31/05/2007

Jazz no gueto

Essa nossa paixão pelo jazz é mesmo uma loucura. Foi conversando com Linda Desrosier, uma simpática funcionária do Jewish Museum In Prague, nos idos de 2003, que descobri algumas estórias muito bonitas sobre o jazz feito nos guetos. Um dos maiores músicos populares da Checoslováquia, Kamil Behounek (1916-1983) foi um mestre autodidata do acordeão. Em 1935 conheceu o diretor de orquestra Gramoklub, com a qual gravou, em 1936, para o selo Ultraphon. Também atuou como violinista e compositor. Trabalhou com o cantor Karel Leiss, gravou em 1939 com o grupo Blue Music, liderado pelo baterista Karel Slavík e atuou com os líderes de banda Emil Ludvik, R A Dvorský e Karel Vlach. Em 1944 formou seu septeto, tocando em rádios, gravando e se apresentando com regularidade no Lucena Bar, em Praga. Trabalhou também na Alemanha Ocidental, para onde se mudou definitivamente em 1948 após a revolução comunista na Checoslováquia.

Ao contrário de Behounek, o arranjador checo judeu Fritz Weiss teve mais dificuldade de fazer jazz. Perseguido pelos nazistas, Weiss foi levado para o gueto Terezin e, dois anos depois, para o campo de Auschwitz, onde morreu. Com imensas dificuldades, além de ser submetido à toda sorte de humilhações, a mais simbólica delas sendo a estrela afixada em suas roupas, Weiss sempre lutou para produzir jazz, sua paixão maior. Sujo, mal alimentado e quase sem esperanças, Weiss conseguiu ludibriar o feroz controle nazista, produzindo seus arranjos nada arianos para serem executados por uma banda cheia de 'estrelas'. Assim, sua música sobreviveu à estupidez daqueles anos e, no cd In Defiance of Fate, lançado pelo tal Museu Judeu de Praga (visite AQUI), pode ser ouvida no acordeão de Behounek. Para os amigos, circuncidados ou não, deixo as faixas Na programu máme swing e V lednu je máj, ambas gravadas em 1940. A senha de acesso aos arquivos é jazzseen. E não morra sem visitar Praga, uma linda cidade. Que loucura esse tal de jazz...

6 comentários:

Anônimo disse...

Que figura esse tal de Mr. Lester!

Salsa disse...

Lester, o arqueólogo.

Anônimo disse...

mó véi esse som hein lester!

Anônimo disse...

Jazz, uma arte sem limites, sem fronteiras. No boundary. Essa história de que jazz é "a" cultura americana, é bull shit; talvez nos EUA é onde menos se respeitou o jazz como arte.
Aproveitando a dica do trocadilho, cinco estrelas para essa postagem, esse curiosíssimo registro em Jazzseen.Rica informação.

Roberto Scardua disse...

Concordo com o leitor Rogério Coimbra: enquanto a maioria dos blogs sobre jazz ficam repetindo velhas estórias, que todos nós já conhecemos, o Jazzseen traz sempre grandes novidades sobre essa arte maravilhosa.

Meus parabéns a Mr. Salsa e Mr. Lester.

Anônimo disse...

Nice blog Mr Lester