Pullen até cansar

Quando eu ouvi Don Pullen pela primeira vez, ele fazia parte do grupo de Mingus. Fiquei curioso e consegui algumas cópias de seus discos com colegas. Eu tive a seguinte impressão: o prezado navegante já deve ter entrado em um desses restaurantes cujos cardápios incluem da pizza a feijoada, passando pela moqueca, pela comida àrabe e mais um sem fim de opções que nos deixam desconfiados. Tamanha "versatilidade" do mestre-cuca pode ocasionar alguns equívocos (tipo conceber uma pizza com pé-de-porco). Não que eu o tenha achado um mestre-cuca desprezível, não, senhor. Acho até que ele tem seus bons momentos: aqueles que, ao lado de George Adams, manteve um quarteto (poderia ser chamado Mingu's children: um tipo de extensão do grupo de Charles Mingus) que persistiu entre os anos 1979-1988. Mas ele também e capaz de produzir uma "Conversation" entre piano e bateria (cd Milano Strut) que é uma pedreira free difícil de digerir (estou ouvindo enquanto escrevo: parece uma sessão de catarse: sao três faixas com clima free) - o estranho, no contexto, e a faixa-título Milano strut, cuja pegada é marcada pela linguagem funk/soul (Pullen pilota o orgão) e, ao meu ouvir, e mais apetecivel. Talvez um apreciador de free jazz e outras experiencias radicais possam considerá-lo um bom chef de cuisine; eu, como já lhes disse, sou mais conservador. Prefiro ir ao pote devagar. Assim sendo, eu indicaria ao navegante que resolver experimentar Pullen, que faça metodicamente: comece devagar com o cd Tomorrow's promise e curta o seu funkeado Big Alice (considerado pelos entendidos no assunto como um dos novos standards do jazz) que, além do seu chapa George Adams, conta com a participação do violinista Michal Urbaniak e do tompetista Randy Brecker. Depois, vocês podem se enveredar pelo seu período mais aloprado ouvindo a caixa The complete black saint and soul note recordings. Aí voces ouvirão de tudo um pouco: do r&b ao free. Deixarei algo ali no Gramophone by Salsa.