22/02/2007

Texas Tenors

.
Quem mandou você tocar saxofone tenor numa época em que as sombras gigantescas do swing (Lester Young e Coleman Hawkins) ainda estavam bem perto de você? E mais: bem na sua frente haviam as gigantescas muralhas de Sonny Rollins e John Coltrane. Se você tentasse o bebop, esbarrava em Charlie Parker, Art Pepper e Sonny Stitt. Se tentasse o hardbop ou o cool, tropeçava em Dexter Gordon e Stan Getz. A solução, para muitos saxofonistas tenores dessa época, foi mesmo entrincheirar-se no soul jazz, um estilo considerado o primo pobre do hard bop. Embora haja de fato muitos saxofonistas menores nessa seara mais pop do jazz, não podemos negar que grandes músicos andaram por essas estradas mal pavimentadas. Quem pode negar, por exemplo, a competência de um Lou Donaldson ou de um George Adams? E não é outro o caso do grande saxofonista texano Arnett Cobb, um camarada cheio de swing, cheio de blues, dotado de uma técnica excelente e um fraseado extremamente inteligente. Contudo, lá estava Cobb, tocando seu soul jazz num quase anonimato. Depois das passagens por Benny Goodman e Lionel Hampton, Cobb finalmente montou sua própria banda. A coisa estava indo razoavelmente bem até o dia em que ele resolveu dar uma de motorista no ônibus que levava sua banda de lá para cá. Resultado: se esborrachou todo na estrada. Passou o resto da vida com problemas nas articulações e com dores imensas. Segundo alguns críticos, seriam essas dores as responsáveis por seus solos veementes, fortes, pungentes. Mas como explicar suas doces baladas, cheias de tensão e beleza? Coisas do jazz. Para o amigo argonauta, deixo no Gramophone Jazzseen a faixa Smooth Sailing, retirada do álbum de mesmo nome gravado em 1959. Com o mestre esquecido do tenor estão Buster Cooper (tb), Austin Mitchell (org), George Duvivier (b) e Osie Johnson (d). E quero ver Mr. Salsa dizer que não aprova esse tenor rascante do Texas!

8 comentários:

Salsa disse...

Aprovo sim senhor! Tanto que, há algum pouco tempo atrás, eu postei uma faixa do Wild man from Texas. Ele não é nenhuma brastemp, mas dá conta do recado direitinho.

Anônimo disse...

O que estragou o Texas foi a família Bush...

Anônimo disse...

Esses caras vivem com o órgão à mão. Se ainda fosse o órgão da Sheilla...

Anônimo disse...

O sopro e o modo de tocar de Arnett Cobb chegou a ser comparado, por alguns críticos americanos de jazz, ao de Lester Young. Apesar de ser um bom saxofonista, a maioria de suas gravações vem sempre "recheadas" de orgãos e bongôs. Só o nosso Presidente Reinaldo para aguentar.Será?

Anônimo disse...

Agüentar, vírgula, João Luiz. Você sabe muito bem que a minha cópia desse cd hoje está com Rogério Coimbra.

Respeito a opinião de Lester e Salsa em relação a Cobb, mas não em relação ao álbum. Acho imperdoável trocar um piano por um órgão no jazz. Na minha cedeteca de jazz, órgão não entra. E digo mais: se eu gostasse de música clássica, também marginalizaria as peças para órgão. Ô som enjoado.

John Lester disse...

Soul jazz sem órgão seria como bebop sem piano.

ppp disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ppp disse...

Eu realmente havia percebido essa mudança de entonação no som do Anett Cobb, ouvindo apenas 3 albuns. Agora sei o por quê. Na música tem muito disso. Tem também o caso do Frank Zappa que foi empurrado do palco por um fã louco, e ficou seriamente machucado, não somente nas articulações, mas também na região da garganta. Dalí em diante nunca mais foi o mesmo.
Outras desgraças e fatalidades no mundo do Jazz:
http://www.thejazzman.com.au/Page/PagePrint.asp?Page_Id=115

Abraços