30/09/2006

Coltrane & Guggenheim

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O mês não poderia terminar sem que falássemos um pouco sobre John Coltrane. Afinal, em setembro de 2006 ele completaria 80 anos de idade. Mas sua dieta exótica de grãos - e talvez as elevadas doses de heroína - resolveram levá-lo com apenas 40. Quem me conhece já está cansado de saber quais meus dois saxofonistas prediletos: Lester Young e John Coltrane. Desconsiderando a genialidade criativa que caracterizava os dois músicos, o primeiro se destaca mais pela sensibilidade inigualável, enquanto o segundo pela inventividade inesgotável. Lester quase nunca suscita discussões muito acirradas: nos círculos de jazz há basicamente uma unanimidade em relação à beleza profunda de seu trabalho. Já Coltrane, não. Quase sempre há aqueles que, de um lado, o idolatram e, do outro, aqueles que o execram. Santo que abriu um mar colorido para o jazz ou demônio que acabou com o bom e velho jazz? O trabalho de Trane, embora realizado em breve período – ele viveu apenas 40 anos, pode ser dividido basicamente em duas fases bem definidas: a primeira se desenrola dentro da linguagem do hard bop, com todas as heranças provenientes de bebop e tão bem desenvolvidas por Sonny Rollins. A segunda, mais polêmica, é aquela onde o experimentalismo escancarado retira do mapa as fronteiras que até então bem definiam o semblante do jazz. Brincando com a música como um menino levado desmonta seus brinquedos, Coltrane lançou o jazz no desafio da modernidade, exigindo uma nova e mais ampla definição desse estilo alegre nascido em New Orleans pelas gordas bochechas de Satchmo. O jazz, com Coltrane, abraça o mundo e, ao mesmo tempo, é abraçado por ele de uma forma tão contundente e complexa que hoje muitos dizem que o jazz acabou. Essa idéia de fim sempre esteva presente na curta história do jazz: assim foi com o classic jazz de Armstrong, com o bebop de Parker e com a fusion de Miles Davis. É natural estranhar o novo e não perceber sua beleza. Assim, escolhi uma das faixas que me seduziram no mundo do jazz, quando ainda tinha 14 anos e ouvi Bye Bye Blackbird num velhor lp da Pablo Live comprado num sebo do Rio. Hoje o material está todo na excelente caixa Live Trane: The Complete European Tours, em 7 cd's da Pablo. Aos amigos deixo logo abaixo as faixas Blue Train, Naima e Impressions, gravadas em Paris e Stockholm, em novembro de 1961. No Jazzseen Jam Sessions - acima, à direita - fica a faixa My Favorite Things, da mesma temporada, com 25 minutos de duração. Em todas você ouve, além de São Coltrane, Eric Dolphy (f, bcl, as), McCoy Tyner (p), Reggie Workman (b) e Elvin Jones (d). Amém.


8 comentários:

Anônimo disse...

Confesso que a fase overdose de Coltrane ainda me incomoda, mas é inegável a sua importância para o jazz. É um divisor de águas.

Anônimo disse...

vou querer algumas faixas dele no "meu" CD...

Salsa disse...

Impressionante o som da dupla trane & dolphy.

Anônimo disse...

Bom demais!

Anônimo disse...

Prezado Vinicius, procure Mr. Salsa ou Mr. John Lester no Clube das Terças, lá no Centro da Praia, toda terça por volta das 19h. A caixa pode ser eventualmente ripada para o amigo.

Um abraço, JL.

Salsa disse...

Tem o disco coltrane e dolphy complete in copenhagen, 1961.

John Lester disse...

Prezado Salsa, esse petisco que você suscitou tem um som horroroso. Mas, se não dá para comprar a caixa (que é muito bem remasterizada), vai de petisco mesmo. Eu não compraria o Complete In Copenhagen.

Anônimo disse...

O petisco (complete in copenhagen) tem lá no e-mule, de graça.