Demorou, mas chegou. Parece que veio no lombo da mula, e atravessou esse mundo velho sem porteira guiado por um tropeiro. A Mosaic faz um tipo especial de agrado aos apreciadores do jazz: compra os direitos dos grandes momentos dos maiores músicos desse estilo para uma edição limitada. E foi mais uma dessas caixas que chegou para esse neófito (neófito, sempre: o jazz sempre me surpreende): The Complete Blue Note Hank Mobley Fifties Sessions. São dez LPs gravados pelo selo Blue Note (55-58), que se transformaram em seis cds, do período mais efervescente e criativo de Mobley (que, a meu ver, se estende até o início dos anos sessenta quando gravou alguns discos com Miles Davis e também lançou, em seu nome, os discos Roll call, Soul station e Workout, este foi aqui comentado há poucos dias). Esse período é marcado por sua associação a Horace Silver e Art Blackey, que gerou pelo menos quatro dos dez lps da blue note. Mobley, de acordo com as liner notes (excelente, diga-se de passagem), tem um jeito peculiar de tocar: sempre que está acompanhado por outro músico solista, ele aborda o tema numa perspectiva contrastante com a do colega (segundo ele próprio, isso evitaria o risco de ser "engolido" pelo outro - modéstia dele, óbvio), opção que, além de demonstrar a sua versatilidade, enriquece as sessões das quais participou. Apesar das comparações dos críticos do período que o colocavam como uma versão inferior de Rollins, Hank Mobley tem uma assinatura peculiar que o destaca no universo do jazz: seu sopro é gentil e prima por manter-se ao lado da melodia e da harmonia, sem arroubos vanguardistas. Destaquemos ainda a sua verve de compositor: seus temas parecem que foram feitos para os músicos poderem brincar à vontade (creio que é esse o ponto que mais se revela a sua alma de jazzista). Podemos relacioná-lo entre aqueles underrateds que, apesar de serem muito bem aceitos entre os músicos, foram relegados ao segundo plano pela tal crítica especializada. O interesse maior pela sua obra só se deu depois de sua morte, em 1986. Antes tarde do que nunca. Deixarei alguma coisa no Gramophone by Salsa.
4 comentários:
Mobley nunca é demais.
Salsa, quem é o trompete que tá com Mobley na primeira faixa (Funky In Deep Freezy) ???
Fala sério!!!
A gravação de Funk in deep freeze é de 1957 e a formação é Mobley, Art Farmer, Horace Silver, Doug Watkins e Art Blakey.
Just Coolin' é o mesmo pessoal (sem Art Farmer) e foi gravado em 1955.
Thanks!
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