Eis um nome memorável entre os saxofonistas: Bud Shank. Seu sopro guarda aquela peculiaridade cool que envolvia a rapaziada da costa oeste dos EUA: um som compacto e aveludado emoldurado por frases curtas que, num crescendo envolvente, culmina com frases mais longas e rápidas, denotando uma certa habilidade sedutora: imaginem alguém iniciando um papo com seu objeto de desejo - conversa vai, conversa vem e, pimba!, lá estão envolvidos no vai-e-vem amoroso. O pessoal do bebop, por outro lado, já cai matando: quando a menina se dá conta, já foi atropelada e, atônita, fica tentando lembrar o caminho de casa. Shank, vocês sabem, tem uma queda para os ritmos brasileiros: tocou um tempão com Laurindo de Almeida e, recentemente (vocês podem conferir o comentário no blog charuto e jazz (link aí ao lado), foi lançado um cd com a participação de João Donato. Gostaria, no entanto, de falar de discos mais antigos: o primeiro - Bossa nova, Samba jazz, gravado com Clare Fischer, e o segundo, - Bud Shank & his brazilian friends, com a participação de João Donato, Rosinha de Valença, Sebastião Neto e Chico Batera (ambos estão disponíveis no indefectível Loronix - link aí ao lado). O mote dos dois discos é a música brasileira. No entanto, quanta diferença! O primeiro, apesar de contar com linhas melódicas ineressantes - como é o caso de Samba da borboleta (assinado por Clare Fischer), que efetivamente fez-me lembrar do vôo de uma borboleta - fica devendo em um quesito básico. O disco tropeça na imperícia dos percussionistas gringos quando se trata do nosso swing: tudo, para eles, se transforma naquelas pegadas caribenhas (só falta o grito: HUH!) que, enfim, parece agradar bastante o povaréu do hemisfério norte (creio que eles devem fazer o mesmo juízo quando nos arvoramos em tocar jazz: tudo, no Brasil, vira samba). Talvez por isso mesmo, o disco His brazilian friends soa muito, mas muito melhor aos meus ouvidos de tupiniquim. A pegada de João Donato e a precisão de Rosinha de Valença dão uma consistência ímpar a esse trabalho. Destaque-se o esmero com que Chico Batera conduz o ritmo, devidamente articulado ao baixo de Sebastião Neto. Pena que as faixas, como de hábito, são curtas. Deixarei, desse disco, as faixas Once I loved (carinhosamente e livremente traduzida pelos meus colegas de boteco como "A onça que eu amei") e Sambou...sambou. divirtam-se.
6 comentários:
Muito bom!
Prezado Lester,
A faixa samba da borboleta ficou fora da radiola. Sambou...sambou está duplicada.
naum to ouvindo nada!!!
Bons tempos aqueles...a gente abria o Jazzseen e o som rolava. Agora, nica nica na caneca neca na tibiritiva.Adeus jazzseen, eu vou partir. Quando melhora, piora...Tá muito sofisticado, complicado. Chamem o brigadeiro incendiário Klukluslula pra resolver o Apagão Jazzseen.
Eu tbm não consigo ouvir nada!!!
É, realmente, o som sumiu. Bud foi abduzido. Deve ter sido coisa de Clare Fischer...
Postar um comentário