Não há mais que falar da atuação de Joshua no Tudo é Jazz 2007 após o depoimento de Mr. Salsa (vide resenha abaixo). Só me resta depor quanto ao melhor show do Festival: a apresentação de Omer Avital, o judeu menos ortodoxo do jazz depois de Gilad Atzmon. Aos onze anos Omer inicia sua formação em violão clássico, o que se refletirá em seu desempenho melódico junto ao contrabaixo, hoje seu instrumento principal. Aos dezessete anos já liderava profissionalmente algumas pequenas formações, elaborando composições e arranjos que denunciavam sua capacidade criativa e realçavam seu virtuosismo precoce no contrabaixo acústico. Mas o domínio completo do instrumento não é o elemento mais significativo na música de Omer. O que mais conta é sua criatividade insaciável e feliz.
Insaciável porque Omer parece mesclar o caráter melódico fornecido por Oscar Pettiford ao espectro violento das dedadas de Charles Mingus para, reunindo-os, elaborar sua própria leitura do que seja – ou do que deva ser – o jazz. Ai se Jimmy Blanton pudesse estar conosco naquele dia 14 de setembro de 2007 em Ouro Preto! Seria como estar no Smalls, o pequeno, sombrio e subterrâneo clube de New York que recebeu Omer em 1994. Rapidamente o garoto estabeleceu-se como um dos mais promissores e requisitados contrabaixistas da cidade, tocando com Nat Adderley, Walter Bishop, Al Foster, Kenny Garret, Joshua Redman, Brad Melhdau, Kurt Rosenwinkel e muitos outros. Desde 1995 Omer mantém excelentes grupos, destacando-se entre seus integrantes o saxofonista Joel Frahm, que o acompanha até hoje e estava presente no show de Ouro Preto. Aclamado tanto pelo público quanto pela crítica, não demorou para que grandes gravadoras se interessassem por Omer: em 1998 assina com a Impulse!, que fecharia suas portas algumas semanas depois, juntando-se às muitas gravadoras desativadas por falta de público consumidor de jazz. Felizmente, em 2001, Omer consegue gravar pelo excelente selo espanhol Fresh Sound New-Talents, com o qual mantém outros projetos ao lado de grandes músicos, como o trompetista Avishai Cohen – que também estava com ele no Festival.
Investindo cada vez mais na composição e no arranjo, Omer tem pesquisado com profundidade a música árabe e a música clássica européia, sendo ora rotulado de compositor da world music, ora compositor erudito (vide suas recentes composições para quarteto de cordas). Seja lá como for, o que testemunhamos nesse Tudo é Jazz 2007 foi um quinteto tocando o melhor post bop que se possa imaginar, repleto de influências explícitas dos mestres do bebop, onde a energia e a felicidade de tocar jazz contagiou toda a privilegiada platéia que lá esteve. O que esses cinco jovens músicos fizeram no palco do Salão Diamantina não é para qualquer um: excelentes instrumentistas que não apenas dominam seus instrumentos, mas que sujeitam-se ao risco do improviso descarado, sorrindo coletivamente dos eventuais – e raríssimos nesse caso – erros a que o jazz nos expõe. Com Omer, Avishai e Joel estavam Jason Lindner (p) e Jonathan Blake (d). Perfeitos, fizeram valer cada ladeira íngreme daquela sinuosa cidade histórica.
Investindo cada vez mais na composição e no arranjo, Omer tem pesquisado com profundidade a música árabe e a música clássica européia, sendo ora rotulado de compositor da world music, ora compositor erudito (vide suas recentes composições para quarteto de cordas). Seja lá como for, o que testemunhamos nesse Tudo é Jazz 2007 foi um quinteto tocando o melhor post bop que se possa imaginar, repleto de influências explícitas dos mestres do bebop, onde a energia e a felicidade de tocar jazz contagiou toda a privilegiada platéia que lá esteve. O que esses cinco jovens músicos fizeram no palco do Salão Diamantina não é para qualquer um: excelentes instrumentistas que não apenas dominam seus instrumentos, mas que sujeitam-se ao risco do improviso descarado, sorrindo coletivamente dos eventuais – e raríssimos nesse caso – erros a que o jazz nos expõe. Com Omer, Avishai e Joel estavam Jason Lindner (p) e Jonathan Blake (d). Perfeitos, fizeram valer cada ladeira íngreme daquela sinuosa cidade histórica.
