21/01/2007

Dia 03/01/07 - Straight, No Chaser

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Mais um dia de céu limpo faz da caminhada minha melhor opção de deslocamento pela Grande Maçã. Apesar de extensa, complexa e muito diversificada, não é difícil mover-se por New York. Tenha sempre em mente que a Quinta Avenida divide verticalmente a cidade em leste (direita) e oeste (esquerda). Todas as demais avenidas, como você pode imaginar, são paralelas entre si e a maioria delas recebe números como nomes, sempre crescentes de leste para oeste. Já as ruas, com exceção de algumas do Greenwich Village, são perpendiculares às avenidas e recebem também números como nomes, todos crescentes do sul para o norte. Anote que da Rua 110 para cima você tem o Harlem, uma região que alguns recomendam, principalmente à noite, ser visitada em grupo. Outras ruas importantes são a imensa Rua 57, a Rua 34, a Rua 23 e a Rua 14. São essas ruas que usualmente dividem New York em regiões específicas. Para quem pretende ter uma visão geral da cidade, pode ser interessante pelo menos um passeio naqueles ônibus sem teto que circulam o dia todo e permitem que, com um passe de 20 dólares, você entre e saia do bólido quantas vezes quiser.

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 Outra opção ainda mais barata de locomoção é o metrô, embora eu não tenha gostado muito das estações pelas quais passei – as do Rio de Janeiro são muito mais limpas e agradáveis – mas, por sete dólares você compra um passe para rodar o dia todo (lembre-se, contudo, que você não vê nada debaixo da terra). Se você está acompanhado, considero o táxi a melhor opção: quase todas as corridas ficam entre 10 e 15 dólares e, divididas com mais alguém, ficam num valor bem razoável. Além disso, todas as corridas são aferidas por taxímetro e os taxistas são bastante honestos. Foi assim, com o auxílio de um taxi driver, que cheguei ao número 243W da Rua 63. Esse W indica que estamos na parte oeste da Rua 63, ou seja, estamos do lado esquerdo do Central Park. É nessa região que fica o complexo do Lincoln Center. Saltei na esquina e segui a pé por alguns metros, bisbilhotando os arredores para ver se havia alguma referência ao meu pianista predileto. Curioso e solícito como todo porteiro albanês, o porteiro do prédio veio ao meu encontro e eu lhe expliquei que estava ali apenas para fotografar a residência de um grande músico de jazz. Para minha surpresa, ele não apenas sabia que ali havia morado Thelonious Monk, como também me informou que a praça, no fim da quadra, recebeu o nome do músico. Depois de algumas fotos e algum silêncio monkiano, segui até a praça, sentei num banco, fumei alguns cigarros, dei algumas voltas, mas não encontrei nenhuma placa com o nome do mestre. Vi apenas uma escultura em bronze com um hipopótamo de cabeça para baixo. A estranha obra muito me lembrou Monk, um homem que sempre atendia ao telefone dizendo “Monk não está”.

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Feliz da vida, segui para o 312W da Rua 77. Foi ali que Miles Davis vivia quando compôs Bitches Brew e muitos outros álbuns importantes. Mas seu período ali não foi apenas criativo. Foi nesse endereço que Miles também viveu um longo período de loucuras: sem tocar o trompete, limitava-se a comprar 500 dólares de cocaína por dia e transava com todas as mulheres que pudesse arrastar para seu apartamento. Notei que no edifício não havia vaga para sua Ferrari amarela. Aliás, 99% dos edifícios de New York não possuem vagas de garagem. Como a noite vinha chegando, corri para o último endereço do dia: o 26W da Rua 87. Já na esquina pude ouvir alguns pássaros cantarolando, numa espécie de boas-vindas da minha cantora predileta: Lady Day. A iluminação fraca do sol se pondo e das luzes se acendendo criou uma espécie de corredor onírico e, confesso, a emoção foi forte. Billie Holiday viveu ali seus últimos e mais sofridos anos, praticamente abandonada e esquecida. Passava os dias vendo TV e fumando alguma maconha que os amigos lhe arranjassem. Já doente, foi presa ali mesmo, em sua casa, acusada de posse de heroína. Abatida psicologicamente, enfraquecida pela má alimentação e pela cirrose, Lady Day foi algemada na cama e teve seus livros, flores e rádio confiscados. Morreria logo depois.

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Somente o vento gelado foi capaz de me arrancar da presença de Billie. Era preciso prosseguir: logo mais haveria Mike Stern no clube mais velho de New York, o 55Bar, inaugurado em 1915, antes mesmo da Lei Seca aterrorizar Mr. Salsa. Com sua famosa pipoca gratuita, ambiente agradável e despretensioso, o 55 Bar apresentou um Mike moderno demais para as fotografias do dia, embora, em alguns momentos, esse monstro da guitarra tenha feito boas referências ao seu álbum que mais me agrada: Standards And Other Songs, lançado pela Atlantic em 1992. Para os amigos, deixo a faixa Straight, No Chaser, logo acima, em nossa nova Radiola Jazzseen.

12 comentários:

Anônimo disse...

Isso aqui é um blog sobre jazz ou sobre turismo???

Salsa disse...

Projeto niuiorque 2009. Lester de cicerone. Hoje eu não bebi nem uma gota, só pra economizar.

Salsa disse...

PS - a nova tecnologia sonora ficou muito bacana. Beleza, mesmo. Valeu, Lester.

Anônimo disse...

tbm quero ir!

Anônimo disse...

Prestem bem atenção para o primeiro comentário acima feito por um tal de predador jr. que não tem nada a ver comigo. Jamais faria tal indagação. Apesar de minhas discordancias com o sr Lester ele, após sua viagem , está contando a sua trajetória e mostrando através da mesma e de fotos, um pouco da história do jazz nos Estados Unidos, que deveria ser um bom aprendizado para elementos ignorantes como esse tal de predador jr.

Anônimo disse...

Concordo; as narrativas do Lester têm sido ótimas. Espero tb poder fazer parte da "caravana NY 2009".

Roberto Scardua disse...

Grande Lester! Não sabia que tinha retornado. Depois me conte as novidades.

Grande abraço, Beto!

John Lester disse...

Oi linda. Hoje, depois do Clube. Ok?

Anônimo disse...

Isso aqui é um blog de turismo, de encontros ou de jazz?

Anônimo disse...

Parece engraçado, mas é ridículo e triste estes elementos tipo "predador(o legítmo)", "predador jr".,que se utilizam de práticas obscuras , para expressarem suas opiniões esdrúxulas e deselegantes tentando desmoralizar, fazendo observações não condizentes aos idealizadores deste blog. Isto se chama falta de caráter. Arrangem um pseudonimo para descarregarem as suas babaquices sem utilizarem o nome de outrem. Apesar de minhas divergencias no campo do Jazz com o sr.Lester e sr.Salsa, minhas críticas estão restritas tão somente ao campo jazzistico. Jamais baixei o nível , fazendo observações pessoais de cunho ofensivo. "Os neófitos e ignorantes devem primeiro aprender para depois criticarem". Os sem caráter, tipo "predador jr" e "predador(o legítmo)" o nosso desprezo.

John Lester disse...

A temperatura se eleva a cada post.

Delícia!

Internauta Véia disse...

2007!!!

Que coisa boa o Jazzseen!

Continua,Mr.Lester!