04/12/2006

Crossroad Ahead

A vida é cheia de encruzilhadas. Às vezes, nem nos damos conta de sua presença e passamos direto e somos atropelados pelo destino. Só depois sentimos as mordidas dos cães raivosos que guardam as trilhas infernais. As encruzilhadas compõem a face enigmática de nossas vidas e não adianta querer a certeza da sua decifração: ela é hermética. Estar de frente para uma encruzihada revela a nossa solidão no mundo: ninguém decidirá por nós o caminho a seguir (mesmo que nos iludamos quando alguém nos dá um pretenso conselho: a decisão é solitária e o ato é irreversível: escolheu, está escolhido: caixão e vela preta: siga em frente: até a próxima encruzilhada). O desvio é uma ilusão: ele é mais uma opção para o enigma/encruzilhada. Quando você, nobre navegante, estiver ali, bem à frente da danada, lembre-se: você pode escolher uma boa trilha sonora para acompanhá-lo. No mundo do jazz existe alguns camaradas que olharam a esfinge nos olhos e resoveram dar uma bela sacudida nos seus velhos paradigmas para seguir um novo rumo. Hoje eu gostaria de apresentar um deles: Sam Rivers. Nascido em 23, em Oklahoma, tornou-se um dos nomes jazz dos anos sessenta. Seu estilo estava afinado com vanguarda da época, mas sem deixar de lado aspectos formais de seus antecessores. De qualquer modo, podemos incluí-lo entre aqueles que contribuiram para os novos rumos do jazz. Isso é perceptível no modo de construir seus temas e seus improvisos, e também na sonoridade que ele tira do seu sax tenor (ele também toca soprano e flauta). Ao meu ouvir ele soa como uma mescla de Rollins e Dolphy. Indico-lhes a caixa da Mosaic The complete Blue Note Sam Rivers sessions, que cobre o período de 1964 a 1967 (são três cds com cinco lps reunidos: Fuschia swing song, Contours, A new concepcion, Involution e Dimensions and extensions). Deixarei alguma coisa no Gramophone by Salsa.

Um comentário:

John Lester disse...

Bem, eu tinha até uma resenha engatilhada sobre o Sam. Mas, depois das palavras de Mr. Salsa, pouco teria a acrescentar. Diria somente que, se você gosta de John Coltrane, compre sem medo essa caixa da Mosaic. Considero a melhor fase do Sam, esse monstro do tenor que não se permitiu acomodar nas tranquilas águas do hard bop que dominou a década de 1960. Ele, como Coltrane e Dolphy, deu um grande passo adiante.