Há alguns dias atrás, eu assisti um vídeo com uma apresentação do quarteto de Charlie Lloyd (com Keith Jarrett ao piano e sax soprano). A música na qual Jarrett tocou soprano era uma tremenda improvisação - o tal do free jazz. Eu comentei com Bernardo (fã de carteirinha do Keith) que, apesar de aparentemente cada um estar tocando um coisa diferente, persistia uma certa unidade musical (a tonalidade) que tornava o som digerível. A observação de Bernardo foi sagaz: o problema desse tipo de música é que não dá para ouvir duas vezes - a segunda audição deixa de ser improviso. É como você ouvir um discurso falado e, depois, alguém tendo copiado, você lê-lo com cuidado: dificilmente a transcrição o agradará. Pois bem, depois do papo, tentei, mais uma vez, ouvir outra rapaziada ousada musicalmente. Peguei três discos do Dewey Redman e tentei ouvi-los. Qual o quê - não rolou nenhum sentimento. Dentre os três discos (Red & Black In Willisau, The Ear Of the Behearer e, por fim, Tarik) eu preferi ouvir os discos do Joshua (seu filho). A insistência de Dewey em tocar aquele instrumento (musette?) que soa como um ornitorrinco que engoliu um oboé é, para mim, incompreensível. Aliás, eu até compreendo o esforço experimental dessa rapaziada, mas isso só reverbera na academia (para alguém que pretende escrever um tratado metafísico sobre as possibilidades do som). Obviamente, alguma coisa desses experimentos é absorvida por nós, populacho de plantão - principalmente no que se refere aos instrumentos, sons e formações estranhas (como é o caso de sax e bateria, do disco com Ed Blackwell). Você, navegante apreciador de alquimistas, poderá encontrar alguma coisa de Dewey em outro blog. Boa sorte.
7 comentários:
Depois vem Lester dizer: "Quem pode reclamar da vida com amigos como o João Luiz?". São "coisas" como estas mr.Salsa que não me deixam ficar sem tomar uma "pilha" e criticar. Só a presença de Ed Blackwell, em qualquer disco ,deixa os amantes do jazz de cabelo em pé. Predador neles.
dewey foi um desses espíritos indômitos que não se dobram às exigências da patuléia. Esse fato,por si só, faz com que ele mereça o nosso respeito.
é verdade, é verdade
Se não tivesse se dobrado as exigencias da patuléia, estaria fazendo jazz até hoje e não essa porcariada que toca que ninguem sabe o que é. Tem alguém "viajando na maionese".
Concordo com Vinicius: vamos respeitar sem ouvir.
Levemos a questão pra outro campo artístico. Acho Finnegans Wake, de Joyce, uma experiência literária fundamental. Acho a tradução que fizeram pro português um empreendimento histórico pra ficar nos anais da ciência da tradução literária. Mas quero distância de ambos: em nenhum deles encontraria o bom e velho prazer da leitura.
Quanto a Ed Blackwell, concordo totalmente com meu correligionário João Luiz. Não dá pra agüentar baterista tirado a revolucionar o seu instrumento. Ou ele assume o humilde mas essencial papel que lhe cabe na cozinha ou, no que me diz respeito, morre.
Abaixo a democracia na música.
Não é à toa que estou baixando da Internet umas faixas de trio com Dick Hyman, Howard Alden e um baixista. Ou seja, o velho formato inaugurado (ou, Lester que o diga, teve alguém antes?) por Nat King Cole e consolidado por Oscar Peterson em sua primeira fase: piano, guitarra e baixo. Terreno seguro: não tem baterista chato pra me aporrinhar os ouvidos.
Prezado Vinícius, o papo sobre Turre rolou no dia primeiro de março. pode ir lá embaixo que tá lá.
Joyce e Cherry...
Fala sério, rs.
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