22 comentários:
Prezado Lester,
Infelizmente você se perdeu e foi parar em Parati - você deixou de assistir o show de Joshua, esse sim, o melhor de todo o festival.
O show de Olmer foi realmente bom, mas o destaque fica por conta do trompetista Cohen (no início do seu primeiro solo eu achei que não iria decolar, devido as notas escolhidas, e me enganei), do pianista Aaron e do band leader (a alegria de Olmer estava visível - o cara brilhou no palco). O saxofonista foi muito econômico (você também percebeu) e o baterista ficou onde devia ficar e não comprometeu. Eu diria que foi a melhor apresentação daquela noite.
o cara tem uma batida perversa hein!
Difícil comparar um trio com um quinteto. Esse tipo de coisa acontece porque certos artistas, no caso Joshua, cobram tão caro por suas apresentações que fica financeiramente inviável trazer o grupo completo. Ganaância do músico ou sovinisse do Festival?
Eu, que estava lá, concordo com Mr. Lester: o quinteto de Omer apresentou o melhor show de JAZZ do Festival.
Apesar de existir a questão financeira abordada, o show de Joshua é originalmente com esse formato. Trata-se de um desafio para o músico repetir a formação tão apreciada por Sonny Rollins. No caso de Joshua, uma clara homenagem ao mestre. Quanto ao quinteto de Omer, justo por ser um quinteto, eu esperava mais(apesar de, como afirmei acima, ter sido um belo show), pois essa formação, creio eu, propicia muito mais segurança aos músicos.
Pois eu acho que entre o show de Joshua Redman e Omer Avital, fico com os dois; ambos simplesmente MARAVILHOSOS!
(Esse negócio de "o melhor" isso ou aquilo - em arte principalmente - é muito subjetivo)
Eu adorei o Quinteto. Bis!!
Mas a graça tá justamente nisso Olney, no bate boca sobre qual o melhor show! Mesmo sem ter ido, fico com o quinteto de Omer.
Uma das caracteristícas de meu povo é pegar um terreno inóspito e fazer dele uma seara de toda a vida.O jazz não iria escapar dessa missão.Eu e minha alma gemêa, pela terceiro ano consecutivo, estivemos "punching the clock" no Smalls,183 West 10th da Setima Avenida, na última semana de julho.Um lugar essencialmente recomendável para se aprofundar na cena jazziztíca de NY na epóca das férias.Com uma média de 15 eventos dia do genêro que a cidade comporta.Sete dias por semana. Gastará , com certeza, menos da metade do q no Blue Note.Uma retificação já assinalada pelos companheiros.O grupo de Redman e o do repertório e projeto atual de seu disco "Back East".Uma homenagem a primeira inciativa , talvez, de desconstruir standarts na história do jazz feita por Sonny Rollins no disco "Way Out West", de 57, com o mesmo tipo de formação.Então é a forma de seu trabalho atual, não uma sovinice dos promotores do festival.Edú
Quando assisti Joshua Redman no Blue Note de New York, ele se apresentou com um magnífico quinteto, além de convidados do naipe de James Carter.
O norte-americano não cai nessa conversa fiada de 'formato alternativo'. Eles querem o que há de melhor, e têm o melhor porque podem pagar por isso.
No Brasil é sempre essa estória de 'formato reduzido' ou então aquela estória de 'pegar' um músico de segunda mão para tapar buraco, conforme já vi acontecer no Free, no Chivas e no Tim.
Os únicos formatos em trio que conheço, e que sempre foram uma tradição no jazz, são: 1) piano, baixo e bateria e 2) órgão, bateria e guitarra. O resto é papo furado de Mr. Salsa e Mr. Edú.
Mr. John Lester está tão correto que nem se dá ao trabalho de responder a certas bobagens.
Putz, não sei onde você anda ouvindo jazz, meu velho. Mas você está bastante desinformado. Peça ao Lester, que é nossa enciclopédia e gosta de se dar ao trabalho, para mostrar o seu engano radical.
