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Essa coisa de misturar música clássica com jazz é bem antiga. Mesmo antes de o jazz já existir oficialmente, verificamos certas práticas de escambo entre o popular e o erudito. O primeiro caso que me vem à mente é o do menino prodígio de New Orleans, Louis Moreau Gottschalk (1829-1869). Aos doze anos o garoto já dominava o piano e, como de costume, foi enviado à Europa para complementar seus estudos. Em suas composições, como The Bamboula e The Banjo, fortemente influenciadas pela música creole de New Orleans, já verificamos essa permuta entre gêneros musicais. Um pouco mais tarde, verificamos influência simétrica, onde os mulatos ricos de New Orleans, que detinham formação musical clássica, criam o ragtime, gênero musical baseado em música escrita, sem espaço para o improviso, composta principalmente para ser executada ao piano. O sucesso do ragtime atravessa o Atlântico e chega à Europa, onde serão diversas as contribuições de músicos clássicos para a continuidade desse intercâmbio: em 1895 o famoso compositor checo Antonin Dvorak já alertava os compositores norte-americanos sobre a necessidade de fundamentarem suas obras nas contribuições musicais afro-americanas.
Em 1908 o compositor impressionista Claude Debussy (1862-1918), após ouvir John Philip Souza na Exposição de Paris de 1900, compõe peças para piano claramente baseadas no ragtime, como em sua suíte Children’s Corner e em alguns de seus prelúdios. Simetricamente, as experiências harmônicas do mestre francês seriam utilizadas pelos músicos de jazz, tanto no swing quanto no bebop. Suas aventuras no campo da modalidade também seriam revisitadas por vários músicos do jazz, como Miles Davis e Bill Evans na década de 1950. Esse processo mútuo persegue toda a história do jazz: Em 1909 Charles Ives utiliza elementos da música negra em sua sonata para piano nº 1. Erik Satie utiliza elementos do ragtime em seu balé Parade em 1917. Nos anos seguintes seria a vez de Igor Stravinsky em obras como The Soldier’s Talor, Piano Rag Music, Three Piaces For Clarinet, Rigtime For Eleven Instruments ou Ebony Concert. Em 1922 é a vez de Paul Hindemith prestar sua homenagem em Suite 1922. Depois Darius Milhaud em seu balé La Création Du monde, Maurice Ravel em sua sonata para violino, Gershwin em sua Rhapsody In Blue, Aaron Copland em sua Music For Theater ou Leonard Bernstein em seu Prelude, Fugue And Riffs.
A lista seria interminável, mas vale lembrar que o pianista russo Leopold Teplitsky, ao retornar de sua visita aos EUA em 1927, recolheu todos os discos de jaz que conseguiu encontrar, levando-os para sua terra natal. No mesmo ano, na Alemanha, o jazz estava presente na obra de Ernst Krenek – Johnny Strikes Up - e de Kurt Weill – The Rise And Fall Of The City Of Mahagonny. Do outro lado, os músicos de jazz tentavam combinar as formas e a instrumentação da música clássica com a improvisação e o swing feeling jazzísticos. Bix Beiderbeck com seu toque impressionista e Paul Whiteman com o seu jazz sinfônico na década de 1920, Artie Shaw na década de 30, Ellington e John Lewis na de 40, Mingus, Gunther Schüller (que inventou o termo third stream), Stan Kenton, George Russell, Jimmy Giuffre, Miles Davis e Gil Evans na de 50 e Don Ellis na de 60. A coisa se ampliou tanto com o free jazz que hoje começamos até mesmo a perder a divisão clara entre jazz e música erudita. Exemplar nesse contexto é a obra do inclassificável compositor Anthony Braxton, considerado músico de jazz pela música clássica e músico clássico pelo jazz. No Jazzseen Salad – acima, à direita – deixamos o clássico do jazz Body And Soul sob os cuidados do violinista clássico Nigel Kennedy. Boa audição.
Essa coisa de misturar música clássica com jazz é bem antiga. Mesmo antes de o jazz já existir oficialmente, verificamos certas práticas de escambo entre o popular e o erudito. O primeiro caso que me vem à mente é o do menino prodígio de New Orleans, Louis Moreau Gottschalk (1829-1869). Aos doze anos o garoto já dominava o piano e, como de costume, foi enviado à Europa para complementar seus estudos. Em suas composições, como The Bamboula e The Banjo, fortemente influenciadas pela música creole de New Orleans, já verificamos essa permuta entre gêneros musicais. Um pouco mais tarde, verificamos influência simétrica, onde os mulatos ricos de New Orleans, que detinham formação musical clássica, criam o ragtime, gênero musical baseado em música escrita, sem espaço para o improviso, composta principalmente para ser executada ao piano. O sucesso do ragtime atravessa o Atlântico e chega à Europa, onde serão diversas as contribuições de músicos clássicos para a continuidade desse intercâmbio: em 1895 o famoso compositor checo Antonin Dvorak já alertava os compositores norte-americanos sobre a necessidade de fundamentarem suas obras nas contribuições musicais afro-americanas.
