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Ir a New York e não visitar algum museu é o mesmo que ir à Vitória e não assistir a uma apresentação de congo. Segundo o amigo Pedro Nunes, para nos iniciarmos em congo devemos estar devidamente embriagados com alguma boa cachaça de São José do Calçado, sob pena de não apreciarmos os belos e harmoniosos sons emanados daquele emaranhado de tambores, reco-recos e latas de goiabada. Em casos mais simples, como o da exposição Spanish Painting: From El Greco To Picasso, recomendo a mais absoluta abstinência. A sobriedade ajuda a curtir a coisa toda que se passa no Guggenheim, aquele que, para mim, é o museu mais interessante de New York, talvez em grande parte pelo atraente projeto arquitetônico em forma de caracol, obra do genial Frank Lloyd Wright. Tenho certeza que Fernando Achiamé, sócio-projetista do Clube das Terças, aprovaria.
Gosto de subverter a ordem padrão de visita, subindo o elevador até o último andar e voltar descendo a lisa rampa em espiral, ao contrário da maioria, que a sobe. Isso implica em você começar a visitação pelo fim, o que não importa muito se você, como eu, não é nenhum especialista em arte. E tem ainda o aspecto físico: a descida fácil torna as obras de arte ainda mais bonitas e simpáticas. Confesso que estava ansioso para ver um dos quadros que mais me fascinam desde a infância: A Visão de São João, pintado por El Greco.
Embora a exposição tenha sido idealizada de forma a contrapor o barroco espanhol com o modernismo de Picasso e Dali, sempre considerei que El Greco é, e sempre será, um modernista. Suas obras estão muito mais próximas de Picasso e Dali do que de Velázquez, Zurbarán ou Ribera, todos presentes na mostra. Mas, tenho que confessar: estavam fantásticos os contrapontos estilísticos apresentados pelo museu. Era como contrapor Louis Armstrong com Dizzy Gillespie ou Lester Young com John Coltrane. Para fechar a programação, fui brindado com uma pequena – mas excelente – mostra dos trabalhos de Kandinsky, o professor mais maluco da Bahaus. Lá estavam algumas obras pintadas no perídodo em que viveu nos subúrbios da França (os interessados podem ler mais sobre esses detalhes no site do museu).
Após mais de 3 horas circulando em espiral, nada como um hot dog naquelas imundas carrocinhas de New York. Afinal, ir a New York e não comer hot dog é o mesmo que ir à Vitória e não comer moqueca capixaba. Apesar da imensa suspeita quanto à ação nefasta das bactérias sobre meu organismo, o show da noite transcorreu sem qualquer fermentação extra. Nem mesmo o trio de órgão com um baterista descontrolado afetou meu metabolismo. Aliás, o guitarrista Peter Berenstein estava particularmente iluminado naquela noite no Village Vanguard. Mais tarde, depois do show e andando solitário pelas ruas úmidas de Greenwich Village, percebi como a vida pode ser generosa conosco. Para os amigos navegantes, a faixa The Thrill Is Gone, com Larry Goldings (org) e Peter Berenstein (g). Logo acima, na Radiola Jazzseen.
Ir a New York e não visitar algum museu é o mesmo que ir à Vitória e não assistir a uma apresentação de congo. Segundo o amigo Pedro Nunes, para nos iniciarmos em congo devemos estar devidamente embriagados com alguma boa cachaça de São José do Calçado, sob pena de não apreciarmos os belos e harmoniosos sons emanados daquele emaranhado de tambores, reco-recos e latas de goiabada. Em casos mais simples, como o da exposição Spanish Painting: From El Greco To Picasso, recomendo a mais absoluta abstinência. A sobriedade ajuda a curtir a coisa toda que se passa no Guggenheim, aquele que, para mim, é o museu mais interessante de New York, talvez em grande parte pelo atraente projeto arquitetônico em forma de caracol, obra do genial Frank Lloyd Wright. Tenho certeza que Fernando Achiamé, sócio-projetista do Clube das Terças, aprovaria.
Gosto de subverter a ordem padrão de visita, subindo o elevador até o último andar e voltar descendo a lisa rampa em espiral, ao contrário da maioria, que a sobe. Isso implica em você começar a visitação pelo fim, o que não importa muito se você, como eu, não é nenhum especialista em arte. E tem ainda o aspecto físico: a descida fácil torna as obras de arte ainda mais bonitas e simpáticas. Confesso que estava ansioso para ver um dos quadros que mais me fascinam desde a infância: A Visão de São João, pintado por El Greco.
Embora a exposição tenha sido idealizada de forma a contrapor o barroco espanhol com o modernismo de Picasso e Dali, sempre considerei que El Greco é, e sempre será, um modernista. Suas obras estão muito mais próximas de Picasso e Dali do que de Velázquez, Zurbarán ou Ribera, todos presentes na mostra. Mas, tenho que confessar: estavam fantásticos os contrapontos estilísticos apresentados pelo museu. Era como contrapor Louis Armstrong com Dizzy Gillespie ou Lester Young com John Coltrane. Para fechar a programação, fui brindado com uma pequena – mas excelente – mostra dos trabalhos de Kandinsky, o professor mais maluco da Bahaus. Lá estavam algumas obras pintadas no perídodo em que viveu nos subúrbios da França (os interessados podem ler mais sobre esses detalhes no site do museu).
Após mais de 3 horas circulando em espiral, nada como um hot dog naquelas imundas carrocinhas de New York. Afinal, ir a New York e não comer hot dog é o mesmo que ir à Vitória e não comer moqueca capixaba. Apesar da imensa suspeita quanto à ação nefasta das bactérias sobre meu organismo, o show da noite transcorreu sem qualquer fermentação extra. Nem mesmo o trio de órgão com um baterista descontrolado afetou meu metabolismo. Aliás, o guitarrista Peter Berenstein estava particularmente iluminado naquela noite no Village Vanguard. Mais tarde, depois do show e andando solitário pelas ruas úmidas de Greenwich Village, percebi como a vida pode ser generosa conosco. Para os amigos navegantes, a faixa The Thrill Is Gone, com Larry Goldings (org) e Peter Berenstein (g). Logo acima, na Radiola Jazzseen.
12 comentários:
Lester, depois fala mais sobre o Village e sobre o show, ok?
Abraços!
A"radiola" está sensacional!! Parabéns!!
Cultura + Jazzseen + Hot Dog + Lester = "Tudo de Bom"
Ei, to conhecendo o blog agora. Muito bom, parabéns pelos artigos.
Lester, depois recomende o baterista ao Reinaldo, pres do CTF.
É quase isso vinicius. Só que eu subo de elevador e, depois, desço.
Valeu Olney!
JL.
Lester, de que álbum vc tirou essa faixa?
Murilo, o álbum é As One, lançado pela Palmeto.
JL.
Muito bom esse tal de berenstein.
Até quando vai essa cansativa exposição do ego de Mr. John Lester? Menos papo furado e mais jazz!
Sr.Lester, não fiz tal comentário acima.Tem alguns engraçadinhos querendo tumultuar usando meu pseudonimo.Como a coisa está tornando-se insuportável e estou utilizando em demasia o espaço de seus "post" para ficar me defendendo dos falsos "predadores", estou me retirando em definitivo. Qualquer interveção , doravante, pode ter certeza, não foi feita por mim. Muito sucesso a voces idealizadores do blog e adeus!
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