Prezado Sr.Heleno, vossa senhoria parece estar sendo meio imperativo nas suas afirmações.O jazz congrega todos os tipos de formações , naipes , sonoridades e palhetas.Isso q lhe concede a magia e a desenvoltura pra ser considerada a maior contribuição artistíca dos EUA ao sec XX.Não é um projeto fechado.Os trios de piano, baixo acústico e guitarras foram precursores e depois substituídos pela bateria,num determinado período ,conforme a necessidade e o talento dos envolvidos.Vide o extraordinário Nat King Cole Trio.Sonny Rollins, ,o maior sax tenor de todos os tempos, ja contemplava a formação utilizada por Redman, em 1957 ,e estabeleceu parametros históricos nos clássicos concertos do Village Vanguard neste mesmo ano.Nessa formação, q é quase uma corrida de maratona para o músico de sopro.A ausência do piano em desenvolver as harmonias,faz com q ele necessite do suporte indispensável do baixo para que possa desenvolver as flutuações melódicas.E , impossivel , não citar tb o trabalho de Jimmy Giuffre(saxes , clarineta e flauta), em contexto de trio, com Paul Bley (ao piano)Steve Swallow(baixo)q em 1961 desenvolverão as abstraçoes nas tonalidades como movimento de dissociação da sonoridade West Coast.O modelo serve a todos os preceitos, só depende da sofisticação e maestria em utilizá-lo.Somente uma coisa :a meu ver soa estranho um músico cujo trabalho mais recente contempla a formação em trio, aparecer de forma diferenciada. Assistí,tb, ao Joshua Redman por três oportunidades em São Paulo ,NY(Village Vanguard )St Louis.Neles as formaçoes eram diferentes, as propostas de trabalho distintas e o tempo oscilou entre as datas.Assim é o músico moderno e atuante, sempre dinâmico e em constante evolução.Agora, sugiro q o editor-chefe dedilhe suas teclas argumentativas com todo o conhecimento q lhe é justificadamente creditado, como sugeriu o editor executivo do Jazzseen.Edú
Prezados amigos Mr. Salsa e Mr. Edú, prefiro me abster dessa contenda. Ao que tudo indica, o tempo está quente em Santa Catarina!
Lester ,sabiamente, declinou incinerar combustão numa opinião irredutível.Só lembrei, após mandar meu post, do Benny Goodman Trio.Uma unidade de 3 músicos q se aliava ,em determinadas ocasiões, durante as apresentações da big band.Com o líder ao clarinete, Teddy Wilson(piano)e Gene Kruppa(bateria),em 1938.Fizerão uma música q se traduz de forma absolutamente livre , genial e moderna até hoje.Cumprindo a função mais sublime da música , pra mim, a sua atemporalidade.Formação tipíca q causa "caláfrios" no nosso prezado Sr.Heleno.Edú
Incrível como os acadêmicos do jazz esquecem em que condições essa forma de arte nasceu e se desenvolveu. Como disse Monk: menos é mais.
Sem dúvida o show de Omer não teve rival nesse Tudo é Jazz 2007. Agora é aguardar o próximo.
o trio foi mais que o quinteto
Alguem foi até o Largo do Rosario conferir as atrações que por lá se apresentaram?Músicos da melhor qualidade...Nivaldo Ornelas e Monte Pascoal,Juarez Moreira Trio,Célio Balona Quinteto,Toninho Ferragutti e cordas,André Dequech Trio,Cliff Korman e Jorge Cutello e para terminar com chave de ouro o Tudo é Jazz 2007 Maria Schneider com uma orquestra de 22 músicos brasileiros!!!INESQUECIVEL.Quem não foi ao Largo do Rosário perdeu a oportunidade de ver excelentes músicos...Parabéns a organização do Tudo é Jazz . Nota mil...
Prezado Anônimo, não devemos esquecer do trombonista Vitor Santos. Concorda?
Grande abraço, JL.
O vitor mandou um e-mail e foto para Osvaldo, no mpbjazz.blogspot.com
Na próxima vez eu vou curtir mais um pouco as ruas de Ouro Preto
Prezado Lester,falha minha,me esqueci de mencionar:Vitor Santos,Cleber Alves,Chico Amaral,Magno Alexandre,Daniel Alcantara,Toninho Ferragutti,André Limão e toda a banda que tocou com a Maria Scheneider.Viva os músicos brasileiros!!!!!!!
Claro Lester,Vitor Santos,Cleber Alves,Chico Amaral,André Limão,Magno Alexandre,Daniel Alcantara e todos os outros músicos que tocaram com a Maria Scheneider.Viva os músicos brasileiros!!!
Prezado Anônimo, vivas ao bom músico, seja ele brasileiro, coreano, africano, iraqueano, chinês ou yank.
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