Max Roach comentou na Jazz Magazine de abril de 1988: "Quando fazia o trajeto Brooklyn-Manhattan School de metrô, vinham-me muitas idéias à cabeça ao ouvir o ruído das rodas dos vagões. É inacreditável os ritmos que um metrô pode produzir quando nos interessamos por percussão." Max foi um dos bateristas encarregados de dar continuidade às contribuições de Kenny Clarke, o baterista que criou o bebop no Minton's com Charlie Parker e Dizzy Gillespie. Foi também o primeiro a utilizar a bateria como instrumento melódico - o curioso é que no dia de sua morte, eu e Reinaldo Santos Neves, após sairmos da reunião do Clube das Terças, conversávamos sobre isso: nós nunca entendemos bem como um baterista tocaria Brasileirinho na bateria. Mas tudo bem, afinal somos ignorantes em teoria musical. A bateria melódica, no meu entender, não passa de um prolongamento das frases rítmicas, com um incremento considerável de variedades de timbres. E Max foi um mestre nesse quesito, sendo capaz de swingar em ritmo 3/4, 5/4 e em outros ritmos pouco usuais no jazz dos primeiros tempos. Tudo isso com a precisão aritmética de um relógio suíço, onde até mesmo o silêncio parecia soar como um tique-taque. Após tocar nas orquestras de Ellington e Basie, Max esteve com Parker em suas gravações históricas de 1945. Mais tarde, em 1953, ele e Charles Mingus estariam no último encontro de Parker, Dizzy Gillespie e Bud Powell. O período seguinte seria marcado pelo trabalho com dois grandes músicos: Clifford Brown e Sonny Rollins, com os quais manteve um dos melhores quintetos de jazz de todos os tempos. Na década de 1960 Max encontra na política um novo fundamento para sua música, que passa a oscilar entre o free jazz e a world music – Mãe África e coisa e tal. É nesse contexto que se recusa a gravar nos EUA, em repúdio às péssimas remunerações oferecidas aos músicos negros. Passa então a lecionar e a produzir experiências com quintetos e sextetos de bateria, bastante associadas à estética de vanguarda – trabalha com Archie Shepp, Anthony Braxton, Manu Dibango, entre outros. Infelizmente morreu antes de montar sua sinfonia de atabaques. Eu ainda fico com seu trabalho mais tradicional que, nem por isso, pode ser considerado menor. Para os amigos navegantes fica o álbum Brown & Roach Inc. , primeiro álbum da dupla para a EmArcy, gravado em 1954 com Clifford Brown (t), Max Roach (d), Harold Land (ts), Richie Powell (p) e George Morrow (b). As faixas são: 1 – Sweet Clifford; 2 – I don’t stand a ghost of A Chance with You; 3 – Stompin’ at the Savoy; 4 – I’ll string along with you; 5 – Mildana; 6 – Darn that dream; 7 – I get a kick out of you. Aqui a gente pode ouvir que Max também sabia tocar macio e com muita categoria. Amém.
3 comentários:
Grande álbum Mr. Lester!
E grande perda para o jazz!
muito perverso esse harold land!!!
Muito bom, John !!!
Postei um de 1958 no meu blog. "Deeds not Words".
Acessa lá ! http://beblogjazz.zip.net
Postar um comentário