06/08/2006

Pasteurização

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Outro dia eu conversava com Rogério Coimbra, um dos sócios mais antenados do Clube das Terças, sobre o processo de pasteurização pelo qual o jazz tem passado nos últimos 50 anos. Assim como Louis criou em 1864 um processo através do qual podemos eliminar os microorganismos dos alimentos, muitos músicos de jazz criaram uma atmosfera elétrica através da qual toda emoção era retirada da música que produziam. Contrabaixos, pianos e outros instrumentos acústicos foram sendo eliminados. Junto com eles, as delicadas tessituras sonoras que davam tanta vida ao jazz foram sendo paulatinamente substituídas por frios sons eletrônicos. Confesso que coisas como Pat Metheny e Cia realmente nunca me atraíram sinceramente. Ok, você pode alegar a virtuosidade, a originalidade, a versatilidade mas... Sei lá, para mim falta a madeira envelhecida do baixo, falta a pancada do velcro sobre a corda esticada do piano. Não sabaria dizer exatamente o que sinto - talvez um musicólogo o saiba - mas falta emoção nessa coisa eletrônica toda que tem sido expelida no mercado sob o nome de jazz.

E Rogério sempre lembra: homens como Bill Evans não precisam de energia elétrica. Dê-lhe um velho piano e relaxe. Lembrando dessas palavras tive uma grata surpresa ao ouvir um músico para o qual até então eu não dava a mínima: Lyle Mays, aquele que sempre acompanha Pat em suas aventuras etéreas e, para mim, sem sal. Ao ouvir Lyle tocando piano acústico percebi quanta coisa esse jovem músico sabe sobre timbre e sobre emoção. Na faixa que coloquei acima, no Gramophone Jazzseen, o tributo a Bill Evans é evidente não apenas em função do título da faixa (Bill Evans) mas pelo simples fato de soar como um agradecimento sincero e emocionante ao velho mestre. Para aqueles que pretendem investigar o jazz moderno feito com sensibilidade, recomendo o cd Fictionary sem restrições, mesmo aos navegantes mais desconfiados. A coisa é toda acústica, com Marc Johnson no baixo e Jack DeJohnnet na bateria. Rogério Coimbra, tenho certeza, aprovaria.

4 comentários:

Salsa disse...

Uma das coisas que tem me agradado ao escrever nesse blog é o fato de, ao ouvir algumas coisas que normalmente eu evitaria, ter passado a encarar alguns preconceitos e superá-los. Não gostava, por exemplo, de trios formados por piano, baixo e bateria, hoje já não sou tão reticente.

Anônimo disse...

O cara tem uma pegada moderna e uma sonoridade bem interessante. Gostei. Não há nada como música acústica.

Anônimo disse...

Quem diria que o garoto dos teclados elétricos tinha uma sonoridade tão boa. Por mim ele desligava o teclado da tomada.

Anônimo disse...

Lester, tenho esse CD e acho muito interessante o trabalho de Mays que apareceu no fusion mineiro(viva Toninho Horta)de Pat Metheny.
Bill é pai, é mestre. E viva o jazz e o jazzseen.