Em 1908 o compositor impressionista Claude Debussy (1862-1918), após ouvir John Philip Souza na Exposição de Paris de 1900, compõe peças para piano claramente baseadas no ragtime, como em sua suíte Children’s Corner e em alguns de seus prelúdios. Simetricamente, as experiências harmônicas do mestre francês seriam utilizadas pelos músicos de jazz, tanto no swing quanto no bebop. Suas aventuras no campo da modalidade também seriam revisitadas por vários músicos do jazz, como Miles Davis e Bill Evans na década de 1950. Esse processo mútuo persegue toda a história do jazz: Em 1909 Charles Ives utiliza elementos da música negra em sua sonata para piano nº 1. Erik Satie utiliza elementos do ragtime em seu balé Parade em 1917. Nos anos seguintes seria a vez de Igor Stravinsky em obras como The Soldier’s Talor, Piano Rag Music, Three Piaces For Clarinet, Rigtime For Eleven Instruments ou Ebony Concert. Em 1922 é a vez de Paul Hindemith prestar sua homenagem em Suite 1922. Depois Darius Milhaud em seu balé La Création Du monde, Maurice Ravel em sua sonata para violino, Gershwin em sua Rhapsody In Blue, Aaron Copland em sua Music For Theater ou Leonard Bernstein em seu Prelude, Fugue And Riffs.
A lista seria interminável, mas vale lembrar que o pianista russo Leopold Teplitsky, ao retornar de sua visita aos EUA em 1927, recolheu todos os discos de jaz que conseguiu encontrar, levando-os para sua terra natal. No mesmo ano, na Alemanha, o jazz estava presente na obra de Ernst Krenek – Johnny Strikes Up - e de Kurt Weill – The Rise And Fall Of The City Of Mahagonny. Do outro lado, os músicos de jazz tentavam combinar as formas e a instrumentação da música clássica com a improvisação e o swing feeling jazzísticos. Bix Beiderbeck com seu toque impressionista e Paul Whiteman com o seu jazz sinfônico na década de 1920, Artie Shaw na década de 30, Ellington e John Lewis na de 40, Mingus, Gunther Schüller (que inventou o termo third stream), Stan Kenton, George Russell, Jimmy Giuffre, Miles Davis e Gil Evans na de 50 e Don Ellis na de 60. A coisa se ampliou tanto com o free jazz que hoje começamos até mesmo a perder a divisão clara entre jazz e música erudita. Exemplar nesse contexto é a obra do inclassificável compositor Anthony Braxton, considerado músico de jazz pela música clássica e músico clássico pelo jazz. No Jazzseen Salad – acima, à direita – deixamos o clássico do jazz Body And Soul sob os cuidados do violinista clássico Nigel Kennedy. Boa audição.
10 comentários:
Gostei...ás 3 da manhã caiu bem...
Até que o blog não está tão ruim assim. Gostei.
Esse avaliador de blogs é um bobão. O blog tá lindinho.
Ainda acho que violino vai melhor na música chamada erudita.
Eu também acho rs.
Esse Lester é um danado de erudito, sô ! Mas esse negócio de mistureba não dá muito certo não. Prefiro o jazz no erudito do que o contrário. Um John Lewis, Modern Jazz Quartet, ainda vai.
Louis Moreau Gotschalk tem duas composições feitas no Brasil, uma delas intitulada "Fantasia sobre o Hino Nacional Brasileiro". Frequentava os trópicos e morreu no Rio de Janeiro.
Salsa e Grapetti RS não estão com nada. Música não admite fronteiras e o intercâmbio entre o erudito e o popular é que forma clássicos, seja na música chamada de clássica, seja no jazz ou no samba-roque meu irmão. Ou vai dizer que Pannonica não é um clássico?
Quanto ao violino, o instrumento que chega mais perto de tocar uma corda do corde (coração), ele cabe bem em qualquer gênero musical, desde que bem tocado.
Prezado Caribenho, seja bem vindo ao Jazzseen. Por falar nisso: qual obra de Monk não seria um clássico?
Até breve, JL.
Continuo preferindo o violino num quarteto de cordas e adjacências.
Em aqui retornando, resolvi concordar com o caribenho no aspecto relacionado à noção de clássico: aquele que consegue atrair a atenção das diversas gerações e proporciona a polêmica é, antes de tudo, um clássico.
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