django Reinhardt, T-Bone Walker e B B King. Até mesmo Robert Johnson usava esse sobrenome para ser confundido como irmão de Lonnie. O segundo grande problema de Lonnie era não ser um negrinho engraçado e brincalhão. Lonnie Johnson era um homem educado, consciente de sua condição, nascido e criado numa grande cidade, onde os absurdos raciais eram denunciados e questionados por homens como ele. O próprio público negro afastou-se de sua música elaborada e inteligente, fazendo com que Lonnie fosse trabalhar como porteiro de Hotel.

Lonnie Johnson, que Roberto Muggiati chama de O Poeta do Blues
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Na década de 50 intelectuais brancos resolveram fazer o merecido resgate de Lonnie, levando-o para os estúdios e nos brindando com gravações que demonstram porque Lonnie é considerado o gênio do blues que revolucionou a guitarra do jazz. Os estudiosos do blues podem preferir aquelas obras mais autênticas, gravadas entre as décadas de 20 e 40. Para quem não curte chiados e tic-tacs, recomendo com ênfase o cd abaixo, com excelente som, gravado em 1960.
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Blues, Ballads, and Jumpin' Jazz, Vol. 2 - Bluesville - 1960


10 comentários:

Anônimo disse...

Pô, véi, não tenho nenhum deles. Aguardo.

John Lester disse...

Olha, doravante estamos sendo controlados por um severo contador de visitantes. Espero que faça ameaças a todos os seus alunos com reprovação caso não dêem seus pitacos por cá.

JL.

Anônimo disse...

Passei e gostei. Parabéns Salsa e Cia.

Anônimo disse...

vcs podiam falar de samba e chorinho ao invés de blues e jazz

que tal ?

Anônimo disse...

Prezado Tião, de vez em quando, até que rola um papo sobre o tema. Mas sempre com a releitura jazzista.

Anônimo disse...

Pensei que os editores fossem radicais. Espero que minha impressão seja a realidade. Seria bom ter um blog que falasse apenas de jazz. Quem quiser ouvir samba e chorinho devera ir a um blog adequado.

Muito grato, Sérgio Murillo

John Lester disse...

Prezado Sérgio, o blog é produzido democarticamente. Dependesse de mim, ficaríamos apenas no jazz, blues e bossa nova. Mas ainda há incertezas. Em breve, com a aprovação da Resolução Jazzseen N. 1, o perfil do blog ficará definitivamente definido. Até lá, cuidado com eventuais bumbos, atabaques e ripiniques.

Saudações, JL.

Salsa disse...

Pô, meu, algum dia alguém publicou algo que não fosse jazz nesse blog? Se o fizemos foi pra descer o malho.

Anônimo disse...

Sim, publicaram Folia de Reis e Congo e por aí vai que John Lester adora. Jazz, para este Blog, é secundário.
Tem mais Babalaô do que Blues. E por que Mr. Lester gosta mais de congo & quilombadas (êpa!), melhor, Que Lombadas...e, não gosta de choro & samba ? Gosta só do tronco norte-americano ? Blues e Que Lombada ?

Anônimo disse...

A questão, prezado Cretino, não é gostar apenas de jazz. O ponto é que o blog é para falar de jazz.

Caso queira, monte um espaço virtual para o samba e, pode estar certo, não vou aparecer por lá solicitando que fale de jazz.

Saudações, JL.